terça-feira, 18 de junho de 2013

Vivendo a História

       Até esse momento o pessoal da minha geração apenas havia lido os grandes momentos históricos, hoje estamos fazendo história. Posso dizer aos meus netos, eu estive lá, eu estava na linha de frente, eu coloquei a cara pra bater, eu participei da guerra, eu lutei para mudar esse país.

       Começaram as manifestações em todo o Brasil, o aumento da passagem em São Paulo foi o estopim que acendeu a dinamite, mas não se trata apenas de protestar por centavos na passagem, e sim por voz! São anos de opressão, corrupção, exploração, expressão reprimida, anos engasgados, vendo uma política distante que comanda de forma arbitrária, calando os oprimidos e os crítico ao sistema vigente a qualquer custo, agora tudo explode! Uma juventude cada vez mais consciente, que tem fortes ferramenta em mãos: a internet (sobretudo as redes sociais e sites de vídeos) e câmeras ligadas a todo momento. Nada mais fica encoberto.
       Estive presente no 1º Ato no dia 15/06/2013, onde quase 10.000 pessoas rodaram as ruas e principais praças de Belo Horizonte protestando contra a exploração e convidando a todos a se unirem em protesto. Deu muito resultado: hoje, 17/06/2013, quase 30.000 pessoas compareceram às ruas e fomos todos seguindo na Av. Antônio Carlos, conhecidos e desconhecidos unidos, em direção ao Mineirão, onde ocorria a partida entre Taiti e Nigéria pela Copa das Confederações. Era um mar de gente, eu andando de bike tive uma visão privilegiada do movimento, fluíamos como um agitado rio pela avenida, ocupando todas as faixas, mostrando que a luta existe, que o povo não se entregou, a revolta proletária ali a todo vapor acontecendo. Protestamos contra os governos de Márcio Lacerda, Anastasia e Dilma, tudo farinha do mesmo saco, todos à serviço do mercado e, de uma forma ou outra, promovendo a exploração capitalista. Contra a FIFA, contra essa Copa feita pra gringo e rico, contra a construção desses estádios palacetes num país como o nosso, com tantas outras prioridades urgindo – quanto dinheiro público não foi desviado nessas obras faraônicas! Havia cartazes com vários protestos e reivindicações, afinal, há muito o que se dizer, contra os baixos salários, contra a desigualdade social, contra o status quo, contra a opressão das minorias, contra esse governo da e para a classe dominante. Bonito de ver o apoio da população, olhando, aplaudindo e/ou soltando foguetes de suas janelas e varandas por onde passávamos; ver motoristas e cobradores de ônibus sair do caro e cantar em coro com o pessoal, tambores, cornetas, apitos, megafones, mostrando que existe alguém crucial que não pode ser esquecido na política: o Povo!
       As manifestações foram pacíficas até próximo à entrada da UFMG, inclusive a Coronel Cláudia estava no meio da galera durante o percurso, sendo muito gente boa com todos, tirando fotos, cumprimentando e abraçando as pessoas. Entretanto, o bloqueio policial (que já havia nos parado por um tempo a alguns metros atrás) ali se intensificou, eles estavam decididos a não deixar-nos chegar próximo ao Mineirão. Eu estava há uns 30 metros desse isolamento, alguns amigos que estavam mais próximo, me disseram que a emoção e tensão nos policiais era tão grande frente aos protestos e clamores da enorme multidão que alguns deles chegaram às lágrimas - "Ei fardado, vem pro nosso lado", cantávamos em coro. A tensão só aumentava em ambos os lados, o helicóptero da PM com um policial carregando um fuzil voando cada vez mais baixo, indo contra todas as regras de um voo seguro. Aí aconteceu duas situações (praticamente simultâneas) que desencadearam a batalha: 1- Alguns "vândalos" (entre aspas porque manifestante não é vândalo) começaram a cortar a cerca da UFMG (esta logo viria abaixo após o conflito) e entraram no Campus; 2- Em meio às convocações da vanguarda para furar o bloqueio policial, alguns trabalhadores locais apareceram querendo passar, dizendo que não estavam no protesto, os policiais não deixaram esses atravessar, o clima ficou ainda mais tenso, até que por uma brecha parte do pessoal seguiu em frente. Nesse momento eles agiram com uma violência desproporcional, lançando uma bomba de gás lacrimogênio atrás da outra e metendo o cassetete, o pânico e o tumulto foi geral. Pessoas assustadas, passando mal com o gás, pessoas caindo, outras sendo pisadas, espremidas, perdi de conhecidos nesse momento; de bike é mais fácil sair da muvuca, mas foi um "pernas pra que te quero" total pra todo mundo (né, Paola? rs). Esse foi o primeiro confronto do dia, o próximo foi muito mais violento. Os repórteres da TV aberta estavam longes demais para ver.
       Pois bem, após um tempo, o gás se dispersou, a multidão recuou bastante e eles acabaram liberando o bloqueio - na verdade eles só liberaram porque o Choque e a Cavalaria já estavam a postos na Abrahão Caram e eles queriam nos encurralar, como de fato aconteceu. Sinceramente, acredite, as minhas palavras serão pouco pra expressar o que ocorreu ali, só mesmo quem esteve presente sabe. Eu e alguns amigos da filosofia estávamos próximo do Choque e da Cavalaria, que faziam o bloqueio na Abrahão Caram (o mais próximo do Mineirão que eles deixaram a gente chegar), quando outro grupo de policiais encurralaram um pessoal em cima do viaduto, o que provocou a queda de um manifestante que se feriu gravemente, e outro batalhão de "capitães-do-mato" vinha descendo a Av. Antônio Carlos, em conflito direto com os punks e anarquistas (diga-se de passagem, esses últimos foram um braço forte no conflito). As bombas de gás lacrimogênio tomavam às avenidas abaixo, nesse momento o Choque e a Cavalaria ameaçavam descer, mas antes disso, muitos resolveram ir ajudar os companheiros em conflito. Quando eu desci, chegando lá, vi que o tumulto era muito maior do que parecia lá de cima, estávamos cercado pela direita e pela esquerda. E agora não dava mais pra voltar, pois o pessoal estava descendo desesperado dizendo que o Choque estava descendo também. Foi uma zona de guerra, cada um tentando se salvar como pode, balas de borracha comendo solto, pedras e barras de segurança voando, vidraças sendo estilhaçadas; quando alguns derrubaram um outdoor da prefeitura eles jogaram bombas de gás indiscriminadamente. Corremos pra esquerda (em direção à Lagoa), onde o bloqueio policial era menos intenso, mas mesmo assim eles fecharam todas as ruas. Tinha um repórter da TV, acho que da Rede Record, o pessoal estava gritando pra ele ir cobrir o abuso que a polícia fazia, mas ao som da primeira bomba de efeito moral que estourou mais perto do infeliz, ele correu pra dentro da van da emissora e se trancou lá como uma garotinha de 5 aninhos de idade. A galera se revoltou.
       Nesse momento não dava mais pra se esconder em nenhum canto nem atrás de nada, eles estavam vindo com tudo, por todos os lados, a adrenalina vai a mil, o gás era muito forte, já não dava pra ver muita coisa à frente, passei em meio às bombas e tiros, respirando o menos possível em direção à única viela sem policial (uma rua que estava em obras), sem saber o que viria pela frente ou aonde a mesma ia dar, sem saber se estava cercada pelos capachos do Imperialismo ou não; olhos e nariz ardendo, garganta começando a fechar (até a pele arde naquela merda), foi quando encontrei uma galera correndo morro acima também, solidários (e o pessoal se uniu mesmo, isso foi louvável) me deram um pano com vinagre, faz toda a diferença. Por fim saímos no bairro, onde as coisas estavam mais calmas, onde tinha um bar aberto para lavarmos o rosto e repormos as energias, ufa! Já passei apertos na vida, mas esse foi de longe o mais sinistro.
       Voltando pelo campo de batalha Av. Antônio Carlos após os conflitos, parecia que passou um tornado, tudo quebrado, destruído, capsulas de balas, bombas e sangue ao chão, e os repórteres gravando suas inúmeras entrevistas que nunca irão pro ar.

       Lutamos por causas justas, lutamos por dignidade, lutamos por liberdade! E vem mais por aí, esse momento é histórico. Triste ver agora o bando de político oportunista "apoiando" as manifestações pra ganhar votos em cima delas, hipócritas, aqui não tem partido institucionalizado, não acreditamos mais nesse sistema político de fachada! Direitistas estão tremendo de medo, criticam as vidraças de lojas quebradas, e se calam aos mais gritantes abusos cometidos pelo Estado, de forma direta ou indireta. Chega de mascarar os problemas, chega de tampar o sol com a peneira, é hora de mudar esse país: "Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas ideias e seus objetivos. Declaram abertamente que seus fins só poderão ser alcançados pela derrubada radical das condições sociais existentes. Que tremam as classes dominantes diante da revolução comunista! Os proletários nada têm a perder senão seus grilhões. E têm um mundo todo a ganhar. PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!" (Marx e Engels - "O Manifesto Comunista").

       Termino com uma célebre frase de Che pra refletirmos:
       "Os grandes só parecem grandes porque estamos ajoelhados" (Che Guevara).

3 comentários:

  1. Pessoal, não entrem na onda da mídia criticando todas as depredações! Tudo o que eles querem é "cães que latem e não mordem":

    Não estou fazendo apologia à barbárie, mas tem que ter em mente que uma coisa é depredar o patrimônio público (certamente é dar tiro no pé e não deve ser feito), OUTRA completamente diferente é depredar essas grandes empresas sangue-sugas à serviço da exploração capitalista! Ora, um banco depredado é um dos maiores símbolos que pode ser feito contra esse sistema podre!

    Outra coisa, quando o dano ao patrimônio público é uma consequência colateral a um ato de ocupação, não deve ser condenado, símbolos de resistência fazem a força do movimento, como, p. ex., a maravilhosa cena que vimos em Brasília do pessoal em cima do Congresso!

    Critiquemos aquelas depredações sem sentido e motivo, somente tais são atos de puro vandalismo, não todas como a mídia está dizendo. LUTEMOS!

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  2. É isso Moisés... Mais do que ler sobre essas grandes manifestações, agora vivemos. E futuramente poderemos falar que fizemos a nossa parte por um Brasil melhor. O movimento em relação o custo de transporte público tomou uma dimensão que ninguém esperava e hoje todos lutam por tantas causas importantes. É lindíssimo isso tudo. Tenho feito minha parte através das redes sociais e amanhã também vou para a rua participar de um protesto na minha cidade...

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  3. Não vou a favor do vandalismo, como vc mesmo disse é dar um tiro no pé. Quebrar as coisas não resolverá nada. Temos que fazer nossa voz ouvir e aproveitar mesmo esse momento histórico. Hoje somos manifestantes, ano que vem seremos eleitores, é hora de lutar e fazer a diferença Brasil!

    Aguardo você no meu blog! Bjksssss

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