quinta-feira, 17 de maio de 2018

Ambulantes roubados pela PMerda e pelo Kalil

       A PMerda (qualifico assim a partir da incabível lógica militar e dos que tive contato, sei que não são todos) e os fiscais da Prefeitura de Belo Horizonte - MG, do prefeito Alexandre Kalil, estavam fazendo uma operação de “limpeza” na passarela da estação do metrô da Rodoviária, onde normalmente ficam ambulantes vendendo produtos como balas, meias, cigarros e outras coisas simples.
    Chegaram com a truculência e arbitrariedade costumeiras, como animais correndo atrás de trabalhadores, que fugiam aos gritos, desesperados. Ao aproximar, os vejo cercando um homem negro, que estava quase passando mal de nervoso. Fico acompanhando e vejo-os pegar a pochete dele e levar junto com a escassa mercadoria. Ele começa a dizer que a pochete não estava à venda; aí eu não aguento e interfiro:

      [As cores são apenas para identificar mais facilmente quem fala].

    Falo para o ambulante, de maneira que os trogloditas fardados pudessem ouvir também, eles não podem apreender os pertences pessoais do senhor. Aí um policial com cara de adolescente chega aos gritos, perguntando: quem é você?; no que eu respondo: sou um cidadão, e ele: você sabe alguma coisa de lei, sabe o que é ter uma formação? [mesmo papo de outra abordagem que os questionei < link]; respondo: sei cara, sou formado e tudo mais. Ele puto me pede o documento, no mesmo tom esbravejante. Prontamente entrego e continuo acompanhando o ambulante. Aí o outro policial que estava com ele, literalmente bufando, berra: vai para parede! – numa tentativa patética de vingar a minha “afronta” (entre aspas, pois isso é afronta só para esses fascistas que se acham deus, já que apenas orientei um cidadão sobre seus direitos). Vou. Aí o primeiro pega minha carteira, e eu viro para ele, ainda com as mãos na cabeça, sendo revistado pelo segundo, falo: você tem que olhar ela na minha frente, ele faz menção de abrir, eu repito alto, a revista dela só é permitida na minha frente; ele, surpreso com alguém não abaixando a cabeça na sua presença, visivelmente sem saber exatamente o que fazer, responde, enquanto o outro ainda me revistava: olha para cá então; eu digo: seu colega está me revistando, viro para o revistador e digo, eu tenho que olhar minha carteira. Ele me solta e diz, olha, mas você vai com a gente. O soldado, olhando minha carteira, vê meu antigo cartão do Hospital Militar (meu pai foi militar), aí já vem querendo se explicar – um parêntese: esses soldados novos tremem para hierarquia, só de pensar que meu pai poderia ser alguém de patente superior, ficam assim, por essas e outras saem descontando na população o que passam lá dentro –, dizendo que o cara era bandido, que era conhecido por eles. Eu falo: o passado dele não vem ao caso, sobre isso eu nada posso dizer, posso sim dizer o que presenciei, vocês e os fiscais levando pertence pessoal dele. Nisso, ele já perdendo o controle, fala: quero conversa não, se é assim, você vai com a gente, vai testemunhar então; eu respondo: ir aonde? Não sou obrigado a testemunhar, estou aqui orientando um cidadão; ele: se eu colocar aqui, você vai agora; eu replico: você está enganado, vamos ver com seu superior, então. Ele responde: vem com a gente até aquela viatura [apontando tal a uns 30 metros à frente]. Vejo vários outros policiais lá, junto de diversas pessoas; vou.

       Desço a passarela, acompanhado do ambulante e dos dois policiais, e encontro um sargento. O policial que pegou minha carteira vai até ele, fala algo ao ouvido, ele me chama e começa a querer justificar, dizendo os maiores absurdos, sem pé nem cabeça: que eu deveria conhecer a polícia, que eu fui criado pelo dinheiro da PM – no que eu cortei ele e já disse: não, eu fui criado pelo trabalho do meu pai –, que eu estava defendendo bandido e, acreditem, que a bolsa [pochete] era usada para guardar o estoque! O próprio ambulante interveio dizendo: vou guardar estoque de quê nessa bolsinha, gente?. E mesmo quando se trata de algo usado para guardar mercadoria, tal não pode ser apreendido. Comecei a responder e ele logo me interrompeu, dizendo que não estava no comando da operação, que era para eu ir falar com o tenente mais à frente. Quando começo a me dirigir até o indicado, o soldado que havia pegado minha carteira veio conversar, já com o tom bem mudado, mas o deixei falando sozinho e fui até o tenente. O tenente começa a me escutar, quando viro para mostrar o ambulante, ele não havia me seguido, e os três policiais também não, o ambulante não está mais na minha vista – o que certamente aconteceu é que eles o ameaçaram e mandaram dar o fora. Mesmo assim, percebendo o que tinha acontecido, continuo a contar a história para o tenente, colocando claramente os dois pontos de abuso: seus militares levando pertences pessoais dos ambulantes e a revista injustificada, portanto abusiva, que recebi, indiscutivelmente como forma de represália. O tenente disse que os fiscais já haviam levado o material e que, dessa forma, não daria para verificar, ainda mais sem a vítima. Quanto à revista, disse o padrão, que ali é uma área perigosa e não dá para confirmar se a revista foi uma forma de represália. Eu apontei o soldado que havia feito a revista para me intimidar e falei: o senhor poderia o chamar aqui, ele fingiu de bobo, desconversou e disse que via que eu era um cidadão de bem”  – o clássico e idiota jargão usado por eles como mantra, "cidadão de bem"; é muito fácil ser "cidadão de bem" não estando em uma posição de exclusão e miséria, cara pálida! Ser "cidadão de bem" para o pobre é o que? Aceitar a escravidão e a fome calado?! E ainda ele julga "cidadão de bem" pela cara, fala sério, viu! – e foi saindo dizendo que estava agarrado. Esse é o tratamento que a PMerda dá! [Não obstante, não nego que o tenente me ouviu relativamente numa boa e, em certa medida, ele tinha razão, afinal, o ambulante que presenciou e vivenciou tudo não estava lá para confirmar os fatos, mas, ao fim, ele não fez nada, nem mesmo a menor apuração que cabia, a saber, um questionamento direto aos militares envolvidos].

      Voltei para a passarela, não vi mais os policiais que me abordaram. Encontro o ambulante e alguns amigos dele mais à frente da mesma. Perguntei porque ele não foi lá, ele disse, com visível medo até de explicar: não dá em nada e eles marcam a gente. Eu falei: eles têm que te devolver a pochete, tente ir à Prefeitura, ao menos; ele respondeu: a gente é humilde moço, se chegar lá, eles jogam é uma multa de mil conto na gente. Nisso um dos amigos dele, um senhor magrinho, negro, me disse que haviam levado dele, além da mercadoria, o seu carrinho; eu fiquei puto! Cara, que revolta, ele dizendo: são 90 pila agora, eu não sei como vou fazer. Não seria efetivo, mas, segurando na única coisa ao alcance ali, eu falei com ele: você tem que abrir um B.O., a Prefeitura não pode ficar com ele, tem uma van da PM que registra, logo ali na frente, e o tenente responsável está aqui; ele respondeu: não dá em nada, um conhecido meu correu atrás disso e perdeu tempo. Ele estava com muita raiva, e eu também, por não poder fazer mais nada... Eles estavam certos, reclamar para a própria instituição que abusou deles, e corporativista até não poder mais, não seria grande coisa.

     Governantes a serviço dos ricos e dos grandes empresários. Esta é a nossa sociedade: não deixa aqueles que vêm da miséria se quer trabalhar! E, além disso, literalmente os rouba, para que eles não insistam em conseguir o pão, onde os favorecidos dizem que não pode.

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