sábado, 29 de abril de 2017

Debate: Reforma trabalhista ou início da volta ao tronco?

FULANO: Um país campeão de sindicatos (15.000) é também campeão de causas trabalhistas na justiça (95% de todas as causas do MUNDO). É verdade que sindicato funciona e é necessário?? Acorda Brasil, reforma trabalhista já!


EU, MOISÉS:
Sério mesmo?! Vc realmente acha que o trabalhador tem mais força lutando sozinho do que em um sindicato? Vc acha que um “exército de um homem só” é possível? E ainda em um país, ou melhor, em um sistema que tem como base o desemprego crônico?

Sem ofensa, se de fato essa é sua opinião, eu acho que está faltando voltar aos livros básicos de história. Pegue desde a Revolução Industrial e veja as condições de trabalho mundo afora, veja como as coisas eram quando os trabalhadores não tinham organização para se unir. Todos os direitos trabalhistas que temos hoje (à preço de sangue, diga-se de passagem, e ainda bem aquém do necessário) são frutos de união dos trabalhadores. Revoluções em todo o mundo que trouxeram dignidade só aconteceram devido a tal. Voltando o olhar para nosso país, veja como as relações trabalhistas se davam há pouco tempo mesmo; dê uma pesquisada principalmente antes dos anos 70. Em uma palavra, se hoje não estamos amarrados levando chicotadas enquanto trabalhamos é por ter mostrado a força que o trabalhador tem quando unido.

Deixando por um momento o lado histórico, ainda há o lado lógico. Por exemplo, entre vários outros, se não fosse os acordos coletivos fixando salários mínimos e jornadas de trabalho das categorias os empregadores estariam pagando um pão com água no final do dia, pois sempre (no sistema capitalista) tem um miserável que precisa e trabalhará por tal. Inclusive, boa parte dos processos que vc “cita” (não sei se o número procede, mas é irrelevante, na verdade é aquém, tendo em vista que muita gente no Brasil não processa seus empregadores picaretas por ignorância e/ou medo) é exatamente pelo fato dos empregadores não cumprirem o mínimo acordado.

Vc acha que a solução para acabar com “tantos” processos trabalhistas no mundo (mais uma vez, não sei se esses números procedem, mas é irrelevante) é calar o trabalhador?! Diminuir seus direitos para eles não terem como reclamar?! Sério?! Acha que o problema está naqueles sindicatos que fazem seu papel e levam empregadores criminosos à Justiça? Já te ocorreu que “tantos” processos podem ser fruto de tantos empregadores descumprirem a lei?

Enfim, o que mais me entristece é isso, ver pessoas que, como eu fazem parte da classe proletária, defendendo uma situação que busca apenas as explorar ainda mais. Difícil.


FULANO:
Acho que precisamos acordar para a nossa realidade, Moisés. Simplesmente isso. Em um país onde mais tem sindicato é onde mais tem calote do dono de empresas aos funcionários. Me diz que defesa o sindicato faz... Na boa, a realidade sindical do Brasil nunca arremeterá a verdadeira defesa do trabalhador. São mamadores de teta com super salários olhando o lado empresarial. Senão não teríamos que resolver tanta coisa na justiça do trabalho. São uns fanfarrões. Não podemos defender ideias. Precisamos defender a prática. E a prática está totalmente deslocada da proposta.


EU, MOISÉS: Meu caro, pelo visto vc está comprando um discurso raso e batido de MBL e cia sem fazer a devida reflexão/averiguação. Não se resolve unha encravada com tiro de bazuca no pé! Não é enfraquecendo as organizações sindicais que os problemas se resolverão. Longe disso! Sindicato pelego se resolve com sindicado sério no lugar, com envolvimento real dos trabalhadores, não com o fim deles. Sem as uniões trabalhistas, sem greve geral, sem luta nada se resolve (mesmo com tais vemos como a coisa é complexa!). É um mito que contraria os fatos históricos achar que os direitos trabalhistas aconteceram sem a força da massa.

Negociar sozinho com empregadores que só visam o lucro é acreditar em Papai Noel! Para cada vaga preenchida tem vários candidatos desempregados para trabalhar por menos e em piores condições. O que vc está dizendo é similar a propor o fim do SUS por ele não funcionar da forma ideal, ou propor o fim das escolas públicas, da segurança pública e da justiça pelo mesmo motivo. Não é minimamente razoável.

Sindicatos não servem apenas para “brigar na justiça”, servem para conquistar e manter direitos!... Pelo contrário! Se muitos sindicatos não fossem pelegos teríamos mais para resolver na justiça do trabalho! Ora, faz parte da natureza desses vendidos evitar esse ponto. Não há prática coerente sem uma ideia prévia, bro.


FULANO:
Digo o brigar na justiça, porque mesmo "tão protegidos" pelos sindicatos, os trabalhadores são lesados diariamente e tem um salário incompatível com a necessidade de custo de vida. São ineficientes. Tão corruptos quanto o governo. Ambos não fazem por merecer os cargos que ocupam. E pior, nenhum trabalhador escolhe seus sindicalistas. Eles fazem suas elites, com muito nepotismo, e nós somos obrigados a sustentar essa farra com nosso dinheiro. Não apoio e não apoiarei.


EU, MOISÉS: Primeiro, eu não afirmei que os trabalhadores estão “tão protegidos” pelos sindicatos; certamente há e muito que melhorar. O ponto é que o fim deles é andar para trás! Vc realmente acha que algum trabalhador tem mais força sozinho do que em grupo para reivindicar algo?! Acha que se não pode comer em um restaurante de luxo é melhor não comer? Por favor, né... Brother, nada é simples assim, não basta o sindicato querer, que os donos dos meios de produção vão dar salários maravilhosos da noite para o dia. Por isso o termo é “LUTA de classes”. Isso sem contar que não há hegemonia de ideias, as pessoas de uma mesma categoria divergem.

Cara, os sindicatos fazem votações para escolherem os representantes e promovem assembleias para as deliberações, isso é previsto em lei para eles existirem. Não vá julgando tudo assim. É um grande erro condenar qualquer coisa sem conhecer de fato. Eu já trabalhei em dois lugares que tem sindicatos enormes e péssimos (o da Contax e agora, como professor, o SinUTE), mas nem por isso eu vou considerar a todos da mesma forma e, mais um vez, antes um sindicato ruim do que nada, mas sempre podemos nos organizar, participar das assembleias, formar novas chapas e mesmo criar outros sindicatos. A dificuldade prática existe, mas não é impossível mudar. Entenda de uma vez por todas: acabar com as uniões sindicais só favorece patrão (na verdade esse seria o paraíso deles, rs).

Acho que novamente vc está falando apoiado em informações rasas. Se solicitado, a maioria dos sindicatos que conheço devolve a parte da contribuição obrigatória que eles recebem, que na verdade é apenas 60% de um dia de trabalho, anualmente (pelo jeito que vc fala parece que estão te arrancando seis meses de trabalho, rs). Ninguém é obrigado a ser filiado.

Para finalizar, pois em alguns pontos vc já está se repetindo e acho que nossas posições já estão bem claras tb, vale lembrar que apoiar ou não um determinado sindicado é uma coisa, apoiar a existência ou não de sindicatos é outra, obviamente.


CICLANO:
 Moisés, desenhar mais que vc desenhou parece impossível! E a mesma coisa que acabar com a defensoria publica por não ter "bons advogados". Sabe que poderia acontecer: Poderia ter jeito do empregado, no momento de sua contratação, escolher se que ser regido por estas "maravilhosas reformas" ou não sem o direito de voltar atrás.

EU, MOISÉS: Pois é, velho. Difícil demais. Exatamente, como diz o ditado, "não jogue fora o bebê junto com a água do banho", né? Essa foto com o dino é perfeita, dialogar sozinho com a empresa seria nessas condições.

O foda é que daria na mesma, pois além de haver sadomasoquista para tudo, os patrões sanguessugas empregariam só aqueles que aceitassem as reformas (esses perderiam a vaga apenas para aqueles que aceitassem a voltar para o tronco, rs).


*Reprodução de debate em rede social.

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