O movimento/greve dos
caminhoneiros não tem uma pauta política definida, e certamente não é a vontade
da maioria deles intervenção militar. Há várias vozes e posições dissonantes,
inclusive de analfabetos políticos querendo falar por todos. Fato é um só, independente
de empresa transportadora ter interesse, se trata de paralisação da classe
trabalhadora, são os proletários que estão de braços cruzados, e se a esquerda
não der um jeito de uni-los em uma voz, a direita vai estar lá para usá-los.
Essa paralisação tem demonstrado com todas as letras como é o trabalhador que
mantém o país, acordando os próprios trabalhadores para essa realidade. E ainda
que fraco, já tem começado a tomar um rumo contra o sistema de forma geral, atraindo
outras categorias, mostrando também claramente que o Brasil gira em torno de
poucos privilegiados ao preço da exploração da população. Em uma palavra: se a
esquerda se retirar, criticando o que meia dúzia de "representantes"
dos caminhoneiros fizeram no passado, em relação à Dilma, ao invés de mostrar
quem representa a foice e o martelo, isto é, a própria força trabalhadora, aí
sim a coisa estará perdida.
"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade... Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata". (Carlos Drummond de Andrade).
domingo, 27 de maio de 2018
quinta-feira, 17 de maio de 2018
Ambulantes roubados pela PMerda e pelo Kalil
A PMerda (qualifico assim a partir da incabível lógica militar e dos que tive contato, sei que não são todos) e os fiscais da Prefeitura de Belo Horizonte - MG, do
prefeito Alexandre Kalil, estavam fazendo uma operação de “limpeza” na passarela
da estação do metrô da Rodoviária, onde normalmente ficam ambulantes vendendo
produtos como balas, meias, cigarros e outras coisas simples.
Chegaram com a truculência e arbitrariedade costumeiras, como
animais correndo atrás de trabalhadores, que fugiam aos gritos, desesperados. Ao
aproximar, os vejo cercando um homem negro, que estava quase passando mal de
nervoso. Fico acompanhando e vejo-os pegar a pochete dele e levar junto com a escassa
mercadoria. Ele começa a dizer que a pochete não estava à venda; aí eu não
aguento e interfiro:
[As cores são apenas
para identificar mais facilmente quem fala].
Falo para o ambulante, de maneira que os trogloditas fardados
pudessem ouvir também, “eles não podem apreender os pertences pessoais do senhor”.
Aí um policial com cara de adolescente chega aos gritos, perguntando: “quem é você?”;
no que eu respondo: “sou um cidadão”, e ele: “você sabe alguma coisa de lei, sabe o que
é ter uma formação?” [mesmo papo de outra abordagem que os questionei < link];
respondo: “sei
cara, sou formado e tudo mais”. Ele puto me pede o documento, no
mesmo tom esbravejante. Prontamente entrego e continuo acompanhando o ambulante.
Aí o outro policial que estava com ele, literalmente bufando, berra: “vai para
parede!” – numa tentativa patética de vingar a minha “afronta”
(entre aspas, pois isso é afronta só para esses fascistas que se acham deus, já
que apenas orientei um cidadão sobre seus direitos). Vou. Aí o primeiro pega
minha carteira, e eu viro para ele, ainda com as mãos na cabeça, sendo
revistado pelo segundo, falo: “você tem que olhar ela na minha frente”, ele faz
menção de abrir, eu repito alto, “a revista dela só é permitida na minha frente”;
ele, surpreso com alguém não abaixando a cabeça na sua presença, visivelmente
sem saber exatamente o que fazer, responde, enquanto o outro ainda me revistava:
“olha para
cá então”; eu digo: “seu colega está me revistando”, viro para o
revistador e digo, “eu tenho que olhar minha carteira”. Ele me solta e
diz, “olha,
mas você vai com a gente”. O soldado, olhando minha carteira, vê meu
antigo cartão do Hospital Militar (meu pai foi militar), aí já vem querendo se
explicar – um parêntese: esses soldados novos tremem para hierarquia, só de
pensar que meu pai poderia ser alguém de patente superior, ficam assim, por essas e
outras saem descontando na população o que passam lá dentro –, dizendo que o
cara era bandido, que era conhecido por eles. Eu falo: “o passado dele não vem ao caso, sobre isso eu
nada posso dizer, posso sim dizer o que presenciei, vocês e os fiscais levando pertence
pessoal dele”. Nisso, ele já perdendo o controle, fala: “quero conversa
não, se é assim, você vai com a gente, vai testemunhar então”; eu
respondo: “ir aonde?
Não sou obrigado a testemunhar, estou aqui orientando um cidadão”;
ele: “se eu
colocar aqui, você vai agora”; eu replico: “você está enganado, vamos ver com seu superior, então”. Ele responde: “vem com a gente até aquela viatura” [apontando
tal a uns 30 metros à frente]. Vejo vários outros policiais lá, junto de diversas
pessoas; vou.
Desço a passarela, acompanhado do ambulante e dos dois
policiais, e encontro um sargento. O policial que pegou minha carteira vai até
ele, fala algo ao ouvido, ele me chama e começa a querer justificar, dizendo os
maiores absurdos, sem pé nem cabeça: que eu deveria conhecer a polícia, que eu fui criado pelo dinheiro
da PM – no que eu cortei ele e já disse: “não, eu fui criado pelo trabalho do
meu pai” –, que eu estava defendendo bandido e, acreditem, que a bolsa [pochete]
era usada para guardar o estoque! O próprio ambulante interveio dizendo: “vou guardar
estoque de quê nessa bolsinha, gente?”. E mesmo quando se trata de algo
usado para guardar mercadoria, tal não pode ser apreendido. Comecei a responder
e ele logo me interrompeu, dizendo que não estava no comando da operação, que
era para eu ir falar com o tenente mais à frente. Quando começo a me dirigir
até o indicado, o soldado que havia pegado minha carteira veio conversar, já com o tom
bem mudado, mas o deixei falando sozinho e fui até o tenente. O tenente começa
a me escutar, quando viro para mostrar o ambulante, ele não havia me seguido, e
os três policiais também não, o ambulante não está mais na minha vista – o que
certamente aconteceu é que eles o ameaçaram e mandaram dar o fora. Mesmo assim,
percebendo o que tinha acontecido, continuo a contar a história para o tenente,
colocando claramente os dois pontos de abuso: seus militares levando pertences
pessoais dos ambulantes e a revista injustificada, portanto abusiva, que recebi,
indiscutivelmente como forma de represália. O tenente disse que os fiscais já
haviam levado o material e que, dessa forma, não daria para verificar, ainda mais
sem a vítima. Quanto à revista, disse o padrão, que ali “é uma área perigosa e não dá para
confirmar se a revista foi uma forma de represália”. Eu apontei o
soldado que havia feito a revista para me intimidar e falei: “o senhor poderia o chamar aqui”,
ele fingiu de bobo, desconversou e disse que via que eu “era um cidadão de bem” – o clássico e idiota jargão usado por eles como mantra, "cidadão de bem"; é muito fácil ser "cidadão de bem" não estando em uma posição de exclusão e miséria, cara pálida! Ser "cidadão de bem" para o pobre é o que? Aceitar a escravidão e a fome calado?! E ainda ele julga "cidadão de bem" pela cara, fala sério, viu! – e foi
saindo dizendo que estava agarrado. Esse é o tratamento que a PMerda dá! [Não obstante, não
nego que o tenente me ouviu relativamente numa boa e, em certa medida, ele tinha razão, afinal,
o ambulante que presenciou e vivenciou tudo não estava lá para confirmar os
fatos, mas, ao fim, ele não fez nada, nem mesmo a menor apuração que cabia, a saber, um
questionamento direto aos militares envolvidos].
Voltei para a passarela, não vi mais os policiais que me
abordaram. Encontro o ambulante e alguns amigos dele mais à frente da mesma. Perguntei porque ele não foi lá, ele disse, com visível medo até de explicar: “não dá em nada
e eles marcam a gente”. Eu falei: “eles têm que te devolver a pochete, tente ir à
Prefeitura, ao menos”; ele respondeu: “a gente é humilde moço, se chegar lá, eles
jogam é uma multa de mil conto na gente”. Nisso um dos amigos dele, um
senhor magrinho, negro, me disse que haviam levado dele, além da mercadoria, o seu
carrinho; eu fiquei puto! Cara, que revolta, ele dizendo: “são 90 pila agora, eu não sei como vou
fazer”. Não seria efetivo, mas, segurando na única coisa ao alcance ali, eu falei com ele: “você tem que abrir um B.O., a Prefeitura não pode ficar com
ele, tem uma van da PM que registra, logo ali na frente, e o tenente responsável
está aqui”; ele respondeu: “não dá em nada, um conhecido meu correu atrás disso e
perdeu tempo”. Ele estava com muita raiva, e eu também, por não
poder fazer mais nada... Eles estavam certos, reclamar para a própria
instituição que abusou deles, e corporativista até não poder mais, não seria
grande coisa.
Governantes a serviço
dos ricos e dos grandes empresários. Esta é a nossa sociedade: não deixa aqueles
que vêm da miséria se quer trabalhar! E, além disso, literalmente os rouba,
para que eles não insistam em conseguir o pão, onde os favorecidos dizem que não
pode.
domingo, 13 de maio de 2018
Mãe PM que matou assaltante sendo homenageada, sério?!
Esse caso da mãe policial que matou o assaltante passou todos os limites. Como assim um governador comemora a morte de alguém?! Ainda não estou acreditando. Primeiro, a ação, do ponto de vista tático, foi errada, o que ninguém está comentando, pois não se reage com pessoas sob a mira de um revolver, ainda mais se o tiro não for dado na cabeça; tanto é que o assaltante deu dois tiros ainda, podendo ter acertado as crianças. Depois de atirar, a policial ainda se protege atrás de um carro com gente dentro, colocando, possivelmente, uma mãe e outras crianças em mais risco. Sem contar que o assaltante poderia ter um comparsa, né? E a autopreservação dela também dificilmente estaria em risco ao não reagir, pois um ladrão tem pressa, não fica revirando e conferindo bolsas antes de levá-las, de forma que é praticamente nula a hipótese de ele descobrir que ela era policial, pois a arma estava na bolsa (isso quando levam bolsas, normalmente só pegam celulares, às vezes carteiras, já que dá muito na cara em uma fuga; se fosse o caso dele não levar a bolsa dela, poderia ainda reagir assim que ele desse as costas e ela olhasse ao redor para saber se ele estava só, com o clássico: "pare, se não eu atiro"). Sim, a ação dela, que idiotas estão comemorando como um título, foi um desastre! Pura questão de sorte não termos uma tragédia – e olha que estamos falando de alguém que em teoria recebeu treinamento para isso e trabalha com segurança pública, não você que quer uma arma para pagar de fodão. Um bem material não vale uma vida. Jamais! [Obviamente não estamos indo contra o direito de legítima defesa. Por favor! Mas, se for possível evitar a morte de qualquer pessoa, tal deve ser feito. Pelo que parece, ela dá mais um tiro nele, já ferido e caído ao chão, rendido, com as mãos para cima].
É muito sério um governador homenagear essa situação, com tal atitude ele está, no mínimo, indiretamente, reforçando a reação equivocada, a guerra de todos contra todos e a pena sumária de morte de excluídos. Não se tira foto sorrindo onde há um ser humano morto. Isso é o que Hannah Arendt chamava de "a banalização do mal". Estamos falando de uma sociedade tão desigual, feita em prol de uma pequena elite, onde quase todas as pessoas estão vivendo uma pressão inominável para sobreviver, a um passo da criminalidade, enquanto enriquecem, com seu trabalho, aqueles que não fazem nada. Esse assaltante poderia estar roubando por não ter como alimentar os filhos. É fácil falar não estando em uma situação assim, longe do inferno que ele pode ter nascido e crescido. Como canta o músico Emicida: "Eu queria te ver lá, tirissa, pra ver onde cê ia enfiar essa merda do seu senso de justiça" (Música: Cê lá faz ideia). Não estou defendendo que as pessoas comecem a assaltar, mas é preciso reconhecer que a abissal desigualdade socioeconômica é o que gera isso, colocando as pessoas sem saída, facilmente. E quando não estão na completa miséria, por completa ignorância, pensam que vão aparecer e/ou conseguir subir, saindo para o ataque. Além disso, muitos estão movidos pelo vício de drogas também, sem ter nada a perder, outro ponto que não será resolvido à bala.
Enfim, só não tem mais gente atacando e roubando pessoas assim, por medo, de ser preso ou acabar morto, ou ainda de deus. Solução para esses casos não é execução sumária, não é pena de morte e muito menos cada um ter uma arma na cintura (vai fazer o que, frente ao elemento surpresa?). Não seja esse cara que não enxerga um palmo à frente do nariz, que só se informa pelos programas dos Datenas da vida.
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