domingo, 2 de junho de 2013

Crítica à palestra "A Origem da Vida" de Marcos Eberlin

      Estive na palestra aberta ao público do químico Marcos Eberlin, "A origem da vida", resumindo, ele defende o universo criado e regido por um criador inteligente (intelligent design) e se coloca categoricamente contra o evolucionismo; apesar de na palestra ele não usar o conceito "deus", afirma que pessoalmente acredita que o criador inteligente é o deus bíblico, Javé. Ele ao menos teve o pudor de não defender abertamente o refutado mito do criacionismo narrado no livro de Gêneses – tudo em tal mito é contraditório à ciência, uma das muitas coisas cômicas e grotescas, p. ex., é a alegação de que os vegetais foram criados antes do Sol e das estrelas (Gn 1; 11-16). Em suma, a palestra serviu apenas para ver o nível de fantasia em que vive os afirmadores do criacionismo pseudo-científico. Segue crítica abaixo.

      Antes de mais nada, gostaria de criticar a postura dos organizadores da palestra: eles não abriram para o público participar, ao invés de passar a palavra àqueles que se inscrevessem, deram apenas um pedaço de papel para formular questões, que nem mesmo foram lidas ao final, pegaram somente as partes convenientes e censuraram os argumentos contrários. Tal atitude foi uma das mais absurdas que presenciei, estou acostumado a participar de palestras de grandes nomes – como: Charles Taylor, Ferreira Gullar, Dominique Losurdo, Rubem Alves, Fernando Novais, Moacyr Scliar, Zuenir Ventura, Drauzio Varella, Padre Mac Dowell, Craig Thompson, Frei Betto, Leonardo Boff, Sebastião Trogo, Peter Bornedal, Sérgio Cardoso, Luís Giffoni, etc –, e jamais vi uma palestra digna que não desse a palavra ao público, sobretudo na UFMG. Usaram nosso espaço e mesmo assim contrariaram a maneira que nos portamos na Universidade Federal, a saber, sem censura e todos no mesmo nível para fazer colocações. Cabe ressaltar a postura do apresentador da palestra, um sujeito que eu não sei o nome, nem sei se é da casa, o cara parecia um "Sílvio Santos gospel" achando que estava no tapete vermelho do Oscar, querendo aparecer mais que o palestrante, puxando saco do último de forma indescritível – acreditem, caberia um comentário a parte só sobre os sapatos do cara, mas os pouparei. Tal ambiente parecia mais uma igreja, não só pelo público esmagadoramente cristão, mas por podar opiniões contrárias. Lamentável. Só faltou recolher dízimos e ofertas no final! (Nesse ponto isento o palestrante Marcos Eberlin, este se mostrou aberto para responder às questões privadas daqueles que chegaram até ele depois da palestra, inclusive recebeu-me educadamente no final, diga-se de passagem que alguns ficaram lá para escutar minha questão e de outros, o que deveria ter sido feito durante a palestra, portanto, a censura relatada cabe tão somente à péssima organização da ALEF - TAV).

        Pois bem, vamos às críticas sobre a palestra:
      Para começar, não se trata de uma palestra científica/acadêmica, os temas são abordados de forma muito rasa, sempre só pegando o básico e num linguajar voltado para pessoas sem qualquer conhecimento na área, é mais infantilmente didática que argumentativa. Não foi apresentado se quer um artigo científico como referência, não foi trago um estudo ou pesquisa séria, mas apenas opiniões jogadas ao ar, com desenhinhos e videozinhos simplórios para, sinceramente, alunos do ensino fundamental e olhe lá!

     Trata-se de uma palestra pautada na emoção, ridicularizando opiniões contrárias respaldadas em séculos de pesquisa, sem quaisquer refutações sustentáveis (e o público só faltando gritar aleluia). Por exemplo, logo no início, é passado um vídeo para louvar (e a palavra é esta mesmo, louvar!) as criaturas do universo, sobretudo o homem, afirma que o mesmo é uma "máquina perfeita" – se esqueceram da nossa frágil coluna, um péssimo artefato de engenharia para um bípede ereto, das doenças, anomalias genéticas, deformações, vírus e bactérias que nos matam sem o menor esforço. Passam a visão antropomórfica do mundo como se tudo fosse perfeito à luz do que o homem considera belo e bom.

      A seguir, ele usa vários desses exemplos simplórios para afirmar que estamos diante de unicamente duas hipóteses quanto à origem do universo: 1- Trata-se de um criador inteligente, ou 2- Trata-se de forças naturais. A palestra tem tais como pilar, o que já é um erro, pois não estamos apenas diante dessas hipóteses. Primeiro, as duas coisas podem ser uma só, como na visão Panteísta (Spinoza), p. ex., o "designer" não precisa estar fora das forças, tal pode ser um com elas. Segundo, filosoficamente, a criação não é algo necessário, haja visto a teoria atomista (Demócrito), onde nada foi criado, sendo os átomos e o vazio eternos – pode-se argumentar que mesmo nessa situação é necessário pensarmos numa configuração primeira de tais átomos, ou ainda que fora necessário algo para tirá-los da inércia, de fato, são argumentos a se considerar, mas ainda assim não implica que tal causa do movimento tenha sido algo fora do universo, é perfeitamente possível imaginar "átomos autônomos". Terceiro, a criação também pode ser colocada em suspensão quando reconhecemos que o observado empiricamente pode ser mera ilusão, meu cérebro pode estar numa cuba, similar ao filme Matrix (1999); ainda, pode-se afirmar que a ilusão na cuba teve um início, de fato, mas isso não implica que algo fora criado além de "mim", podem ser imanências do meu ser. Quarto, sabemos que ciência é sempre dos fenômenos, nunca da "Coisa em si", como bem demonstra Kant, quanto à última, estamos fadados à ignorância, pois não existe ciência pura, isso é ilusão, toda a ciência que fazemos é necessariamente contaminada pela perspectiva humana, não importa se estamos usando o melhor macro ou microscópio, sempre é o olho humano por trás, mesmo usando o melhor acelerador de partículas, sempre é o homem a observar os dados.

      Ele falou muito sobre como é raro nosso planeta, como é singular a vida na Terra, como tudo está ajeitado de acordo e coisa e tal; é verdade, mas ele compara isso a ganhar inúmeras vezes na loteria, usa a velha analogia dos dados sempre caindo com a mesma face para cima para alegar que tal não pode ser obra do acaso. Mas esse não é um bom argumento, não só devido ao fato de que o universo é um ambiente extremamente hostil  – e não precisamos adentrar em teorias cosmicistas ou nas ideias mórbidas e assustadoras de, p. ex., Philipp Mainländer, mas apenas ver como as forças físicas são deletérias para os seres vivos que conhecemos , mas sobretudo porque alguma formação teria que haver nele, não importa se é uma em um trilhão, alguma teria que estar lá, não há nada de espetacular nisso. Conhecemos apenas a formação em que vivemos, logo, não temos como ajuizar sobre as (possíveis) infinitas outras.

      Uma das coisas que ele ridiculariza, ou melhor, tenta ridicularizar, sem apresentar qualquer fundamento, apelando tão somente para a emoção, são as hipóteses de como a água se deu na Terra e como a Lua surgiu, entre outras. Não só uma vez ele perguntou se "acreditamos em Papai Noel" ao trazer as melhores teorias científicas da atualidade ao tema. Curioso que ele nega as teorias mais plausíveis vigentes sem apresentar qualquer outra no lugar, se resume a dizer que foi obra do "criador inteligente". Ele alega que defende uma ciência racional (usa a expressão "Ciência com C maiúsculo") e respaldada na experiência. Ora, como é possível um químico defender que átomos (entenda-se por tais: elemento primário/elementar indivisível) surgem do nada?! Massa pode se transformar em energia e vice-versa, como nos demonstra Albert Einstein, mas esses elementos que compõem o átomo moderno também não surgem do nada. Pois se ele afirma que a água (H²O) na Terra é criação do intelligent design sem mais, é exatamente isso que ele está afirmando! Sobre a teoria da influência do planeta Júpiter para o acúmulo de água na Terra, ele simplesmente a desqualifica dizendo que, segue suas próprias palavras: "isso é acreditar no São Júpiter, mas vocês não acreditam em gnomos e fadas, certo?". Ele nega as hipóteses do surgimento da Lua – uma parte que se soltou da Terra, ou um planeta pequeno que se chocou com o nosso –, sem demonstração contrária, sem apresentar qualquer outra no lugar, dizendo tão somente ter sido "obra das mãos do criador inteligente". Como alguém que diz tomar a ciência e a experiência como base acredita que algo surge do nada? Quando foi que se observou algo surgindo do nada para levantar tal hipótese?! Qual evidência real apresentada?

    Deus é sempre a resposta mais fácil para "resolver" qualquer problema, nada como dizer simplesmente "foi deus que fez" mediante o desconhecido. Ao se descobrir os mecanismos de um fenômeno qualquer, deus perde o mérito como causa de tal – como diz o físico Neil DeGrasse Tyson, "deus é um bolso cada vez mais vazio". O Marcos Eberlin não usa o conceito "deus" na palestra, como já dito acima (usa sempre "criador inteligente"), contudo, não se saiu bem ao argumentar contra o God of the gaps (Deus das lacunas), se resumindo a dizer que era a melhor explicação, sem apresentar qualquer fundamento sólido. Vejam, mesmo que se explique algo, como, por exemplo, os mecanismos físicos dos raios (ele traz esse exemplo na palestra para dizer o que são forças mecânicas naturais), não podemos descartar Zeus por trás; para o Marcos, podemos sim. Ele diz apenas que Zeus não é a melhor explicação, mas desde quando uma explicação melhor refuta cabalmente a "pior", sem mais? Claro que não estou aqui falando que devemos levar a hipótese de "Zeus lançador de raios" a sério, o que estou afirmando é que não temos como falsificá-la simplesmente por explicar o mecanismo que leva a tal, pois Zeus pode ser o criador do mecanismo – certamente não temos qualquer motivo para levar essa hipótese (mística) a sério, pois podemos explicar tal de forma bem mais simples, só por fenômenos físico-químicos, é a conhecida Navalha de Ockham, mas essa orientação para tomada de decisão, proposta por Guilherme de Ockham, não falsifica por si só outras hipóteses menos plausíveis. Ademais, a teoria do criador inteligente é infalsificável, pois, independente do que ocorra no mundo, os que acreditam nesse criador podem dizer que é obra dele; ora, desde Karl Popper, reconhecemos que o que não é passível de falsificação não pode ser tomado como teoria científica, pois não existe teste para refutar tais alegações, nem evento possível ou imaginável capaz de contradizê-la.

      O Marcos afirmou, fez ilustrações e usou várias metáforas para dizer que a vida conforme existe não aconteceria simplesmente com o tempo. Mas como alegar isso se o que conhecemos do universo é tão ínfimo? Como negar a atuação de uma força natural que ainda não conhecemos, que pode elucidar tudo?! O fato de não sabermos como a vida surgiu (de fato a biogênese é uma ciência incipiente), não nos dá o direito de afirmar que tal não pode ter surgido de forma natural, apenas não sabemos, logo, a atitude racional e sincera é suspender o juízo, não afirmar que é obra de um ser que não se manifesta no mundo. Pode ser obra de semelhante ente? Sim; assim como pode não ser o caso, por isso a única posição sustentável é a cética.

      Ele ainda fala que a vida é coisa rara e por isso somos "obra prima" de um criador. O que é, mais uma vez, insustentável, pois chamamos de vida a vida que até hoje observamos, a saber, compostos complexos de proteínas e água. Mas, logicamente falando, não temos como descartar outras formas de vida, o fato de apenas conhecermos vida com aminoácidos não implica que não exista outras formas de "vida", sem os mesmos. Como refutar a possibilidade de existir seres vivos que são compostos de fogo, de chumbo, ou de areia? Por mais que pareça ficção científica, o "homem-fogo" logicamente pode existir, seria tão somente uma forma de vida completamente diferente do que conhecemos.  Vejam a ilustração do filme Avatar (2009), naquele planeta seres vivos respiram gás carbônico, o que nos mataria, certamente a constituição bio-química daquelas formas de vida são bem distintas das que conhecemos – antecipando possível fala contrária e a respondendo: o filme é ficção, claro, mas traz um cenário, ou semelhante, que pode de fato existir em algum lugar do universo, em um ambiente distinto do terrestre. Mesmo o que afirmamos ser impossível de ocorrer hoje, pode não ter sido em um passado remoto. Nada garante que o futuro repita o passado, como demonstra o filósofo David Hume (a propósito, Hume tratou dessa questão do design há séculos atrás, mostrando que tal não se sustenta, no livro "Diálogos sobre a Religião Natural"; nada de novo nisso). Sendo assim, não é um bom argumento tomar a complexidade de seres vivos formados de água para afirmar um criador inteligente, outros processos que nem imaginamos poderiam ter como resultado a longo prazo seres vivos complexos, distintos de nós. A vida (complexa) é fascinante por si só? Sim. Mas o próprio termo "fascinante", ou outro que o valha, está sobrecarregado de antropomorfismo. A vida conforme a conhecemos nos causa fascínio, mas só, se trata da limitada perspectiva humana; daí o resto são hipóteses e/ou ilusões. Elas são como são.

    Rapidamente o Marcos negou a teoria do Multi-verso ou das "Cordas", mais uma vez, sem apresentar quaisquer argumentos válidos. Para quem não sabe, a última elucidaria muito bem todas as teorias tomadas pela ciência atualmente, uniria a física quântica e a relatividade geral, explicando a gravidade, o eletromagnetismo e as outras forças da natureza, ela é mantida em suspensão, pois até o momento não pode ser observada. Ele alegou que tal não é falsificável, mas veja que absurdo, para começo de conversa, a Física não toma a teoria em questão, mesmo ela não sendo contraditória ao observado (antes o explicando), a comunidade científica não a endossa como as outras, por não ter observação que a ateste. Dito isso, a hipótese do criador inteligente deve ser vista tão somente como possível, não como necessária.

      Ele ainda nega o tempo geológico da Terra (sinceramente, como um cientista pode negar o tempo geológico da Terra em sã consciência, dizendo que, em vez de bilhões de anos, a mesma possui alguns poucos milhares?! Todas as evidências refutam tal. Ele tinha a obrigação de saber como funciona a datação radiométrica de meteoritos, mas pelo visto nem da datação pelo Carbono-14 ele entende, já que acredita em uma Terra tão ridiculamente jovem. Isso sim é mais absurdo do que acreditar em Papai Noel!), do universo, dos animais e nega sobretudo o evolucionismo (como dizer que nós e os animais contemporâneos surgimos do nada exatamente como somos hoje, num passe de mágica?! Ora, quando foi observado algo semelhante a tal?! Simplesmente negam todos os fósseis e evidências biológicas para se defender um conto-de-fadas) – todos os pontos sem apresentar um estudo científico de fato, se resumindo a citar uma ou outra frase de cientistas, e vira e mexe cai em contradição. [O sujeito defende "leis" bio-físicas como algo imutável (o que evidentemente é questionável na teoria do conhecimento em Filosofia) e acredita em Jesus andando sobre as águas! Como assim?!]. O apelo à emoção nesse ponto é totalmente visível, nega os inúmeros dados paleontológicos sobre a evolução do homem, basicamente afirmando sem mais que não somos como os macacos, fazendo piadinhas como um pastor analfabeto. Deu números errados ao dizer que nossa semelhança com os grandes primatas diminuiu, disse ser 80%, quando na verdade estudos sérios recentes chegam a afirmar que temos, p. ex. com os macacos bonobos, 98,7%. Não tocou no fato de que eles têm apenas dois cromossomos a mais que a gente, conseguem andar eretos, agem de forma social, usam linguagem, ferramentas, têm o cérebro bem desenvolvido, são onívoros como nós, mas deixa pra lá. Critica o evolucionismo afirmando que os animais foram todos criados como estão e que a respectiva teoria não explica a origem da vida. Ora, mas explicar a origem da vida (biogênese) nunca foi a pretensão de Darwin com seus escritos! O evolucionismo é as mudanças genéticas que vemos (mutações), e alterações relacionadas com o ambiente (sobrevivendo os mais adaptados), gerando a seleção natural, o que, com milhares, milhões, de anos, moldam as espécies; negar isso é fechar os olhos para toda e qualquer observação no mundo. Queria perguntar ao Marcos Eberlin como ele explica o fato de não haver fóssil do homo-sapiens da mesma época que os dos dinossauros, isto é, na mesma camada sedimentar, já que ele acredita em uma Terra onde tudo existe há tão pouco tempo!... E, ainda que o evolucionismo não fosse tão evidente como o é, na micro e na macro biologia, de bactérias a grandes mamíferos, ainda que venha a se mostrar uma teoria falha, isso não nos daria o direito de afirmar o criacionismo (sobretudo de espécies prontas) sem mais, pois não temos evidência para afirmar o último, sobraria tão somente a interrogação. Outro ponto que vale trazer aqui: sempre é colocado na palestra "o criador inteligente", se realmente fosse o caso, porque não os criadores inteligentes? Ora, simplesmente não consideram a hipótese do politeísmo?!

       Mas falando detidamente sobre o evolucionismo para quem é leigo, a questão das mutações genéticas é algo que veio para explicar a causa da mudança dos seres vivos, muito depois, com aparatos técnicos bem mais sofisticados, mas a seleção natural transformando espécies, proposta já por Darwin, é algo que qualquer um pode perceber. Para deixar bem claro, veja este exemplo: imagine uma espécie qualquer, um grupo de indivíduos sai do seu habitat em busca de comida, eles chegam a uma floresta com frutos em árvores altas, o que logicamente ocorrerá? Aqueles que são mais altos conseguirão pegar o alimento mais facilmente (por exemplo, enquanto apenas esticam o braço para tal, os mais baixos têm que escalar a árvore, digamos). Isso implica em menos gasto de energia e mais probabilidade de sobreviver, entenda-se, literalmente mais tempo vivo também, o que, consequentemente, torna a procriação deles mais fácil; a facilidade de alcançar o alimento proporciona isso. Já os menores, dentro desse cenário, escalando árvores para conseguir o mesmo alimento, correm mais risco, de cair, de serem atacados por uma cobra, ou outro animal, ou mesmo um rival da sua espécie que também está em busca de comida. Com o passar do tempo, a geração daquela espécie ali será composta em sua grande maioria por indivíduos mais altos, já que tais características é passada para a prole e eles procriam mais. E quando não for mais viável a coexistência para os mais baixos, eles migrarão e, se encontrarem um local onde o alimento fica ao nível do solo, ali permanecerão. Ou seja, de um lado veremos indivíduos daquela mesma espécie que são mais altos, do outro, veremos aqueles que são mais baixos. E à medida que o ambiente vai se transformando, as necessidades serão outras, favorecendo uns e desfavorecendo outros, por termos características distintas, gerando outros grupos, variando em cor (que proporciona melhor ou pior camuflagem), força muscular, agilidade, destreza, etc., cada um buscando o espaço que se adaptam melhor. Isso com o tempo transformam uma mesma espécie em várias, distintas. Estamos falando de milhões de anos nesse ritmo, onde cada detalhe pode contar. Nem precisamos entrar em mutação para entender isso, repito, mas depois que descobrimos esse mecanismo genético, encaixou como luva. Dizendo de forma bem sintetizada (só com esse tema daria outro texto), a expressão ou não de um gene depende de múltiplos fatores, incluindo o ambiente, isso já explica muito do que faltava, mas uma mutação genética pode gerar uma cadeia de mudanças, e o princípio de alteração ao longo do tempo, refletido na prole, seria o mesmo.

      A propósito, ele quase ressuscitou o Carl Sagan, Albert Einstein e mais uma galera, eles estão tremendo até agora em suas tumbas! Colocou a foto do Einstein como se esse defendesse o que Marcos Eberlin alega, quando, na verdade, o deus de Einstein, ou o "criador inteligente", para não fugir ao termo usado, era uma só coisa com o universo, deus sendo as próprias leis e natureza do universo, não um ser real paralelo. Infelizmente, o que tem de crente que sai das palestras dele repetindo em coro as baboseiras insustentáveis que ele diz, sem fazer a menor ideia do que estão falando, e ainda achando que agora Deus, Jesus, vida eterna e afins estão provados, não está no gibi! Enfim, ao terminar os sorrisos falsos e a politicagem clichês, foram todos literalmente para um culto em uma igreja evangélica local (dar continuidade ao clima de imposição dogmática medieval); precisa dizer mais alguma coisa?

      E para fechar minha crítica, na verdade essa discussão não tem uma implicação real em nossas vidas, não vemos nenhum ser controlador na vida prática, não vemos só coisas boas e belas no mundo, antes muito pelo contrário; se existem desígnios e propósitos, não os percebemos (e mais, tais desígnios poderiam ser para o mal), logo, não temos nada para afirmá-los. Somos autônomos até que se prove o contrário. Projetada ou não, a vida é efêmera e acaba, o universo volta a ser frio, morto e sem sentido, como "sempre". Se há algo depois, é uma aposta no vazio, irracional, sem qualquer evidência  desejo que está por trás dessas bobagens criacionistas. Não sabemos, mas isso não é motivo para afirmar qualquer coisa. [Discutir esse assunto aqui seria enveredar para outro tema, por isso pararei por aqui, mas para quem tem interesse, posteriormente tratei de tal no meu texto: "O mundo não tem sentido. E agora?"]. Sobre nossa condição, já dizia Nietzsche:

     
"No desvio de algum rincão do universo inundado pelo fogo de inumeráveis sistemas solares, houve uma vez um planeta no qual os animais inteligentes inventaram o conhecimento. Este foi o minuto mais soberbo e mais mentiroso da história universal, mas foi apenas um minuto. Depois de alguns suspiros da natureza, o planeta congelou-se e os animais inteligentes tiveram de morrer. Esta é a fábula que se poderia inventar, sem com isso chegar a iluminar suficientemente o aspecto lamentável, frágil e fugidio, o aspecto vão e arbitrário dessa exceção que constitui o intelecto humano no seio da natureza. Eternidades passaram sem que ele existisse; e se ele desaparecesse novamente, nada se teria passado; pois não há para tal intelecto uma missão que ultrapasse o quadro de uma vida humana. Ao contrário, ele é humano e somente seu possuidor e criador o trata com tanta paixão, como se ele fosse o eixo em torno do qual girasse o mundo." (NIETZSCHE, F. Verdade e Mentira no sentido extra moral. Trad. Noéli Correia de Melo Sobrinho. §1).

      Termino com uma sábia e ponderada frase de Bertrand Russell para refletirmos:


      
"O que realmente as impulsiona a acreditar em Deus não é absolutamente nenhum argumento intelectual. A maior parte delas acredita em Deus porque foi ensinada desde a primeira infância a fazê-lo, e essa é a razão principal. Ademais, penso que a razão mais forte que vem a seguir é o desejo de segurança, uma espécie de sensação de que existe um irmão mais velho a zelar por nós. Isso desempenha um papel profundo na influência do desejo de crer em Deus." (RUSSELL, B. Por que não sou cristão. Trad. Ana Ban. L&PM. cap.1, pág.36).


[ Ps: TUDO o que você precisa saber cientificamente em favor da Teoria da Evolução contra à anti-ciência criação das espécies (aula do professor do Dep. de Biologia da UNICAMP, W. Benson, um dos mais respeitados da área) está neste link:

18 comentários:

  1. Cara, assino embaixo a sua indignação quanto a essa palestra absurda dentro de uma universidade. Lamentável a penetração de teses subjetivas como o criacionismo dentro de instituições tradicionalmente laicas e científicas. Ainda por cima, sem o direito do contraditório, do contraponto. Simplesmente inaceitável, e fico feliz que tenha feito essa denúncia.

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  2. https://www.facebook.com/groups/evoxcria/permalink/503479293043325/

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  3. Obrigado por ter compartilhado.

    Fico triste em saber que a Universidade fez um voto de silêncio sobre o caso, pois encaminhei emails aos departamentos da Universidade e até o momento não recebi respostas.

    Mas já era o esperado e o pior são os alunos não se manifestarem contra...

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  4. Lamentável é a atitude arbitrária de condenar crenças ou posturas como Criacionismo e Design Inteligente como se fossem retrógradas, antiquadas e fundamentalistas. Laicidade é uma coisa, laicismo é outra, totalmente diferente. Se vocês são ateus, respeitem ao menos os teístas. Até porque, há cientistas e outros defensores do design inteligente que dariam um banho nessa baboseira pseudointelectual que vocês propagam. Graças a Deus que nem todos são como vocês. Sem mais.

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    1. Se se tomar por Criacionismo o bíblico ou semelhante (onde todos os animais foram criados ao mesmo tempo, do nada, tais como são hoje), tal não é apenas "retrógrado, antiquado e fundamentalista", mas mesmo ridículo, refutado, infundado e insano!

      Já a hipótese (não crença, pois crer ou tomar como verdadeira uma hipótese indemonstrável sem mais é estupidez) do "Intelligente Designer" é possível, possível, não necessária! Tal pode existir, assim como não pode (como todas as coisas que se possa imaginar).

      Primeiro ONDE e QUANDO afirmamos ser ateus?! Sou AGNÓSTICO, mas você não deve nem saber o que é isso, suspendo o juízo, tomo a posição cética!

      Respeitar os teístas, NÃO é respeitar a crença teísta! Respeito pessoas, NÃO ideias!

      É mesmo?! Você conhece ao menos um desses "cientistas"? O convide a nos refutar, basta clicar em comentários e escrever o quanto quiser, olha que legal!

      Graças a Zeus nem todos são como você²! No mais, não perca a oportunidade de ficar calado meu caro.

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    2. Respeito pessoas e idéias e isso não quer dizer que sou partidário de um ou de outro pois o respeito é uma premissa básica para se estabelecer um debate, no mínimo, a um nível básico de inteligencia.
      Respeito os agnósticos, mas não concordo com seus pensamentos. Tudo dentro da respeitabilidade que os seres humanos são portadores, ou pelo menos deveriam ter.

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  5. Olá meus caros, meu texto também está publicado no blog "Filosofia e Religião" da UFMG:

    http://filosofiaereligiaoufmg.blogspot.com.br/2013/06/palestra-do-dr-marcos-eberlin.html

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  6. E a suas alternativas foram muito boas hein. A segunda diz que o mundo sempre existiu o que contradiz a física avançada atual, a terceira afirma uma "matrix" tão não provada, bobinha, absurda quanto o Deus bíblico e a quarta é um apelo à ignorância: "ninguém pode saber então foda-se". Apenas a Panteísta (Ezpinosa), seria possível em uma discussão séria, e olhe lá.

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    1. Meu caro "Anônimo", primeiro, vá estudar física antes de falar querer falar em nome da mesma: matéria não é algo que se cria do nada, na teoria do Big Bang, toda a matéria que observamos no mundo sempre existiu, apenas estava toda comprimida em um único ponto. Todas as alternativas que coloquei (e muitas outras) são possíveis, em momento algum clamo alguma delas como verdade, como já disse, minha posição é agnóstica. ONDE e QUANDO eu digo que o fato de não termos acesso ao conhecimento de fato, à "Coisa em si", implica um "foda-se"?! Nesse quesito sigo a linha humeniana, a saber, o conhecimento é válido para termos práticos, mesmo não nos dando verdades últimas.

      Sinceramente, alguém como vc não merece resposta, contudo, veja meu vídeo abaixo, falo sobre tal nele:

      CRESÇA 10: Ciência, limitada, mas aplicável
      http://www.youtube.com/watch?v=uo_LUP3j5S8

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  7. Parabens pelo post. Blog excelente. Muito bom.

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  8. Muito boa review.
    Quase fui (é aqui do lado do icex), mas fiquei com preguiça de ouvir mais do mesmo.

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  9. Boa noite,

    É impressionante a perda de tempo de uma discussão mal embasada e que não levam a evolução do pensamento humano, que no máximo abrangem um pouco de pessoas que para posicionar seu pensamento, ataca um pensamento particular, com definições particular, critica a limitação de pensamento, limitando pensamento.
    Creio que é perda de tempo religiosos, deístas, gnósticos, agnósticos, ateus, etc... Se sujeitar a participar de palestras para achar o que refutar, enquanto a ciência deve ser pura e simples sem interferência de seu pensamento particular.
    O Dr. Marcos Eberlin é um cientista fora do normal e digo isto não pelo fato de eu ter estudado na mesma universidade que ele da aula, ou pelo fato de meu pai o conhecer e já ter feito publicação junto com ele, mas pelo fato de seu próprio currículo, publicações, laboratório e honrarias pelas academias de ciências dizem. Porém o pensamento particular que ele leva em paralelo a sua vida acadêmica, não deve o desqualificar como um grande cientista. Isaac Newton foi um grande estudante de escatologia bíblica e nem por isto deixou de ser um grande cientista.
    Nem ateus, agnósticos ou teístas podem defender a verdade cientifica pelo pensamento particular e crenças , e sim trabalhar em paralelo a particularidade dos estudos cientificos como Newton (Protestante), Albert Einstein (Judeu/ Deísta), Stephen Hawking ( Ateu) o fazem, e quando me refiro a particularidades é muitas vezes os problemas psicológicos e até psiquiátricos, como o caso de Charles Darwin e John Nash.
    Os iluministas ganharam muito ao buscar tirar a ciência das garras da religião, para que houvesse um livre pensamento, mas o que vemos é um retrocesso, quando “neoiluministas” buscam usar a ciência para provar a inexistência de Deus, ou a religião buscar colocar a ciência em sua coleira.
    Devemos tratar a ciência como algo neutro, mas não como absoluto, o ser humano tem o livre pensamento de acreditar no que bem entender, seja no Gênesis bíblico, na Caixa de Pandora ou em homens feito de fogo, mas isto não concede uma verdade absoluta a ninguém, pois a verdade é relativa.
    Vamos respeitar a diversidade de pensamento, seja qual for a religião e incluo o ateísmo como religião, pois esta busca religar o homem ao raciocínio logico absoluto.
    Que todos sejam iluminados em seus pensamentos naquilo que acreditam e busquem debates que seja de alguma forma produtiva a progressão humana.

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    1. Primeiro, não “participei da palestra pra achar o que refutar”, embora seja meu dever como Bacharel em Filosofia criticar os lixos que vejo por aí, ainda mais quando tem um monte de gente (pra não dizer “gado”) que segue às cegas as besteiras ditas por um sujeito que se faz de “lógico”; assisti a mesma para ver se seria relevante, o que não ocorreu, não vi na mesma nenhum argumento válido e/ou consistente, nem se quer uma pesquisa séria ele apresentou.
      Segundo, ONDE e QUANDO eu disse que ele deve ser desqualificado simplesmente pelo pensamento particular dele fora da vida acadêmica?! O que fiz é exatamente refutar as merdas que ele disse academicamente, num ambiente de uma Universidade Federal! Ora, o sujeito não tratou de física, química ou biologia propriamente ditas, ele adentrou na minha área, Filosofia, disse um monte de bobagem, afirmou coisas insustentáveis – como demonstro no texto –, e ainda foi aplaudido por um monte de idiotas, evidentemente membros da mesma igreja/seita que o sujeito, que o viam como um deus, realmente crendo que havia alguma ciência nas infantilidades por ele apresentadas.
      Terceiro, não existe “verdade científica”, o que temos são teorias que melhor explicam o observado, sempre abertas a serem falsificadas a qualquer momento. Não existe ciência pura. Contudo, a verdade não é relativa, apesar de não termos acesso ao que diz respeito à “verdade última” das coisas, nos pautamos pelo que observamos e experimentamos, como dizia Hume, os dados gerados por tais é o melhor que temos para julgarmos nossas crenças. Ademais, nossos acordos linguísticos não permitem que qualquer coisa seja aceita como válida, tirar conceitos dos seus respectivos contextos, os faz perder o sentido, como demonstra o famoso filósofo da linguagem Wittgenstein. É ridículo achar que as afirmações sobre o Gênesis ou a Caixa de Pandora estão no mesmo patamar da Física, Química, Biologia e etc., como vc aludiu.
      Respeitar a diversidade de pensamentos, NÃO é o mesmo que concordar com coisas absurdas e completamente insustentáveis! Respeito o direito de a pessoa crer no que ela quiser (mesmo que seja no coelhinho da páscoa, Jesus, ou os Ursinhos carinhosos), NÃO a sua crença! As pessoas têm direitos, NÃO as ideias!

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  10. Nome: Thiago.
    Moisés, a universidade é pública, não são de poucos que defendem algumas idéias.
    Como universidade pública, deve abrir espaço para qualquer opinião. Você também não refutou nenhuma idéia que o Dr. Marcos disse. Você se ateve a ofender tanto o palestrante quanto aos religiosos.
    Você precisa estudar mais física e química para poder abrir a sua mente.
    Aprenda uma coisa, mente fechada não aprende. De nada pela minha dica.

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    1. Sim, e é exatamente devido ao fato dela “não ser de poucos que defendem algumas ideias” que deveria ter sido dado a palavra pra plateia!
      Sinceramente, então você não leu o meu texto – deve ter parado no primeiro parágrafo –, modéstia a parte, refutei todas as merdas que ele disse, e sinceramente, nem foi preciso qualquer esforço para tal.
      Espere as pessoas o agradecerem antes de dizer “de nada”, mas até entendo porque vc necessita fazer isso, pois elas NUNCA o agradecem, né?!... Quem veio aqui e fez só ataques sem apresentar qualquer argumento é vc meu caro, para seu governo, sou Bacharel em Filosofia pela UFMG, tendo como uma das minhas especialidades “Filosofia da Ciência”, sempre estou presente no departamento de Física, Biologia e etc, já fiz vários cursos nessas áreas, se informe antes de vir postar besteira aqui.

      A palestra do Marcos Eberlin chega a ser cômica meu caro, use sua dica pra vc mesmo, abra sua mente e principalmente os olhos!

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    2. kkkkkkkkkkkk Vim aqui só pra rir de um filósofo que diz ter refutado um PhD em Química que está entre os 6 principais químicos da história do Brasil kkkkkkk Entregam diploma pra qualquer um hoje em dia...

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    3. O energúmeno @Augusto Garcia conseguiu se enquadrar em pelo menos três FALÁCIAS em um único comentário, a saber: ad hominem, apelo à autoridade e apelo ao ridículo.
      E seu ARGUMENTO é qual mesmo?! Quer um conselho? Não perca a oportunidade de ficar calado.

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  11. Muito bom os argumentos contrários, mas feito de forma extremamente deselegante. Não sou adepto do Design Inteligente por enxergar tais falhas como as que você apontou, porém dizer que é pseudociência, é uma grande mentira! Design Inteligente é diferente de criacionismo, talvez isso não tenha ficado claro na palestra dele, mas os ataques a teoria são um tanto arrogantes de sua parte. De qualquer forma, foi uma ótima refutação, porém ainda há muito o que discutir.

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