domingo, 23 de junho de 2013

Somos 150 mil guerreiros!

       Hoje, 22/06/2013, mais um dia para se escrever nas páginas da História, mais de 150.000 pessoas foram às ruas de Belo Horizonte - MG manifestarem e protestarem, colocando a cara pra bater, gritando suas reivindicações, mostrando suas indignações. Foi um prazer ter participado desse momento, mesmo passando grandes riscos, sustos e apertos como numa zona de guerra, estivemos na linha de frente, resistimos, permanecemos unidos! Estive com orgulho na luta por um país melhor, mais digno para todos viverem. É nós que construímos o país que queremos!

       Muitos criticam os rumos que as manifestações estão tomando, dizendo que não há reivindicações direcionadas, que não se tem alvos e tal, mas isso é não entender o que se passa: ora, alguém que está com dor agonizante grita, pra depois ver o que acontece, é exatamente isso que o povo etá fazendo, está gritando, clamando por voz! E fato é que agora as reivindicações já começam a se focar e encorpar cada vez mais: contra a péssima qualidade dos transportes públicos, contra os baixos salários, contra a corrupção, contra o descaso para com a saúde e educação, contra a falta de abertura para participação política, contra os altíssimos salários dos políticos, contra os gastos com a Copa, contra as propagandas estatais na TV, contra a exploração capitalista, contra a PEC 37, contra a presidência do Senado pelo Renan Calheiros, contra os absurdos cometidos pelo Marcos (in)Feliciano na comissão de direitos humanos e minorias, contra leis aprovadas recentemente que não concordamos e várias outras. Há quem não faz muita ideia do que está acontecendo? Certamente há, mas se tem alguém bobo é quem pensa que o povo é bobo. Mas estão criticando como se as pessoas tivessem que ter a solução na ponta da língua, ora, esses críticos nunca apresentaram nada e agora estão querendo desqualificar quem tenta?! Façam-nos o favor...

       A mídia já não fala dos protestos, tudo o que focam são os "vândalos", quebraram isso, quebraram aquilo, queimaram isso, queimaram aquilo, picharam isso, picharam aquilo, etc... NÃO entrem na onda da mídia criticando todas as depredações meus caros! Tudo o que eles querem é "cães que latem e não mordem": Não estou fazendo apologia à barbárie, mas tem que ter em mente que uma coisa é depredar o patrimônio público (certamente é dar tiro no pé e não deve ser feito), outra completamente diferente é depredar essas grandes empresas sangue-sugas à serviço da exploração capitalista! Ora, uma agência bancária depredada é um dos maiores símbolos que pode ser feito contra esse sistema podre! Outra coisa, quando o dano ao patrimônio público é uma consequência colateral a um ato de ocupação, não deve ser condenado, símbolos de resistência fazem a força do movimento, como, p. ex., a maravilhosa cena que vimos em Brasília do pessoal em cima do Congresso! Critiquemos aquelas depredações sem sentido e motivo, somente tais são atos de puro vandalismo, não todas como a mídia está dizendo.

       Pois bem, falemos do magnífico ato de hoje: Tinha de tudo entre os 150.000, todas idades, raças, cores e credos, tomamos por inteiro a extensão da Av. Antônio Carlos, do Centro à região do Mineirão, vimos até cachorros e crianças no meio, foi o máximo duas garotinhas cantando sozinhas "ou pára a roubalheira ou paramos o Brasil" na volta (sim, é bonito pessoal, mas não devemos levar esses últimos para a ponta das manifestações, a truculência da polícia não vê cara). Eles não fizeram barreira dessa vez na Antônio Carlos até a Abrahão Caram, a passeata seguiu sem impedimento até o encontro dessas avenidas, território do "Estado FIFA", local onde começou a guerra. O gás lacrimogênio na Av. Abrahão Caram já estava muito forte quando eu comecei a subi-la, pouco tempo depois se tornando insuportável, mesmo colocando a máscara anti-gás que levei não deu pra ficar ali muito tempo, pois mal podia abrir os olhos, logo jogaram mais bombas e tivemos todos que recuar, ficamos então na esquina do cruzamento das duas avenidas, pouco antes do viaduto do anel, alguns companheiros estavam mais a frente na Av. Antônio Carlos, mas logo foram repelidos pela avalanche de gás lacrimogênio, fazendo mais uma vítima com ferimentos graves, outro que estava em cima do viaduto e caiu devido à repressão policial, ele está internado em estado crítico no hospital nesse momento. Ficamos ali no cruzamento por um bom tempo, controlando a euforia das pessoas que vinham correndo em pânico, falando para ficarem calmas e continuarmos unidos. Alguns manifestantes fizeram então uma grande fogueira, subiu uma cortina de fumaça preta, chegando ao helicóptero dos "capitães do mato" que nos cercavam. Nesse momento eles começaram a jogar bombas indiscriminadamente, uma após outra no cruzamento das avenidas, no meio do povo. Começa a guerra.

       Antes de continuar a descrição dos momentos de terror, não posso deixar de narrar um dos fatos mais bacanas e emotivos enquanto ainda estávamos concentrados na esquina: um grupo de bombeiros se uniu conosco nas manifestações, isso mesmo, bombeiros a serviço do Estado, vieram segurando uma larga faixa em direção ao topo da Av. Abrahão Caram, só não prosseguiram porque o gás estava insuportável, mas foi bonito de ver! Seria maravilhoso se eles conseguissem chegar de frente para o Choque, mas de qualquer forma, valeu demais. Está registrado, continuemos os relatos.

       Foi uma correria louca, filmei alguns momentos – isto é, nos que pude segurar a câmera –, os postarei em breve no Youtube. A cada momento a tensão só aumentava, perdi a conta de quantas pessoas passaram carregadas por mim, sem conseguir respirar, ou sem conseguir andar, ou ainda desmaiadas; havia um grupo de médicos e estudantes de medicina voluntários no meio do povo – isso, exatamente como acontece nas guerras –, sensacional ver eles correndo atrás dos que passavam mal ou estavam feridos, ajudando e literalmente salvando vidas. Resistimos o máximo que pudemos, tentando manter a calma a todo momento, o que nem sempre é possível, teve uma hora que a Força Nacional (capachos do Imperialismo que chegaram à pedido de socorro do governador Anastasia) apareceu por trás da cerca da UFMG e começou a atirar balas de borracha e bombas pelos flancos, foi um tumulto só, um perigo enorme alguém morrer pisoteado nessas horas. Eles foram nos atacando com bombas de efeito moral e gás lacrimogênio a Av. Antônio Carlos toda, mesmo quando pensávamos que havia acabado, uma bomba estourava do nada a poucos metros (né Gustavo Simim?). Sinceramente, não sei como o estoque/munição deles não acabou dessa vez.

       Durante o percurso de volta à Praça Sete em meio à bombas, vimos cenas maravilhosas, verdadeiros e legítimos símbolos de resistência (os alienados pela mídia discordavam, houve algumas discussões enérgicas entre nós, mas boa parte deles acabavam logo sendo refutados e convencidos pelos outros): agências bancárias completamente destruídas (fiz questão de parar a bike pra jogar minha pedra numa dessas sangue-sugas do capitalismo, mesmo tendo chegado tarde perto da maldita e os vidros já estavam todos quebrados, acabei de partir um pedaço trincado), grandes empresas de carros importados, mesmo protegidas com maderite, depredadas, outdoors em chamas (todos aplaudimos até doer as mãos quando colocaram em chamas um enorme da Coca-Cola para a Copa), pichações com mensagens conscientes de protestos e inúmeros cartazes de propaganda comercial rasgados! Sei que são meros aranhões para essas exploradoras, mas o importante é que mostramos que o povo tem força, que unidos somos destrutivos para todo sistema à serviço do Imperialismo. Uma bela analogia que podemos usar para tal, dizia Bertolt Brecht: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem". Como já disse, certamente não apoio as depredações gratuitas e/ou que são tiro no pé, como por exemplo muitos pontos de ônibus, semáforos e placas de sinalização que vi quebrados, mas essas não podem manchar as tantas outras significativas que vimos.

       Chegando à Praça Sete, a ocupamos por pouco tempo, pois mais agências bancárias foram quebradas, e, claro, os capachos do Imperialismo chegaram para as defender. Foi a zona de guerra mais sinistra que vi, nunca tinha visto tanto policial junto em um só lugar! Teve um momento que estávamos sem fazer nada, concentrados aonde o trânsito já estava fechado pela própria BHTRANS, no cruzamento da rua São Paulo com a Av. Amazonas, foi só chegando mais e mais viaturas, o pessoal cantando "sem violência, sem violência" e eles começaram a sapecar uma bomba atrás da outra na gente (detalhe, nessa hora tinha deixado minha bike no Maletta, nem dava pra voltar pra pegá-la), uma truculência inexplicável. Corríamos de uma rua do Centro pra outra, lojas fechando portas às pressas, pedras voando o tempo todo, quando vi estava na esquina da rua Rio de Janeiro com Goitacazes, já próximo da onde eu queria chegar, foi quando presenciamos uma cena de covardia extrema: dois PMerdas pegaram uma mulher pra cristo, ela berrava em prantos e eles a arrastavam e puxavam com uma força desproporcional, começamos a gritar "covardes, covardes, covardes" e a pressioná-los, foi quando o filha da puta joga uma bomba no meio da gente, foi uma correria pela Rio de Janeiro indescritível, muita gente largando o serviço, pessoas idosas desesperada com o barulho, eles não deram a mínima! Tentamos voltar para perto da mulher que eles seguraram, mas não dava, o gás não deixava. Minha câmera acabou a bateria, e infelizmente não pude registrar esse momento, mas tinha uma galera filmando, o ato de covardia deles foi registrado.

       Finalmente, encontrei uma amiga exausta pelo tumulto e correria indo embora, essa era nossa cara, exaustão, mas valeu cada minuto de batalha. É hora de mudar esse país! LUTEMOS!
       "Não importa quanto o vento sopre, a montanha jamais se curva diante dele". (Provérbio Chinês).

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