domingo, 27 de maio de 2018

Rumo da greve dos caminhoneiros


  O movimento/greve dos caminhoneiros não tem uma pauta política definida, e certamente não é a vontade da maioria deles intervenção militar. Há várias vozes e posições dissonantes, inclusive de analfabetos políticos querendo falar por todos. Fato é um só, independente de empresa transportadora ter interesse, se trata de paralisação da classe trabalhadora, são os proletários que estão de braços cruzados, e se a esquerda não der um jeito de uni-los em uma voz, a direita vai estar lá para usá-los. Essa paralisação tem demonstrado com todas as letras como é o trabalhador que mantém o país, acordando os próprios trabalhadores para essa realidade. E ainda que fraco, já tem começado a tomar um rumo contra o sistema de forma geral, atraindo outras categorias, mostrando também claramente que o Brasil gira em torno de poucos privilegiados ao preço da exploração da população. Em uma palavra: se a esquerda se retirar, criticando o que meia dúzia de "representantes" dos caminhoneiros fizeram no passado, em relação à Dilma, ao invés de mostrar quem representa a foice e o martelo, isto é, a própria força trabalhadora, aí sim a coisa estará perdida.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Ambulantes roubados pela PMerda e pelo Kalil

       A PMerda (qualifico assim a partir da incabível lógica militar e dos que tive contato, sei que não são todos) e os fiscais da Prefeitura de Belo Horizonte - MG, do prefeito Alexandre Kalil, estavam fazendo uma operação de “limpeza” na passarela da estação do metrô da Rodoviária, onde normalmente ficam ambulantes vendendo produtos como balas, meias, cigarros e outras coisas simples.
    Chegaram com a truculência e arbitrariedade costumeiras, como animais correndo atrás de trabalhadores, que fugiam aos gritos, desesperados. Ao aproximar, os vejo cercando um homem negro, que estava quase passando mal de nervoso. Fico acompanhando e vejo-os pegar a pochete dele e levar junto com a escassa mercadoria. Ele começa a dizer que a pochete não estava à venda; aí eu não aguento e interfiro:

      [As cores são apenas para identificar mais facilmente quem fala].

    Falo para o ambulante, de maneira que os trogloditas fardados pudessem ouvir também, eles não podem apreender os pertences pessoais do senhor. Aí um policial com cara de adolescente chega aos gritos, perguntando: quem é você?; no que eu respondo: sou um cidadão, e ele: você sabe alguma coisa de lei, sabe o que é ter uma formação? [mesmo papo de outra abordagem que os questionei < link]; respondo: sei cara, sou formado e tudo mais. Ele puto me pede o documento, no mesmo tom esbravejante. Prontamente entrego e continuo acompanhando o ambulante. Aí o outro policial que estava com ele, literalmente bufando, berra: vai para parede! – numa tentativa patética de vingar a minha “afronta” (entre aspas, pois isso é afronta só para esses fascistas que se acham deus, já que apenas orientei um cidadão sobre seus direitos). Vou. Aí o primeiro pega minha carteira, e eu viro para ele, ainda com as mãos na cabeça, sendo revistado pelo segundo, falo: você tem que olhar ela na minha frente, ele faz menção de abrir, eu repito alto, a revista dela só é permitida na minha frente; ele, surpreso com alguém não abaixando a cabeça na sua presença, visivelmente sem saber exatamente o que fazer, responde, enquanto o outro ainda me revistava: olha para cá então; eu digo: seu colega está me revistando, viro para o revistador e digo, eu tenho que olhar minha carteira. Ele me solta e diz, olha, mas você vai com a gente. O soldado, olhando minha carteira, vê meu antigo cartão do Hospital Militar (meu pai foi militar), aí já vem querendo se explicar – um parêntese: esses soldados novos tremem para hierarquia, só de pensar que meu pai poderia ser alguém de patente superior, ficam assim, por essas e outras saem descontando na população o que passam lá dentro –, dizendo que o cara era bandido, que era conhecido por eles. Eu falo: o passado dele não vem ao caso, sobre isso eu nada posso dizer, posso sim dizer o que presenciei, vocês e os fiscais levando pertence pessoal dele. Nisso, ele já perdendo o controle, fala: quero conversa não, se é assim, você vai com a gente, vai testemunhar então; eu respondo: ir aonde? Não sou obrigado a testemunhar, estou aqui orientando um cidadão; ele: se eu colocar aqui, você vai agora; eu replico: você está enganado, vamos ver com seu superior, então. Ele responde: vem com a gente até aquela viatura [apontando tal a uns 30 metros à frente]. Vejo vários outros policiais lá, junto de diversas pessoas; vou.

       Desço a passarela, acompanhado do ambulante e dos dois policiais, e encontro um sargento. O policial que pegou minha carteira vai até ele, fala algo ao ouvido, ele me chama e começa a querer justificar, dizendo os maiores absurdos, sem pé nem cabeça: que eu deveria conhecer a polícia, que eu fui criado pelo dinheiro da PM – no que eu cortei ele e já disse: não, eu fui criado pelo trabalho do meu pai –, que eu estava defendendo bandido e, acreditem, que a bolsa [pochete] era usada para guardar o estoque! O próprio ambulante interveio dizendo: vou guardar estoque de quê nessa bolsinha, gente?. E mesmo quando se trata de algo usado para guardar mercadoria, tal não pode ser apreendido. Comecei a responder e ele logo me interrompeu, dizendo que não estava no comando da operação, que era para eu ir falar com o tenente mais à frente. Quando começo a me dirigir até o indicado, o soldado que havia pegado minha carteira veio conversar, já com o tom bem mudado, mas o deixei falando sozinho e fui até o tenente. O tenente começa a me escutar, quando viro para mostrar o ambulante, ele não havia me seguido, e os três policiais também não, o ambulante não está mais na minha vista – o que certamente aconteceu é que eles o ameaçaram e mandaram dar o fora. Mesmo assim, percebendo o que tinha acontecido, continuo a contar a história para o tenente, colocando claramente os dois pontos de abuso: seus militares levando pertences pessoais dos ambulantes e a revista injustificada, portanto abusiva, que recebi, indiscutivelmente como forma de represália. O tenente disse que os fiscais já haviam levado o material e que, dessa forma, não daria para verificar, ainda mais sem a vítima. Quanto à revista, disse o padrão, que ali é uma área perigosa e não dá para confirmar se a revista foi uma forma de represália. Eu apontei o soldado que havia feito a revista para me intimidar e falei: o senhor poderia o chamar aqui, ele fingiu de bobo, desconversou e disse que via que eu era um cidadão de bem”  – o clássico e idiota jargão usado por eles como mantra, "cidadão de bem"; é muito fácil ser "cidadão de bem" não estando em uma posição de exclusão e miséria, cara pálida! Ser "cidadão de bem" para o pobre é o que? Aceitar a escravidão e a fome calado?! E ainda ele julga "cidadão de bem" pela cara, fala sério, viu! – e foi saindo dizendo que estava agarrado. Esse é o tratamento que a PMerda dá! [Não obstante, não nego que o tenente me ouviu relativamente numa boa e, em certa medida, ele tinha razão, afinal, o ambulante que presenciou e vivenciou tudo não estava lá para confirmar os fatos, mas, ao fim, ele não fez nada, nem mesmo a menor apuração que cabia, a saber, um questionamento direto aos militares envolvidos].

      Voltei para a passarela, não vi mais os policiais que me abordaram. Encontro o ambulante e alguns amigos dele mais à frente da mesma. Perguntei porque ele não foi lá, ele disse, com visível medo até de explicar: não dá em nada e eles marcam a gente. Eu falei: eles têm que te devolver a pochete, tente ir à Prefeitura, ao menos; ele respondeu: a gente é humilde moço, se chegar lá, eles jogam é uma multa de mil conto na gente. Nisso um dos amigos dele, um senhor magrinho, negro, me disse que haviam levado dele, além da mercadoria, o seu carrinho; eu fiquei puto! Cara, que revolta, ele dizendo: são 90 pila agora, eu não sei como vou fazer. Não seria efetivo, mas, segurando na única coisa ao alcance ali, eu falei com ele: você tem que abrir um B.O., a Prefeitura não pode ficar com ele, tem uma van da PM que registra, logo ali na frente, e o tenente responsável está aqui; ele respondeu: não dá em nada, um conhecido meu correu atrás disso e perdeu tempo. Ele estava com muita raiva, e eu também, por não poder fazer mais nada... Eles estavam certos, reclamar para a própria instituição que abusou deles, e corporativista até não poder mais, não seria grande coisa.

     Governantes a serviço dos ricos e dos grandes empresários. Esta é a nossa sociedade: não deixa aqueles que vêm da miséria se quer trabalhar! E, além disso, literalmente os rouba, para que eles não insistam em conseguir o pão, onde os favorecidos dizem que não pode.

domingo, 13 de maio de 2018

Mãe PM que matou assaltante sendo homenageada, sério?!

     Esse caso da mãe policial que matou o assaltante passou todos os limites. Como assim um governador comemora a morte de alguém?! Ainda não estou acreditando. Primeiro, a ação, do ponto de vista tático, foi errada, o que ninguém está comentando, pois não se reage com pessoas sob a mira de um revolver, ainda mais se o tiro não for dado na cabeça; tanto é que o assaltante deu dois tiros ainda, podendo ter acertado as crianças. Depois de atirar, a policial ainda se protege atrás de um carro com gente dentro, colocando, possivelmente, uma mãe e outras crianças em mais risco. Sem contar que o assaltante poderia ter um comparsa, né? E a autopreservação dela também dificilmente estaria em risco ao não reagir, pois um ladrão tem pressa, não fica revirando e conferindo bolsas antes de levá-las, de forma que é praticamente nula a hipótese de ele descobrir que ela era policial, pois a arma estava na bolsa (isso quando levam bolsas, normalmente só pegam celulares, às vezes carteiras, já que dá muito na cara em uma fuga; se fosse o caso dele não levar a bolsa dela, poderia ainda reagir assim que ele desse as costas e ela olhasse ao redor para saber se ele estava só, com o clássico: "pare, se não eu atiro"). Sim, a ação dela, que idiotas estão comemorando como um título, foi um desastre! Pura questão de sorte não termos uma tragédia – e olha que estamos falando de alguém que em teoria recebeu treinamento para isso e trabalha com segurança pública, não você que quer uma arma para pagar de fodão. Um bem material não vale uma vida. Jamais! [Obviamente não estamos indo contra o direito de legítima defesa. Por favor! Mas, se for possível evitar a morte de qualquer pessoa, tal deve ser feito. Pelo que parece, ela dá mais um tiro nele, já ferido e caído ao chão, rendido, com as mãos para cima].
     É muito sério um governador homenagear essa situação, com tal atitude ele está, no mínimo, indiretamente, reforçando a reação equivocada, a guerra de todos contra todos e a pena sumária de morte de excluídos. Não se tira foto sorrindo onde há um ser humano morto. Isso é o que Hannah Arendt chamava de "a banalização do mal". Estamos falando de uma sociedade tão desigual, feita em prol de uma pequena elite, onde quase todas as pessoas estão vivendo uma pressão inominável para sobreviver, a um passo da criminalidade, enquanto enriquecem, com seu trabalho, aqueles que não fazem nada. Esse assaltante poderia estar roubando por não ter como alimentar os filhos. É fácil falar não estando em uma situação assim, longe do inferno que ele pode ter nascido e crescido. Como canta o músico Emicida: "Eu queria te ver lá, tirissa, pra ver onde cê ia enfiar essa merda do seu senso de justiça" (Música: Cê lá faz ideia). Não estou defendendo que as pessoas comecem a assaltar, mas é preciso reconhecer que a abissal desigualdade socioeconômica é o que gera isso, colocando as pessoas sem saída, facilmente. E quando não estão na completa miséria, por completa ignorância, pensam que vão aparecer e/ou conseguir subir, saindo para o ataque. Além disso, muitos estão movidos pelo vício de drogas também, sem ter nada a perder, outro ponto que não será resolvido à bala.
     Enfim, só não tem mais gente atacando e roubando pessoas assim, por medo, de ser preso ou acabar morto, ou ainda de deus. Solução para esses casos não é execução sumária, não é pena de morte e muito menos cada um ter uma arma na cintura (vai fazer o que, frente ao elemento surpresa?). Não seja esse cara que não enxerga um palmo à frente do nariz, que só se informa pelos programas dos Datenas da vida.