sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Quem gosta de filme, não vai ao cinema

Hoje foi a gota d'água, assino o atestado de óbito do cinema.

Antigamente ir ao cinema era algo valorizado, marcante, hoje todos sabemos que isso se perdeu, desde que qualquer shopping passou a ter um. Mas não escrevo por saudosismo; mas para destacar e criticar a imensa e indescritível falta de educação, trato e bom senso de muitos frequentadores.

Já há algum tempo tenho ido muito pouco ao cinema, devido ao óbvio: conversas, barulho de gente mastigando intermináveis sacos de pipoca (mesmo nos filmes mais dramáticos e nas cenas mais fortes – não consigo conceber como isso é possível pra alguém que tem um cérebro dentro da cabeça), chupando litros refrigerante pelo canudinho, discutindo todo tipo de merda, contando o filme (spoilers), levantando durante o mesmo, chegando atrasado e tampando sua frente, sem contar os inúmeros odores, etc. Isso tanto em cinemas de shoppings populares ou nobres, embora nos últimos a merda seja um pouco menos gritante.

Com o advento da propagação do celular e dos preços reduzidos nas ligações, a falta de educação se mostrou também via esses aparelhos (não estou condenando uma classe social, vemos isso tanto por parte de pobres como de ricos). Perdi a conta de quantas vezes ouvi celular tocar durante o filme, não obstante os "agressivos" avisos para desligar o aparelho – o que diga de passagem, nem precisava pedir para gente civilizada; e no mais das vezes, quando tocava, o infeliz dono do trambolho, ao invés de ficar todo sem graça e enfiar o telefone no cú, atendia na maior cara de pau!

Enfim, das últimas vezes não aguentei algumas situações, cito duas delas para ilustrar: 1ª - fui assistir o último Harry Potter – calma, ninguém contou o final, se fosse o caso, com certeza derramaria sangue, rs... –, tinha um palhaço querendo aparecer a qualquer custo, fazendo uma gracinha atrás da outra pra todos ouvirem, tentei manter a calma, sério, mas no bilionésimo relincho gritado que o sujeito soltou perdi a paciência, mandei o cara pra puta que o pariu, criando um clima tenso no cinema, se saíssemos nas vias de fato o que não faltaria seria gente pra linchar o mané, embora muitos outros estivessem conversando alto e rindo como se estivessem em casa. 2ª - Outro caso foi quando assisti "Wolverine Imortal"; fui na sessão de pré-estréia (pelo menos evitaria que alguém contasse o final do filme), num cinema nobre, começando 00:00. Pensei eu que estariam presentes só fãs do filme (e não meros devoradores compulsivos de pipoca), mas muitos estavam ali não sei pra quê (detalhe, pagando caro, né); confesso que a bagunça foi bem menor do que de costume, mas não deixou de ter os mesmos inconvenientes (ora, estamos no Brasil!). Fora os incômodos clássicos, dei azar de ter um casalzinho fdp do meu lado, a menina não fazia a menor ideia de quem era o Wolverine ou os X-men, fingindo interesse, ela perguntava o babaca alguma coisa praticamente todas as cenas do filme (metade delas as mesmas questões), e ele, um nerd ordinário, explicava todos os detalhes até ela dormir. Essa conversa foi ficando cada vez num tom mais alto, cada vez mais irritante, e quando ele começou a ler em voz alta a legenda pra ela (é isso mesmo que você leu!), de novo apelei - até Gandhi teria feito o mesmo no meu lugar dessa vez -, o cara se mijou todo e ficou por isso mesmo.

Finalmente, o que me levou a decretar o óbito do cinema: o filme "12 Anos de Escravidão" já está um bom tempo em cartaz, vi que tinha uma sessão à tarde num shopping que não costuma encher, não é um filme voltado pra cultura de massa, não atrai aborrecentes, vai concorrer a vários oscars e, como curto paca ver a cerimônia de premiação, animei de ir. Doce ilusão. O único lado positivo foi que o filme é excelente, pois a experiência de vê-lo foi muito prejudicada pelo desrespeito, incapacidade ética e falta de educação crônica que se vê no Brasil. Ainda não havia comparecido ao cinema depois que os smartphones, androids, tablets e cia viraram febre, estava parecendo o show do U2 quando o Bono pede para apagar a luz e todos ligar o celular! Antes do caso mais grosseiro, quero destacar outro que não pode passar batido: havia um casal cinquentão falando alto como se estivessem deitados na cama vendo uma novela da vida, mesmo pessoas de mais experiência sem qualquer consideração aos outros. Bom, vamos ao fato consumatório: havia ao meu lado um troglodita acefálico com uma jumenta falante usando uma daquelas telhas "Ai-sei-lá-o-quê" acesas o tempo todo, parecendo o farol do Batman, foi simplesmente o CÚMULO no que diz respeito a ficar conectado à internet o tempo todo, DENTRO DO CINEMA! Não sei se você capitou bem, a jumenta ficou o filme todo no Facebook, vou repetir, o filme todo no FACEBOOK! Pagar R$ 20,00 (certamente ela não paga meia-entrada, não deve se quer saber o que significa a palavra estudante) pra usar o Facebook e afins durante o filme, alguém consegue pensar em algo mais estúpido? Eu não. Se esse "ser que faz a gente se envergonhar por ser da mesma espécie que ela" tivesse sentado no fundo da sala, vidrada naquele farol a cegando, que se dane, defendo o direito dela ser idiota, mas ela estava no centro do cinema! E não pára por aí, aquela telha começou a tocar, e adivinha, claro, ela atendeu e começou a falar como se estivesse em um boteco da vida! Eu a olhei com um olhar tipo "é sério que existe um ser tão viu, desprezível, baixo e medíocre como você?", até o troglodita sentiu vergonha de estar com aquele estrupício ao lado, frente à minha expressa desaprovação, quando ela minimamente se tocou e disse para a amiga de fofoca que ligaria depois.

Tentei ser estóico e me concentrar no filme, felizmente tive êxito na maior parte; mas algumas vezes me passou pela cabeça o que leva alguém a ficar com uma mulher daquela, aguentar a presença dela ao lado por uma hora que seja, mesmo que ela fosse muito gata (o que não era o caso), imaginando o grau de demência que alguém tem que ter para tal. A resposta veio ao final do filme: o sujeito levanta e simplesmente esquece a carteira e a chave do carro na poltrona, saiu como se estivesse tudo normal, deu sorte que a jumenta percebeu a tempo e voltou correndo. Esquecer pertences é um fato normal que pode acontecer com qualquer um? Sim. Mas devido as circunstâncias, tal se tornou uma grande evidência para corroborar a minha hipótese, qual seja, jumento e jumenta formam um belo par!

Alguns de vocês podem interpretar tais como fatos isolados, mas infelizmente não se trata disso. Destaco esses casos, mas basta ir ao cinema em qualquer dia ou horário pra ter mais um pra contar, no mínimo você terá as encheções de saco típicas e corriqueiras já descritas acima. E não faz mais sentido ir ao cinema pela imagem, as TVs de hoje dão de 10 a 0 naquela imagem meia-boca. Vale ainda destacar a péssima legenda branca sem contorno nas letras que literalmente somem em cenas claras (se não soubesse inglês, de boa que já teria parado de frequentar por isso). Não é nem mesmo um bom lugar pra levar alguém que você quer ficar, apenas mostra a sua falta de criatividade.

Em suma, devido à falta de educação, modos, gentileza e civilização alheia, quem gosta de filme não vai aos cinemas. Por essas e outras não podemos achar ruim quando vemos um gringo de país de primeiro mundo falando mal do comportamento animalesco brasileiro.