quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Debate sobre o "pobre de direita"


EU, MOISÉS: Seguimos tentando desvendar o incognoscível "pobre de direita". [Referente ao trecho da entrevista do professor Tales Ab'Sáber no programa Diálogos, Jan/2018; acima].

D. K.: Já dizia o saudoso Tim: este país não pode dar certo, aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita

F. L.: Quando se libertaram os escravos, a elite não sabia o que fazer com eles, hj a elite não sabe o que fazer com seus descendentes. Talvez o tal Bolsonaro Boca-suja implemente campos de extermínio. É uma cultura que não aponta pra nada e só nos deixa com essa sensação de vergonha e impotência.

EU, MOISÉS: Quem não já teve o desprazer de conversar com um pobre de direita fundamentalista, né? Normalmente eles ainda se acham super inteligentes! Sério, quando os encontro vejo que o sistema venceu. Como disse o Malcom X, "se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as pessoas que estão oprimindo". Isso explica bem a natureza deles. Só não podemos largar a corda pq se não voltamos para a senzala.

F. L.: Cara, estou com 50. Estou cansado. Me afundo nos estudos para não pensar muito. Às vezes lembrar de tudo é uma espécie de loucura. Se antes buscasse na racionalidade a solução para o alienação, hj me alieno para escapar da realidade.

EU, MOISÉS: Não é fácil, cada vez mais está difícil de ver a luz no fim do túnel. Mas a questão da luta acaba sendo uma questão de sobrevivência para as classes desfavorecidas, a "escolha" para a grande maioria está em ou ir para a luta, se matando de trabalhar de sol a sol, não vendo o fruto do seu trabalho, apenas para sobreviver e tentar vez ou outra gritar no deserto, ou ir para a sarjeta, morrer de algo evitável. É muito frustrante ver um sistema blindado à voz dos oprimidos de forma tão brutal. Mas a verdade é que a maioria não pode nem distrair, e como eu disse, só largar a corda que se volta para a senzala; esse governo Temer é um exemplo concreto, na primeira oportunidade (forjada por golpe) suga ainda mais de quem nada tem.

D. S.: Que conseguiu tirar um pouco mais a cabeça fora da água tem que lutar para não ter marola para não dificultar as coisas. Infelizmente, o esclarecimento parecer não ser acompanhado de uma alegria artificial. Sabemos que não há opção a luta - talvez a insanidade ou alienação total!

M. U.: Acho toda generalização muito complicada, independente do lado, tem discurso de uma direita e da esquerda moderadas (se é que existe com consciência) que não luta contra os pobres, luta contra a corrupção e sabe que está todo mundo solto e no comando. Eu sou desse time aí que ele listou e a primeira coisa quando chego em um restaurante ou bar é ficar "amigo" do garçom para aprender e entender como alguém consegue trabalhar tanto e ser feliz.

D. S.: não há generalização. O começo da fala diz de uma parte importante da elite e classe média. O resto precisamos aprofundar e sem dúvida precisamos ver como e por que a nossa escravidão lança raízes profundas até hoje e corrói corações e mentes e infesta nossas instituições. Não é um ato individual, é coletivo e uma empresa de gerações que tem assento nas instituições pátrias!

L. M. G.: O vídeo não é sobre pobres de direita. O vídeo é sobre brasileiros. Uma raça que, dentre outros, odeia seus políticos ao mesmo tempo que ama reelegê-los ad eternum. O vídeo é sobre uma raça que precisa ser estudada pela NASA, conforme o dito popular. Rs
           
EU, MOISÉS: Nunca vi um brasileiro que se considera de esquerda odiar os pobres e estupida e ignorantemente achar que eles são a culpa de todos os problemas, logo, o vídeo é indiscutivelmente sobre a direita. Consequentemente, sobre o "pobre de direita", pois a crítica do vídeo não foca nos ricos de direita. Sobre a questão política, a coisa não é tão simples assim, pois estamos falando de um sistema de eleição proporcional, não esqueçamos; além disso, sabemos a disparidade que existe entre quem tem grana e quem não tem para até mesmo mostrar a cara como candidato. Por fim, o problema maior do Brasil não é a corrupção, mas sim a abissal desigualdade socioeconômica e a concentração de renda nas mãos de pouquíssimos indivíduos, quase sempre herdeiros de verdadeiros impérios.

M. U.: Essa desigualdade, mesmo acentuada por aqui, é no mundo todo, muito difícil melhorar isto, taxar as grandes fortunas? Poderia ser um dos caminhos que nenhum governo teve coragem, bem FHC, nem o PT nos 13 anos e o Temer nem comentemos.

D. S.: M. U. os dados disponíveis e confiáveis dentro do possível mostra que as estatísticas sociais e culturais melhoraram nos governos do PT. Claro que a explicação pode variar (até atribuir a FHC e ao preço mundial das commodities, que é fraca mais é uma tentativa racional que não briga com os números)!

L. M. G.: O MBL faz, é criticado por isso, e eu concordo com a crítica: pega a pior parte de um lado (no caso do MBL, a esquerda) e diz que o todo é aquele extrato. Não concordo muito com isso...

EU, MOISÉS: Taxar as grandes fortunas é um caminho, mas existem vários outros, a começar por cobrar os mais de 500 bilhões anuais que os grandes ricos do Brasil deixam de pagar por fluxos ilícitos e evasão fiscal. Mas as soluções possíveis vão desde taxar pesadamente heranças até a implantação do socialismo/comunismo. Há uma gama enorme de tentativas viáveis nesse meio, o discurso conservador de "ser a única forma possível" a que estamos, a meu ver, é dos mais falaciosos possíveis, pois é difícil imaginar algo pior, nos tempos modernos, do que um planeta onde 8 indivíduos tem mais que metade da população mundial mais pobre, onde praticamente 1% da população tem mais que os outros 99% (fonte: Oxfan); onde se morre de fome com comida sobrando ao lado; onde os que mais trabalham, como um cortador de cana da vida, são os que menos ganham; onde a saúde é mercantilizada e assim por diante. Esse mesmo discurso de ser no mundo todo e de ser difícil poderia ser usado por escravistas, sexistas, racistas, mas mudamos e temos mudado esses absurdos. Definitivamente não é um bom argumento. Toda mudança é árdua, sim, pois os desfavorecidos são também aqueles oprimidos pela força policial e pela justiça. Mas se ficarmos nessa não apenas não mudaremos nada, mas voltaremos para trás, como inclusive temos visto por aqui. ["MBL faz"?! Eu li isso?!].

M. U. Não duvido dos dados, mas a taxação não foi feita.

L. M. G.: E de que adianta taxar grandes fortunas e heranças, aumentando a arrecadação, se é exatamente isso que a corrupção está louca pra fazer? "Se colocarem o governo para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia." é uma das frases mais sábias que já ouvi...

M. U.:Os bancos continuam faturando bilhões anualmente por taxas absurdas de juros, e o BB e a CEF estão (e sempre estiveram) longe de comprar essa briga e colocar taxas condizentes, afinal, estatal não serve para servir? Hoje (consultei) o BB é décimo quarto e a CEF vigésima. E não é culpa do vampirão, desde sempre foi assim é ninguém faz nada.

L. M. G.: Se há um problema que NÃO existe no Brasil é a falta de dinheiro público, como já bem diria o Enéias em uma famosa entrevista no falecido Programa Livre do Serginho Groisman.

EU, MOISÉS: Cara, eu acho que vc precisa ler mais e pegar os números oficiais ao invés de jargões baratos e MBLs da vida, caso contrário vc ficará gritando discursos apelativos e sensacionalistas a lá Bolsonaros que não condizem com a realidade. A União arrecada quase 1,4 TRILHÃO por ano, estimasse que a corrupção pega 200 bilhões, ou seja, não chega a 15%. Como eu disse acima, nosso maior problema está longe de ser a corrupção, mas sim a abissal desigualdade socioeconômica e a concentração de renda. Evidentemente a corrupção é um problema grave, mas que se resolve com TRANSPARÊNCIA, e não com o fim do Estado. O Estado mínimo só interessa de fato a quem não precisa dele, ou seja, os 3% (IBGE) mais ricos da nação (o pobre de direita que clama a implementação de tal se lascaria, claro). Sinceramente, a crença que essa turminha de verde e amarelo pseudo neoliberal (pois na verdade são conservadores até nos costumes!) tem no "poder regulador do mercado" é assustador de tão ingênua! Todas as quebras, crises e colapsos do capitalismo, além do clima real de todos contra todos, do desperdício, do consumismo inútil, da destruição da natureza, da mercantilização da educação, do quase estado de natureza hobbesiano, não os convence do contrário. Hoje no mundo muitos neoliberais já estão revendo seus conceitos de maneira drástica mediante esses fatos, aqui o pseudo neoliberal (nem errado como o neoliberal legítimo ele é) está no nível de um religioso fundamentalista lunático, francamente.

M. U.: Corrupção aliada a ineficiência dos órgãos públicos, como exemplo, as agências de regulação. São geralmente ocupadas por apadrinhados (como o genro do Eunício) sem capacidade de fazer transformações necessárias, em termos práticos, a CEF lotadas dos Gedeis da vida que escolhem o empréstimo não por termos técnicos e sim pela capacidade de receber propinas.

L. M. G.: Moisés, com todo respeito, eu acho que vc não entendeu que o que eu fiz ao MBL foi uma crítica...

EU, MOISÉS: A minha resposta se aplica ao que vc disse, independente de se colocar o MBL no meio.

L. M. G.: Bom, pelo que entendi, vc não vê problemas em colocar ainda mais dinheiro nas mãos de corruptos, acreditando que o problema da má distribuição de renda poderá ser resolvido dessa forma. Eu penso diferente. Na minha opinião, enquanto o problema da corrupção não for pelo menos atenuado, colocar ainda mais dinheiro nas mãos do Estado será só a confirmação da frase do Saara com ainda mais areia. É o que penso...

EU, MOISÉS: Vc viu os números que cito? Não é "o que eu penso".

L. M. G.: Tenho imensa curiosidade em saber detalhes sobre a metodologia utilizada para se estimar um número para o tamanho da corrupção já que corruptores e corrompidos não assinam recibo, não emitem nota fiscal, e fazem de tudo (ou mais) para ocultarem os seus...

M. U.: E mesmo este estimado é coisa demais, 10 anos de bolsa família, mas ela leva 200 bilhões, creio que a ineficiência deve levar mais uns 800, não tem modelo econômico que sustente, é caso de caminharmos para o RJ mesmo.

D. S.: L. M. G., na FAFICH/UFMG há grupo de estudo com mais de 10 anos com publicação de livros, artigos científicos, seminários, congressos. Tem o Instituto Ethos e análises internacionais sobre o tema. Claro que juiz receber acima do permitido pela constituição, através de artifício não entra nesta conta!

L. M. G.: Caríssimo D. S., nesse caso, sigo com o finado Enéas, médico cardiologista, físico, matemático, professor, escritor e político brasileiro: continuo achando que não falta dinheiro na política brasileira. O problema é que sobram corruptos.

EU, MOISÉS: Essa de não saber quanto se perde na corrupção é mais um discurso repetido pela direita sem a análise mínima. A maior parte do que se perde com a corrupção é muito fácil de calcular, pois há um número inicial e um número final, ora, o produto deles é o que se perdeu com a corrupção. Uma pesquisa superficial no Google já ajudaria bastante para cair esse mito, mas sim, o D. S. tem razão, para quem quiser aprofundar, temos grupos de estudos, abertos inclusive, com várias pessoas que debruçam sobre esse tema. Em momento algum eu disse que a corrupção não é um problema, pelo contrário, disse com todas as letras que é um grave problema, mas se a corrupção zerar no próximo ano, os ganhos da União subirão 15%, quem em sã consciência diria que isso mudaria a realidade do Brasil?! E não temos dinheiro sobrando, MUITO pelo contrário! O Ciro Gomes critica muito isso com números importantes, fica um monte de gente falando como se as coisas aqui fossem fácil de resolver, que é só um estalar de dedos, e não percebe a bobagem que estão falando! O que o Brasil arrecada hoje mal dá para se manter, estamos a serviço de dívidas galopantes e do capital estrangeiro. Quando eu afirmo que nosso maior problema é a abissal desigualdade socioeconômica e a concentração de renda, é uma opinião formada por anos de estudo que não dá para reduzir aqui, mas veja que isso está muito além do que o Estado arrecada, mediante tamanha disparidade entre a elite e quase a totalidade da população, não há grana Estatal que resolva se a mesma não for distribuída. Em uma palavra, se acabar a corrupção por completo nossas mazelas continuariam iguais, o rico continuaria cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre. É preciso uma mudança quase por completo no que diz respeito ao sistema político e econômico.
Já mencionei aqui sobre o tanto que se deixa de arrecadar com fluxos ilícitos e sonegação fiscal dos mais ricos, o montante é esmagadoramente mais do que na maior das hipóteses se perde com a corrupção. Desse dinheiro que deixa de entrar, estima-se que 20% é da corrupção e 80% de fluxos ilícitos e sonegação. E sobre isso ninguém protesta né; está aí a força da informação rasa e parcial.

L. M. G.: Vamos então aos números de uma "pesquisa superficial no Google". Se vc afirma que combater a corrupção é ineficiente pq traria apenas 200 bi aos cofres públicos, este artigo diz que taxar os ricos traria apenas metade disso... https://www.cartacapital.com.br/economia/imposto-sobre-grandes-fortunas-renderia-100-bilhoes-por-ano-1096.html

EU, MOISÉS: Faça uma pesquisa que não seja tão rasa. E a propósito, esse valor de 100 bilhões, que por ora não questionarei, apenas seria somado a quantidade infinitamente maior que se perde com fluxos ilícitos e sonegação fiscal, mas parece que vc não tem a menor ideia do que seja isso. Enfim, como introdução:



Só para completar, li a entrevista completa aqui (boa entrevista, por sinal), vale lembrar que esses 100 bilhões é resultado de cálculo de apenas 1% de taxação, que obviamente poderia ser muito mais.

*Reprodução de debate em rede social.

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