terça-feira, 25 de outubro de 2016

OCUPAÇÕES NA UFMG

      Pior do que o Fascista de Direita é o Facistinha de Esquerda (pseudo-esquerda na verdade, tendo em vista que a maioria desses empolgadinhos demais não leu um livro se quer de um teórico clássico). Pois assim vão contra as ideologias mais elementares de transformação, justiça e igualdade sociais.

      Estive hoje na Assembleia da FAFICH, de longe a mais improdutiva que vi na vida (perdemos a oportunidade de usar um quórum tão expressivo), não votamos nada relevante e de fato decisório, no mais das vezes vimos falas inocentes, sem conteúdo, utópicas e irreais ao extremo, previsíveis e repetitivas (muita gente falando para aparecer, várias vezes, sem pensar antes). Enfim, mas não é meu objetivo fazer uma resenha da fatídica assembleia, seria perda de tempo, o ponto é outro, qual seja, a ocupação do CAD 2.

      Narro: após a “assembleia”, vou ao CAD 2, entrar para ver como está a ocupação. Chego à porta e já pulam duas pessoas na minha frente, pedindo meu nome e curso (Erro 1: a ocupação pode e deve ser fortalecida por pessoas que não são estudantes - ainda mais por estar faltando gente, como reclamaram na assembleia; Erro 2: se for para pedir identificação, que seja a identidade ou a carteira da UFMG, caso contrário é piada); em seguida eles me deram uma fita crepe escrito “VISITANTE” (em vermelho, gritante, mas até aí aceitável, né); peguei a fita e uma das pessoas já falaram enquanto eu olhava para tal, “cola em você agora” – eu olhando para a cara dela, tipo, ok, calma –, ela tentando se justificar, simplesmente disse: “estamos pedindo para todos isso”. Beleza, não discuti, não valeria a pena, colei e fui entrando, quando aconteceu o maior absurdo, motivo de escrever esse texto:

      A “porteira” do QG me disse: “Espere! Alguém tem que entrar com você”. Surge um moleque (que quando eu estava entrando no curso de Filosofia ele devia estar formando o primário), com pouco mais que metade de minha idade, já de cara me questiona o que eu penso da ocupação (como assim, tem que falar bem para entrar?!) e começa a andar do meu lado como um guarda-costas, olhando-me dos pés à cabeça, gaguejando e tremendo como uma vara verde (o mané estava com tanto medo que comecei a ficar com pena, troquei ideia com ele para ver se ele relaxava). Sem cabimento! Se você for ao banheiro do CAD 2 agora terá alguém para sacudir para você. Fala sério!

      Isso fode o movimento! Quem foi o Jênio que propôs essa merda?! O resto normalmente vota como gado, quero saber de fato quem propôs, se veio de um desses que se acham líderes, "formadores de opinião" (expressão cômica e patética, diga-se de passagem) e donos do prédio. Além de ser contra à lei (no caso dessa, lei boa e justa, penso), barrar alguém de entrar em um prédio público assim é dar motivo para até pessoas de fora falarem. Há alunos na UFMG sem posição formada sobre as ocupações e vários outros contrários (o que não é o meu caso, diga-se de passagem, antes que surjam os ad hominem, mas muitos são tão antigos quanto eu e verão isso como uma afronta) que tem o direito de entrar ali, agindo assim só dividirá a pouca voz que temos. (A propósito, houve gente propondo bater de frente até com o reitor que feliz e inesperadamente se colocou prontamente contra à PEC 241!).

      Essas atitudes estragam qualquer pauta de esquerda. Por essas e outras a cada vez mais estou desanimado (hoje boa parte do pessoal de “esquerda” nem mesmo sabe o que é ser de esquerda). Antes que algum desses pseudo-revolucionários que nunca deu a cara para bater e que nunca ralaram um dia na vida (e nem sequer leram a PEC em questão para variar – a meu ver absurda, sim) “argumente”, a possibilidade de visitantes danificarem algo não justifica. Não se arranca o braço porque sua unha está doendo (ou pior, pode vir a doer! rs). Se o possível "delito" não foi ação do pessoal da ocupação, não foi e ponto final. Os CADs têm câmeras, eles que provem o contrário. Quanto à mídia, ela não precisa de quebra-quebra para negativar nada (estamos carecas de saber, espero). Sem contar que quebra-quebra pode ser também um ato de expressão, mas não vou entrar agora nessa seara, basta dizer que por dizer isso não estou defendendo tal nessa situação. Fato concreto é só um: negativado já está é constrangendo assim alunos que querem ver (e quem sabe aderir) a ocupação. Por essas e outras muitos dizem que o último objetivo de boa parte dos ocupantes é realmente político. Política se faz com diálogo, liberdade, não com imposições baixas assim!

      Já dizia Nietzsche: "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro".


FASCISMO NA OCUPAÇÃO NÃO É EXCLUSIVIDADE DO CAD 2:

      Hoje (26/10/2016) estive no CAD 1, mesma regra, só entra quem concorda e acompanhado de “guarda-costas”. Há atos de extremo fascismo no IGC também, explicarei e detalharei o absurdo a seguir. SALVA APENAS A FAE, lá a ocupação está como se espera: com liberdade, respeito ao direito de acesso e consciência política.

      No intervalo de minha aula à tarde fui ao prédio do IGC. Na portaria a mesma “identificação” cômica. Entro na sala de computadores. Menos de um minuto depois entram dois alunos atrás (um menino e uma menina), daquele naipe, jovens que acabaram de se tornar de maior e se acham os donos do mundo, curtindo a vida sem ter que dar a mão para mamãe para atravessar a rua pela primeira vez, saca? O rapaz vira para mim e grosseiramente diz: “o que você está fazendo aqui?”, “você é aluno?”. (Observem que eu já havia me identificado na entrada). O sujeito tentando me intimidar assim, exatamente com essas palavras. Lembrando que os computadores da UFMG são liberados apenas com senhas do “Minha UFMG” (cadastro de alunos), ou seja, ou o sujeito é um calourozinho que está na universidade apenas para brincar, que até hoje só usou o iPad que o papai deu, ou é burro, convenhamos. A menina completando disse: "não vai poder usar o computador". Eu tinha poucos minutos livre, e já puto com a abordagem deles, falei: “cara, eu não tenho que me explicar para vocês”. Nisso a menina disse: “você vai sair daí agora”. Eu falei: “nem se o Presidente chegar aqui”. Ela pensou que eu estava me referindo ao suposto “líder” da ocupação, rs – foi chamá-lo. Nisso o cara entra, num tom mais educado que os colegas, é verdade, se dirige a mim, mas fazendo uma pergunta onde não cabe mais autoritarismo, ele disse: “o que você está fazendo no computador?”. Acreditam nisso?! O cara queria saber o que eu estava fazendo no pc! Eu nem iria dirigir a palavra para ele, fiquei um tempo o olhando para ver se era isso mesmo, na verdade só o respondi por conhecê-lo de outras manifestações e sei que é um cara com boas intenções. Só mostrei o quão absurdo era o que ele estava me perguntando, ele desconversou. Eu não tinha mais tempo a perder, resumindo, o disse que não sairia dali, que tinha direito de estar ali e de usar o computador como eu bem intendesse. Ocupar não significa rasgar a Constituição, obviamente.

      Aí em menos de cinco minutos termino de usar a máquina, saio lá fora; havia mais de trinta pessoas debatendo a situação, cobrando do sujeito para me tirar de lá (sem brincadeira, não sei o que rolaria se eu fosse um cara franzino). Isso mesmo, TRINTA PESSOAS para discutir qual atitude fascista iriam usar para tirar-me de lá! Eu disse para eles que sairia quando quisesse, e questionei o que fariam com quem discordasse deles então, já que estavam agindo assim em relação a alguém que é contra a PEC 241 e apoia ocupações. Perguntei se queimariam o cara. Aí começou insultos do mais baixo calão e gritaria (teve uma menina que do nada me chamou de machista, tudo o que eu havia feito foi perguntá-la, após ela ter berrado no meu ouvido "cuzão", porque ela estava gritando para me expulsarem de lá). Nisso alguns não tiveram o pudor de dizer que eles não ligavam para a existência de leis (nem a lei que preza a liberdade que supostamente lutam por, que permite exatamente o livre acesso a lugares públicos, olha o nível!) e outros disseram ainda que eles faziam as leis que queriam. Ao sair uma menina disse que eu não entraria mais, a perguntei por que, ela ficou sem resposta, nem sabia o que tinha acontecido! Típico de fascistas alienados. Verdade seja dita, só não fui linchado devido ao meu tamanho. Ocupar um prédio não é tomar posse do lugar e criar um novo Estado, impedindo que os próprios alunos entrem! Vergonha total desses pseudo-revolucionários, que se dizem marxistas sem se quer ter lido uma página de Marx. Sou de esquerda, lamentável ver o desfavor que esses fascistinhas fazem às nossas pautas.

      Tendo em vista o Senado que temos, a absurda PEC em questão provavelmente vai passar, de forma que o que ficará será nossa atitude, como estamos articulando a voz contrária. Ela não pode ser ecoada assim, pois dessa maneira sairemos piores que entramos. Enfim, por essas e outras: CONTRA A PEC 241, MAS AINDA MAIS CONTRA AS OCUPAÇÕES FASCISTAS NA UFMG!