domingo, 25 de fevereiro de 2018

Lastimável trânsito nosso de cada dia


      Estava querendo escrever esse texto há um bom tempo, é tanta barbeiragem que presenciei desde a ideia inicial que é difícil escolher entre elas para citar. Em partes reforçarei alguns exemplos que aponto no meu texto Pedestres e ciclistas multados: piada pronta e covarde. Não obstante, o tema aqui é outro. Em todo caso, serei breve. Não focarei no padrão sobre esse assunto, isto é, no número enorme de mortes e acidentes graves no trânsito caótico que temos Brasil afora, nesta ocasião, basta dizer que sempre estamos bem acima da média mundial nesse quesito. Meu foco será nas “pequenas” merdas diárias, até porque elas revelam o porquê dessa natureza grotesca, que acaba com tantas vidas.

      É difícil encontrar uma expressão que defina nosso trânsito, mas guerra de todos contra todos é um bom caminho. O pior aqui, a meu ver, é o fato de que as pessoas tratam absurdos como normal, por exemplo, preferência do pedestre só se vê no conto de fadas chamado autoescola e olhe lá. Por falar nisso, aqui a autoescola não é vista como um lugar que se aprende a dirigir, mas um lugar de calvário, onde se deve decorar umas “bobagens” para enganar o instrutor/avaliador na hora do exame.

       Sério, é impossível sair às ruas de, no meu caso, Belo Horizonte, sem ver várias infrações, sem passar raiva, seja você quem for no trânsito. E nessa seara eu normalmente represento o grupo mais prejudicado: os ciclistas. Aqui veículos automotores não aceitam dividir espaço com uma bicicleta, por 10 metros que seja eles te fecham e jogam o carro em cima, teve um imbecil que me fechou uma vez, na Av. Afonso Pena, que tem várias faixas, para ficar parado no sinal logo à frente. Outra, um mané, de madrugada, com uma lata velha que não pagava as rodas da minha bike, ficou buzinando atrás de mim como louco, sendo que bastava ele trocar de faixa para me ultrapassar, se sentindo ultrajado por haver uma bike utilizando a faixa – por fim, quando desistiu e me ultrapassou pela outra faixa, além de passar raspando, saiu me xingando de tudo. Os próprios motoqueiros, que em matéria de resistência a impacto não estão muito longe de uma bike, não respeitam a presença delas, uma vez um fez questão de passar raspando em mim, quase provocou um acidente, todo puto com eu nem sei o quê, a não ser o fato de eu estar descendo a rua no meio da faixa, como qualquer veículo faria. E na única vez que me envolvi em um acidente, o moleque que estava no volante, saindo do acostamento (ele achou que eu não existia), jogou o carro na minha frente, para pegar a contramão – se ele tivesse “só” jogado na frente do nada e fosse ao menos na mão, o acidente não teria ocorrido; machuquei pouco por ter percebido e preparado para a batida, cortei um pouco os dedos e bati a coxa no retrovisor do infeliz, se não fosse isso poderia não estar aqui agora. O cara assumiu a culpa e ficou de pagar; resumindo a história, ele enrolou até eu ter que entrar na justiça. Na audiência o Jênio chegou a dizer na tentativa de se justificar, pasmem: “ele estava andando de bicicleta na rua”. Sério! Até a juíza ficou olhando para a cara dele como se aquele ser fosse um macaco fugido do circo ou coisa que o valha. Mas a verdade é que ele representa a mentalidade (se é que esses lunáticos têm mente) de inúmeros condutores, que acham que bicicleta só pode no passeio ou na praça, ou sei lá, voando por aí. Evidentemente ganhei a causa, e o babaca teve ainda a petulância de tentar descontar o valor do retrovisor no acordo, acreditam nisso?! Pois é, situações como essas são enfrentadas todos os dias por ciclistas, é o famoso "bate e corre" que temos que aguentar. O desrespeito é total e completo, a própria ciclovia é usada como calçada por pedestres e acostamento para alguns carros e motos.

      Mas a loucura não atinge só aos ciclistas, como eu disse, todos sofrem. É um querer tirar vantagem em tudo que chega a ser inacreditável. E essa atitude é pura ignorância, o imbecil não tem capacidade de abstração, não consegue olhar para o todo e perceber que ele furar um sinal da vida é só uma “vantagem” aparente, que o prejudicará logo à frente, que atrapalhará outros veículos e pedestres, que provocará o ódio, de tal forma que o pseudo ganho de tempo se torna atraso e conflito. Sempre que você vê um carro parado avacalhando um cruzamento qualquer é porque não parou no sinal amarelo, que por sua vez, na prática contraria a teoria, para quase todos significa “acelere mais”. Isso quando não avançam o sinal vermelho na cara dura – só não fazem com mais frequência para não bater com outros carros, quando não tem carros no cruzamento é impressionante como não dão a mínima para o pedestre, até onde há sinal de pedestres. [Nem precisa dizer que quando o sinal de pedestre começa a piscar, quando há pedestres exigindo seu direito (a maioria sai correndo, por questão de sobrevivência, claro), as motos já saem cortando as pessoas e os carros jogando em cima]. Vale lembrar que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) diz que o pedestre e o ciclista tem preferência sobre os automotores mesmo quando o sinal estiver verde (Art. 38, 58 e 214), que não se pode passar ou ultrapassar bicicleta sem manter distância lateral de 1 metro e 50 centímetros (Art. 201), e que ameaçar o pedestre ou o ciclista com o carro é infração gravíssima (Art. 170). E depois ainda reclamam do trânsito, esses sujeitos não estão habilitados nem para andar de velotrol!

      E a propósito, a PMerda não faz nada, fingem que não é com eles, ainda mais se não houver denúncia formal. Já vi vários absurdos acontecerem debaixo da barda dos steve e nada, inclusive uma Kombi suspeita andando na contramão, paralela a uma viatura, e eles como se estivessem no mundo dos ursinhos carinhosos. Eu não estive fora do país ainda, mas pelo que a gente vê nos países de primeiro mundo, a coisa é tão diferente (mesmo quando tem problemas), ao ponto de ser inimaginável um carro parado em cima da faixa de pedestres com a polícia ao lado – cena que aqui é cotidiana. Som alto no carro, já parou para pensar que loucura, que abuso? Mas aqui pode tudo. Uma vez tinha um trator em plena Praça Sete, colocando todos em risco, correndo como um louco, avacalhando o trânsito em todos os sentidos e ainda sem placa, fui avisar os fardados que estavam fingindo de égua dentro da viatura, eles disseram que não podem fazer nada, retorqui, “o cara talvez nem seja habilitado, o trator se quer tem placa!”, ele simplesmente me disse para reclamar na prefeitura e foi saindo. E por falar na prefeitura – que evidentemente não tinha nada o que fazer no caso narrado –, e no governo em geral, via de regra não realizam os reparos mínimos (o que dirá construir novas vias, passarelas, calçadas e etc), aqui um simples semáforo de pedestre chega a ficar estragado um ano. 

      Em uma dessas milhares de insanidades, uma vez havia uma velhinha com uma criança, na faixa de pedestre, querendo atravessar a rua, para chegar a uma praça, não era na área central, mas um bairro, ela estava há uns cinco minutos com a criança nos braços e ninguém parando! Levantei de onde estava, e não acreditando naquilo, fui atravessando na cara dura, parei no meio da rua e a chamei, e nem assim todos carros e motos pararam. Uma outra que ilustrou o caos instalado de forma plena: eu, vindo na rua de bike, paro na faixa para uma senhora atravessar, ela olha para mim e fica imóvel, eu faço um sinal com a cabeça, em seguida falo: "pode ir", no que ela responde: "não posso, é perigoso o carro atrás querer passar por cima de você", insisto, os carros atrás começam a buzinar, ela não se move, eu pedalo e sigo caminho. Triste, mas ela tem razão, de fato corri esse risco, se nos seus automotores envoltos de aço não respeitam o pedestre na faixa, porque respeitariam um ciclista que não desrespeita o pedestre, né? É surreal. Em uma palavra, o outro não existe. E o cara não percebe que ele é pedestre assim que sai do carro. O problema começa quando existe uma cultura que coloca o sujeito dentro de um carro como alguém melhor, o cara com a lata velha mesmo que menciono acima, ele se achava um verdadeiro transformer dono da rua e puto por ter uma “mera” bike usando o lugar que ele pensa ser dele. Aqui no atropelamento eles culpam é a vítima! Mas enfim, como eu disse no começo, os exemplos vão ao infinito, seta mesmo, uma coisa que ajuda tanto a todos ao redor do maldito carro, basta o jumento apertar um botão, mas o cara não dá a maldita seta. Direção defensiva então é algo que é perigoso eles perguntarem se é de comer. Distância mínima entre um carro e outro é piada pronta. As filas para entrar em uma rua, os caras jogam na frente de outros carros, e saem como se não tivessem feito nada, vi uma vez um esperto de cú (que é rola!), com a família toda no carro, a fila da direita enorme para entrar na rua seguinte (daquelas que são só para uma faixa), ele chegar na maior cara de pau na faixa do meio e jogar o carro na frente de todos, sem o menor pudor, quase subindo na mureta, o que parecia ser a mãe e as filhas dele estavam no carro, do nível que você não acredita. E isso é toda hora, ainda mais se o carro do energúmeno for grande.

      Não precisamos ser como um Japão ou como uma Suíça (até lá teríamos que nascer de novo como nação), mas aqui não tem o respeito básico, mínimo para se ter um trânsito, o que temos aqui é um ensaio de trânsito, também conhecido como filme de terror coletivo. Dá inveja dos países de primeiro mundo. Um cara que usa carro aqui se sente humilhado ao ter que eventualmente pegar um transporte público, movido desde sempre por esse sonho alienado de se ter um automóvel, jamais vai perceber que o primeiro é a solução para a mobilidade, sobretudo nas grandes cidades. Penso também que boa parte dessa animalidade é fruto de falta de escolaridade, de instrução básica mesmo. Mas não só, é algo enraizado na cultura imbecil do trânsito brasileiro. Hoje mesmo, uma madame passou o carro no sinal fechado, e eu esperando para atravessar, ela olhando para a frente, com o nariz empinado, como se eu, pedestre, fosse um lixo que deve ficar calado, pegando o boi dela não passar por cima – isto é, se eu não ousar atravessar antes dela passar. O que me assusta é que é o tempo todo, talvez nem te chame mais atenção, por estar tão acostumado com o absurdo, como minha mãe mesmo, que teme os carros como foguetes mortais, sempre, e se vira ou pára aceitando os mais diversos ultrajes (que em última instância não dá para ser muito diferente, afinal, o cara está colocando o para-choque e você sua perna, de forma que eu vou até certo ponto, evidentemente). Carros em cima do passeio aqui é algo tão comum como cadeiras de bar bloqueando a calçada. Saindo de suas garagens então, os caras estão cagando para os pedestres, pode ser mulher grávida, deficiente físico, idoso, criança, que eles não estão nem aí, vão jogando de fininho em cima (quando não saem voando), e nas raras vezes que param de "bom grado", acham que estão fazendo um grande favor ao invés de cumprindo uma obrigação, de tal forma que ficam putos se você não agradecer em submissão, e passar correndo, claro. Desrespeitar o pare, ultrapassagens não permitidas, parados em fila dupla, em lugar "proibido" então, inusitado é quando cumprem a regra! Um amigo meu dos EUA me disse que ele quase foi atropelado algumas vezes quando chegou aqui, ele ficava de boca aberta ao ver como não existia preferência do pedestre em lugar algum, nem em lugares fechados, nem nas faixas. E ainda o vampiro que usurpou o poder quer cobrar MULTA de pedestres e ciclistas. VÁ ARRUMAR O CAOS NO TRÂNSITO DOS AUTOMOTORES ANTES DE ABRIR ESSA TUMBA PARA FEDER! [Link do meu texto sobre isso no primeiro parágrafo] #ForaTemer

      É lamentável cara, e ainda boa parte da galera quer andar armada. Ia ter morte o tempo todo, pois tem hora que dá vontade de matar o/a filha da puta mesmo, viu! Tente sair da cauterização e experimente contar quantas infrações de trânsito você vai se deparar na próxima vez que sair para o trabalho, escola ou qualquer outro lugar – comece pelas infrações gravíssimas segundo o CTB, motociclistas que não usam a viseira (Art. 244) e motoristas com o celular na mão (Art. 252). E se você é um desses “espertões de cú”, se oriente, desgrude a cara do seu mundinho e comece a perceber que prejudicar os outros é prejudicar a si mesmo! E não me venha com o “faço porque os outros fazem”, a irracionalidade não se justifica por isso, ser um babaca não é ganho para ninguém. Agora, para aqueles animais incorrigíveis, incapazes de perceber que de forma geral eles só perdem, que não fazem ideia do que seja ética, sem dúvidas é preciso punições pesadas, mas em um país onde o sujeito mata no trânsito e não dá nada, é mais lucro acreditar no Papai Noel, lastimavelmente.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Debate: Carnaval The Walking Dead


EU, MOISÉS: Carnaval é tipo The Walking Dead. Os caras todos zumbis e as mulheres correndo até serem mordidas. E a música vai atraindo geral.

C. M.: Não.

EU, MOISÉS: O carnaval do povão nas ruas sim, a não ser o fato de que os zumbis da tv são mais lentos, não mijam em qualquer lugar e não roubam.

C. M.: Tem gente sem educação sim, mas é uma minoria; fui e gostei; você foi?

EU, MOISÉS: Sim, e em vários locais com minha bike. Discordo totalmente que seja minoria, eu diria que é quase a totalidade.

C. M.: Pois é, neste ponto, discordamos.

EU, MOISÉS: Deixa eu me explicar, quase totalidade é uma hipérbole, até porque são muitos “carnavais”, mas essa analogia que fiz se encaixa ao que é mais comum no carnaval largado de rua, principalmente mais tarde. Não falo dos blocos organizados, não acompanhei nenhum deles ainda (e sinceramente, tenho pouco saco para ficar seguindo o longo fluxo repetitivo deles), que deve ser diferente, até pelo horário que costumam ser. E carnaval tem muitos nichos, dependendo do qual vc estiver ele fica como pano de fundo apenas, não dando uma visão geral da coisa. Por exemplo, se vc sair em um grupo grande de amigos (o que eu não tenho saco tb, diga-se de passagem, rs), fazer aquela rodinha e tal, seu carnaval será a relação com eles; outro exemplo, se vc encontra uma pessoa e fica com ela, mais tempo do que esses beijos só para fazer número, o resto se tornará resto durante esse momento; outro, namoro e carnaval, uma coisa que eu acho que não combina exatamente bem, para dizer o mínimo, tb mudará a perspectiva (provavelmente pelo ciúme, rs), e assim por diante. Enfim, generalizar de forma literal e cabal tudo é sempre exagero, certamente, mas essa é a realidade que sobressai do “baixo carnaval”: zumbis em todos os lugares, brigas por qualquer bobagem, louvor à imbecilidade, mulheres sendo perseguidas (vi duas moças bem bonitas ontem literalmente correndo na Afonso Pena, já meio vazia, que foi essa situação que sobressai encarnada, a cada passo driblando agarrões e puxões – a propósito, já perdi a conta de vezes que interferi contra malucos forçando as meninas os beijar). Mas cada um faz o que achar melhor, minha crítica não é para censurar ninguém, sempre é possível curtir do seu jeito, apesar dos inegáveis pesares, que em muitos casos pode frustrar bastante.

C. M.: Oi Moisés, só critiquei a generalização. No mais, concordo. Tenho participado bastante de variados blocos e estou gostando muito.


L. R.: Eita Moisés Prado Sousa, tá moscando? hahahahaha

EU, MOISÉS: Cara, eu ia ficar calado, mas tenho que render mais, pois não consigo compreender o que leva alguém a usar ad hominem gratuito assim perante argumentos ou frases de efeito que as chocam. Será medo? Será pq quando atacam se veem no espelho para definir o outro? E sem o menor fundamento ainda, se tivesse o mínimo de informação, com essa cabecinha, vc invejaria meu carnaval, mas não vem ao caso. O que mais me espanta ainda, seu comentário infeliz foi após as respostas que dei acima, ampliando o que eu pretendi significar com a frase, que por si só não diz o mínimo respeito à sua “interpretação” rasa e incondizente; poderia ter lido antes de dizer bobagem.

L. R.: Continua mascando, Moisés Prado Sousa. Mas moscando pra caralho. Hahahahahahahha

EU, MOISÉS: Vc já foi mais inteligente.


B. R.: Moisés, pq essa galera não entende é que é exatamente isso que acontece no carnaval. Os zumbis atrás de "carne" se acham no direito de seus abusos. E vc colocou muito bem a expressão " até serem mordidas", pois esses caras simplesmente não aceitam um "não", e ultrapassam qualquer dose do bom senso. Agora eu queria q a mulher que comentou aí dissesse c ela já passou por isso ou se pelo menos c sensibiliza com a situação. Essa galera fica na idéia do carnaval lindo da paz e fecha os olhos prós abusos mais q frequentes q acontecem. Triste posição desse povo.

EU, MOISÉS: A maioria desses caras é composta por manés que não conseguem ficar com uma mulher em nenhuma outra época do ano. No carnaval a coisa é diferente, no mais das vezes não se alonga muito uma conversa antes do beijo, em muitos casos um olhar basta, mas esses verdadeiros lixos humanos confundem as coisas, confundem atitude com estupro, cantada com assédio, agarrões com personalidade, não permissão com timidez, insistência com agressão. É o fim do mundo! Aquela propaganda da Skol mesmo, do rapaz dizendo o “comentário quadrado” que no carnaval tem que chegar pegando, infelizmente a maioria do que eu chamei de “baixo carnaval” concordaria com ele. Eu não consigo entender como uma pessoa pode sentir bem beijando alguém que está com nojo de vc. Essa situação infelizmente é tão presente que se não fosse o fato de que muitas garotas preferem “aceitar” o beijo forçado do que gritar e chamar a atenção para si, ou ficam com medo do sujeito fazer algo com elas, ou ainda precisam deles para ir embora, se não fosse essas situações e similares, ela seria percebida literalmente por todos de forma assustadora. E fato curioso, a maioria desses vermes só crescem com mulheres, quase todos os casos que interferi eles ficaram com o cú na mão, se bater o pé no chão então parecem o Bolt. Pois é, minha analogia com zumbis tb foi pensada tendo em vista o número de pessoas que não tem um controle mínimo com a bebida e ficam fazendo merda por aí. À noite então, The Walking Dead total! Como eu disse, não nego que há vários “carnavais”, mas essa é a situação que sobressai no carnaval largado de rua. Concordo contigo que é muito triste não se atentar para isso, pois as consequências são pesadas demais. #NãoÉNão

*Reprodução de debate em rede social.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Debate sobre Tiffany do vôlei e transexuais no esporte

A. V.: Tiffany, aquela mulher* trans da liga de vôlei, tá quebrando todos os recordes, batendo maior média de pontos, superando campeãs olímpicas e tendo um desempenho espetacular na liga feminina. Mas ninguém vai falar nada, né? Senão é transfobia. E não vale perder a carteirinha de inclusivo esclarecidão por causa de mulheres sendo rechaçadas, não é mesmo?


EU, MOISÉS: A questão é complexa. Pode ter muitos em cima do muro por essa razão que vc aponta, não nego, mas a verdade é que não se trata de algo de simples resposta, afinal, o que se fará com atletas trans, os excluir do esporte? Não é uma opção aceitável, claro. Isso só reforçaria a visão deturpada de que são "monstros" sem lugar na sociedade. Existem estudos que mostram que com um ano de supressão da testosterona a pessoa tem perdas musculares e ósseas extremamente relevantes (não altura, o que em alguns esportes pode ser mais problemático), isso hoje é aplicado, a terapia hormonal tem sido exigida pelos comitês esportivos. Muitas atletas produzem mais testosterona que a maioria, inclusive mais do que as trans em terapia hormonal, mas essas não são obrigadas a competir com homens. Enfim, justiça de competição plena não existe, cada pessoa tem uma genética que pode ajudar ou atrapalhar, a depender do esporte. Mas dentro do possível, tendo em vista que excluir trans não é uma opção válida (nem mesmo criar uma categoria específica, pois não haveria competidores suficientes, além de reforçar mais uma vez o preconceito), mesmo sendo polêmico exigir hormonioterapia de alguém, é um caminho que aponta para a melhor solução.


A. V.: Que crie uma liga trans! Mas que o preço de incluir mulheres trans* não seja o de apagar mulheres fêmeas. Além disso, não há homens trans competindo na masculina por motivos óbvios.

Eu vi recentemente um estudo na página "Hormônio não é brinquedo", com link na Scielo, com um dos maiores especialistas na área, dizendo que uma puberdade a base de testosterona jamais seria revertida.

Têm atletas mulheres que já foram impedidas de jogar na liga feminina por terem níveis elevados de testosterona devido a anormalidades hormonais. E testosterona é considerado doping em mulheres, aliás.

Criar uma categoria específica não é apenas segregar embasado em preconceito. É manter o espaço de mulheres fêmeas que foi tão duramente conquistado. Por esses recordes absurdos dá para ver que mulheres vão estar na desvantagem ao competir com mulher trans*! É uma resposta prática.

Dizer que é a melhor solução visto tais dados que são comprovados por uma busca simples no Google do desempenho da Tiffany, me faz crer que pode ser melhor pra quem quer que seja, menos para as mulheres fêmeas.


I. B.: Vejam o vídeo do depoimento da Tandara. (https://www.youtube.com/watch?v=4hqeQuDPTJY)


L. F. T.: A pergunta é: se antes eram categorias ~reconhecidas~ homem e mulher, e agora ~reconhece-se~ um novo espectro, as pessoas trans(seja homem ou mulher trans), porque simplesmente enfiar na categoria feminina? Por que uma terceira categoria seria reforçar ainda mais um pré-conceito? Porque homens trans não participam, no esporte de alto rendimento, da categoria masculina?

Não existe resposta simples mesmo. Agora, dizer que devemos aglutinar dois grupos diferentes numa mesma categoria, pq é “menos pior”, é ridículo. Dentro da luta das mulheres, espaços exclusivos para elas foram importantes durante sua luta, o que tem diminuído cada vez mais. A meu ver, só colocar pessoas trans para competirem na categoria feminina é um apagamento de ambos os lados!
Deixa-se de lado o que diz respeito às mulheres, deixa-se também de lado o que diz respeito às mulheres trans.. os dois são apagados para que caibam na mesma categoria de “mulher”(que no fundo não ajuda e nem serve a nenhum dos dois lados). Ou seja, só enfiar as pessoas trans no espaço de um grupo de pessoas que sempre foi e é marginalizado, semelhante a própria situação das pessoas trans, não resolve. É deixar de novo nos homens quietinhos lá, e continuar colocando na conta das mulheres, que elas se virem pra lá com seus problemas.

E a última pergunta: se não há resposta fácil, pq em menos de dois anos que o transativismo e o feminismo liberal trouxeram essa questão para o senso comum, já se estão tomando medidas legais e jurídicas como essa do vôlei? Por que essa “velocidade relâmpago”? Se é complicado assim, não tem motivo nenhum pra correr.


EU, MOISÉS: Então, primeiramente, o que levantamos aqui, por si só, já mostra como a questão não é simples. Cada um tem sua opinião sobre o tema, mas segue alguns erros de princípios que desencadearam argumentações:

1- “Não existe homens trans em modalidades masculinas de alto rendimento”. Não é verdade, pesquise Transgender people in sports que na própria Wikipédia já aparece vários nomes.

2- “Criar liga trans”. Eu já havia dito, mas talvez passou batido, eu não disse que tal não deve ocorrer por ter como base o preconceito (embora na cabeça de muitas pessoas desinformadas ele aumentaria com tal). O ponto é: salvo se no futuro houver um número significativo de transexuais, como é, p. ex., o de deficientes físicos hoje, é simplesmente inviável falar de criação de liga própria; no UFC mesmo, a trans teria que lutar com ela mesma. Já que o ponto é a prática, seria simplesmente impraticável.

3- Tão somente as opiniões subjetivas de atletas são julgamentos que não devemos tomar como base para tratar dessa questão, como o que disse o Borrachinha (destilando ódio), ou a Tandara ("pisando em ovos"), obviamente não tem o rigor científico. A trans do UFC mesmo chegou a lutar com uma mulher que era muito mais forte do que ela. Logo, a “desvantagem” não é indiscutível, pelo contrário, existe um estudo sério sobre a questão, chama Race Times for Transgender Athletes, da pesquisadora Joanna Harper, a conclusão dele é que essa afirmativa para excluir trans é falaciosa.

4- “Testosterona nas mulheres é doping”. Os estudos recentes tem colocado em xeque o alto nível natural de testosterona e desempenho. E na prática, o caso da corredora Dutee Chand ficou como exemplo, ela ganhou na justiça permissão para competir na modalidade feminina, o que virou jurisprudência.

5- “Escolher o menos pior é ridículo”. Primeiramente, eu não disse isso, eu disse: é um caminho que aponta para a melhor solução. Mas, em todo caso, o que sugere? Escolhermos o “mais pior”?!

6- “Mulheres já são um grupo marginalizado”. Certamente. Mas usar esse argumento aqui me parece a típica falácia do espantalho, isto é, quando se ataca um outro problema ao invés daquele que está posto na mesa. Primeiramente, como eu disse acima, trans não estão só em modalidades esportivas femininas, erro que já refuta esse “argumento”. Mas enfim, qual seria a solução contra a “marginalização”? Marginalizar ainda mais a/o trans? No mínimo falta coerência nessa afirmativa.

7- “Se é complicado não tem motivo para correr”. Simplesmente não há consequência lógica nessa frase. Algo ser complexo não significa que uma resposta não seja urgente. Ademais, respostas concretas nesse campo vem com tentativa e erro, é mais adequado falarmos em melhorarmos as respostas que estão sendo dadas, tendo como base levantamentos e argumentos científicos, que virão mais robustos com o tempo.


A. V.: Moisés, eu pesquisei e não encontrei. Talvez aquele Chris do atletismo que nunca conquista nada.

Aí por não ter número suficiente a gente vai enfiar nas categorias existentes mesmo com todo esse debate sem resposta? Pq tem que incluir?

O que a Tandara disse é relevante, por mais que não tenha rigor científico. É visível o medo que ela tem de encarar a jogadora em quadra, e o que mulheres dizem sobre isso importa. Até pq se opiniões subjetivas não tem valor aqui, pra quê a gente tá discutindo sobre homens que se sentem mulheres, não é mesmo? Pq isso é bem subjetivo e sem comprovação científica nenhuma.

Moisés, vc consegue ver um atleta mediano no masculino virando história no feminino e dizer que não há vantagem? Pq aí haja má-fé. Tem pesquisas que dizem o oposto na Scielo! E aí? Vamo fazer como?

Colocar em xeque não é contestar. Além do que se vc acompanhar recordes de homens e mulheres em esportes iguais dá pra ver a diferença. Além de que biologicamente falando homens são mais fortes devido a oxigenação no sangue, desenvolvimento de ossos, membros, músculos, etc. Isso tá a rodo na internet e sites de pesquisas.

Me impressiona apenas como vc desconsidera a história das mulheres no esporte e o futuro temível que as espera nesse ponto.


EU, MOISÉS: Então, a Wikipédia cita vários nomes notáveis (https://en.wikipedia.org/wiki/Transgender_people_in_sports#Trans_men), ou seja, tem mais. Mas o ponto é que quaisquer argumentos que partem da premissa de que não existe trans nas modalidades masculinas já está equivocado e é, portanto, falacioso.

Veja, minha crítica ao subjetivismo é em relação a adotarmos políticas desse nível, que implicam em incluir ou excluir pessoas. Por isso é preciso argumentos sólidos.

Tem muito disso, mas a questão do desenvolvimento e prática esportiva é extremamente complexa, há fisiologistas que afirmam que a supressão da testosterona por mais de um ano deixa o corpo que foi construído com ela (masculino) em estado até mais frágil do que o não construído (feminino), pois o peso seria maior, já que não há o “combustível” para mantê-lo. O estudo da Harper vai nessa linha, mostrando por testes que os argumentos para vantagens reais não se sustentam.

Mas há que ter mais estudos, olhar cada esporte em particular, pois a altura, como eu disse, pode ser um fator desiquilibrador. Se se comprovado em um esporte específico, manter a trans no masculino, talvez. Tem que ter mais casos para se avaliar de forma cabal assim; há diversos fatores inclusos tb, por exemplo, uma mulher no Brasil que joga futebol com meninos, tende a ser melhor do que aquela que joga com meninas, pois na nossa cultura o futebol masculino tem nível mais alto (nos EUA seria o contrário), ter tido uma carreira no vôlei jogando contra homens pode ter a tornado uma melhor atleta, pela mesma razão, porque não considerar isso tb?

Minha argumentação não foi para mostrar que homens e mulheres são iguais para competir fisicamente, por favor. O ponto que levanto é primeiramente perguntar quais as opções, e não é uma opção excluir da vida esportiva as/os trans. Segundo, há estudos sérios que questionam por testes a vantagem de trans em hormonioterapia alegada por leigos. A recomendação do Comitê Olímpico Internacional é a dosagem de testosterona e no caso da Tiffany ela está até bem abaixo, pelo que li. Meu ponto é para mostrar que não é uma questão simples, tudo o que eu disse aqui demonstra o contrário, e que a consequência sem a devida reflexão pode ser excluir ainda mais quem já é excluído.

A questão é que o homem trans precisa aumentar o nível, digamos assim, para competir com homens, enquanto a mulher trans teria que, consequentemente, abaixar. Daí toda a polêmica, que soa de forma negativa aos ouvidos e ninguém pára para ver se tem fundamentos válidos. Não existe “má-fé”, realmente é preciso aguardar para não se tomar posições literalmente perigosas. Mas enfim, repito, as regras atuais, de forma geral, me parece ser o melhor caminho.


*Reprodução de debate em rede social.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Debate sobre o "pobre de direita"


EU, MOISÉS: Seguimos tentando desvendar o incognoscível "pobre de direita". [Referente ao trecho da entrevista do professor Tales Ab'Sáber no programa Diálogos, Jan/2018; acima].

D. K.: Já dizia o saudoso Tim: este país não pode dar certo, aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita

F. L.: Quando se libertaram os escravos, a elite não sabia o que fazer com eles, hj a elite não sabe o que fazer com seus descendentes. Talvez o tal Bolsonaro Boca-suja implemente campos de extermínio. É uma cultura que não aponta pra nada e só nos deixa com essa sensação de vergonha e impotência.

EU, MOISÉS: Quem não já teve o desprazer de conversar com um pobre de direita fundamentalista, né? Normalmente eles ainda se acham super inteligentes! Sério, quando os encontro vejo que o sistema venceu. Como disse o Malcom X, "se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as pessoas que estão oprimindo". Isso explica bem a natureza deles. Só não podemos largar a corda pq se não voltamos para a senzala.

F. L.: Cara, estou com 50. Estou cansado. Me afundo nos estudos para não pensar muito. Às vezes lembrar de tudo é uma espécie de loucura. Se antes buscasse na racionalidade a solução para o alienação, hj me alieno para escapar da realidade.

EU, MOISÉS: Não é fácil, cada vez mais está difícil de ver a luz no fim do túnel. Mas a questão da luta acaba sendo uma questão de sobrevivência para as classes desfavorecidas, a "escolha" para a grande maioria está em ou ir para a luta, se matando de trabalhar de sol a sol, não vendo o fruto do seu trabalho, apenas para sobreviver e tentar vez ou outra gritar no deserto, ou ir para a sarjeta, morrer de algo evitável. É muito frustrante ver um sistema blindado à voz dos oprimidos de forma tão brutal. Mas a verdade é que a maioria não pode nem distrair, e como eu disse, só largar a corda que se volta para a senzala; esse governo Temer é um exemplo concreto, na primeira oportunidade (forjada por golpe) suga ainda mais de quem nada tem.

D. S.: Que conseguiu tirar um pouco mais a cabeça fora da água tem que lutar para não ter marola para não dificultar as coisas. Infelizmente, o esclarecimento parecer não ser acompanhado de uma alegria artificial. Sabemos que não há opção a luta - talvez a insanidade ou alienação total!

M. U.: Acho toda generalização muito complicada, independente do lado, tem discurso de uma direita e da esquerda moderadas (se é que existe com consciência) que não luta contra os pobres, luta contra a corrupção e sabe que está todo mundo solto e no comando. Eu sou desse time aí que ele listou e a primeira coisa quando chego em um restaurante ou bar é ficar "amigo" do garçom para aprender e entender como alguém consegue trabalhar tanto e ser feliz.

D. S.: não há generalização. O começo da fala diz de uma parte importante da elite e classe média. O resto precisamos aprofundar e sem dúvida precisamos ver como e por que a nossa escravidão lança raízes profundas até hoje e corrói corações e mentes e infesta nossas instituições. Não é um ato individual, é coletivo e uma empresa de gerações que tem assento nas instituições pátrias!

L. M. G.: O vídeo não é sobre pobres de direita. O vídeo é sobre brasileiros. Uma raça que, dentre outros, odeia seus políticos ao mesmo tempo que ama reelegê-los ad eternum. O vídeo é sobre uma raça que precisa ser estudada pela NASA, conforme o dito popular. Rs
           
EU, MOISÉS: Nunca vi um brasileiro que se considera de esquerda odiar os pobres e estupida e ignorantemente achar que eles são a culpa de todos os problemas, logo, o vídeo é indiscutivelmente sobre a direita. Consequentemente, sobre o "pobre de direita", pois a crítica do vídeo não foca nos ricos de direita. Sobre a questão política, a coisa não é tão simples assim, pois estamos falando de um sistema de eleição proporcional, não esqueçamos; além disso, sabemos a disparidade que existe entre quem tem grana e quem não tem para até mesmo mostrar a cara como candidato. Por fim, o problema maior do Brasil não é a corrupção, mas sim a abissal desigualdade socioeconômica e a concentração de renda nas mãos de pouquíssimos indivíduos, quase sempre herdeiros de verdadeiros impérios.

M. U.: Essa desigualdade, mesmo acentuada por aqui, é no mundo todo, muito difícil melhorar isto, taxar as grandes fortunas? Poderia ser um dos caminhos que nenhum governo teve coragem, bem FHC, nem o PT nos 13 anos e o Temer nem comentemos.

D. S.: M. U. os dados disponíveis e confiáveis dentro do possível mostra que as estatísticas sociais e culturais melhoraram nos governos do PT. Claro que a explicação pode variar (até atribuir a FHC e ao preço mundial das commodities, que é fraca mais é uma tentativa racional que não briga com os números)!

L. M. G.: O MBL faz, é criticado por isso, e eu concordo com a crítica: pega a pior parte de um lado (no caso do MBL, a esquerda) e diz que o todo é aquele extrato. Não concordo muito com isso...

EU, MOISÉS: Taxar as grandes fortunas é um caminho, mas existem vários outros, a começar por cobrar os mais de 500 bilhões anuais que os grandes ricos do Brasil deixam de pagar por fluxos ilícitos e evasão fiscal. Mas as soluções possíveis vão desde taxar pesadamente heranças até a implantação do socialismo/comunismo. Há uma gama enorme de tentativas viáveis nesse meio, o discurso conservador de "ser a única forma possível" a que estamos, a meu ver, é dos mais falaciosos possíveis, pois é difícil imaginar algo pior, nos tempos modernos, do que um planeta onde 8 indivíduos tem mais que metade da população mundial mais pobre, onde praticamente 1% da população tem mais que os outros 99% (fonte: Oxfan); onde se morre de fome com comida sobrando ao lado; onde os que mais trabalham, como um cortador de cana da vida, são os que menos ganham; onde a saúde é mercantilizada e assim por diante. Esse mesmo discurso de ser no mundo todo e de ser difícil poderia ser usado por escravistas, sexistas, racistas, mas mudamos e temos mudado esses absurdos. Definitivamente não é um bom argumento. Toda mudança é árdua, sim, pois os desfavorecidos são também aqueles oprimidos pela força policial e pela justiça. Mas se ficarmos nessa não apenas não mudaremos nada, mas voltaremos para trás, como inclusive temos visto por aqui. ["MBL faz"?! Eu li isso?!].

M. U. Não duvido dos dados, mas a taxação não foi feita.

L. M. G.: E de que adianta taxar grandes fortunas e heranças, aumentando a arrecadação, se é exatamente isso que a corrupção está louca pra fazer? "Se colocarem o governo para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia." é uma das frases mais sábias que já ouvi...

M. U.:Os bancos continuam faturando bilhões anualmente por taxas absurdas de juros, e o BB e a CEF estão (e sempre estiveram) longe de comprar essa briga e colocar taxas condizentes, afinal, estatal não serve para servir? Hoje (consultei) o BB é décimo quarto e a CEF vigésima. E não é culpa do vampirão, desde sempre foi assim é ninguém faz nada.

L. M. G.: Se há um problema que NÃO existe no Brasil é a falta de dinheiro público, como já bem diria o Enéias em uma famosa entrevista no falecido Programa Livre do Serginho Groisman.

EU, MOISÉS: Cara, eu acho que vc precisa ler mais e pegar os números oficiais ao invés de jargões baratos e MBLs da vida, caso contrário vc ficará gritando discursos apelativos e sensacionalistas a lá Bolsonaros que não condizem com a realidade. A União arrecada quase 1,4 TRILHÃO por ano, estimasse que a corrupção pega 200 bilhões, ou seja, não chega a 15%. Como eu disse acima, nosso maior problema está longe de ser a corrupção, mas sim a abissal desigualdade socioeconômica e a concentração de renda. Evidentemente a corrupção é um problema grave, mas que se resolve com TRANSPARÊNCIA, e não com o fim do Estado. O Estado mínimo só interessa de fato a quem não precisa dele, ou seja, os 3% (IBGE) mais ricos da nação (o pobre de direita que clama a implementação de tal se lascaria, claro). Sinceramente, a crença que essa turminha de verde e amarelo pseudo neoliberal (pois na verdade são conservadores até nos costumes!) tem no "poder regulador do mercado" é assustador de tão ingênua! Todas as quebras, crises e colapsos do capitalismo, além do clima real de todos contra todos, do desperdício, do consumismo inútil, da destruição da natureza, da mercantilização da educação, do quase estado de natureza hobbesiano, não os convence do contrário. Hoje no mundo muitos neoliberais já estão revendo seus conceitos de maneira drástica mediante esses fatos, aqui o pseudo neoliberal (nem errado como o neoliberal legítimo ele é) está no nível de um religioso fundamentalista lunático, francamente.

M. U.: Corrupção aliada a ineficiência dos órgãos públicos, como exemplo, as agências de regulação. São geralmente ocupadas por apadrinhados (como o genro do Eunício) sem capacidade de fazer transformações necessárias, em termos práticos, a CEF lotadas dos Gedeis da vida que escolhem o empréstimo não por termos técnicos e sim pela capacidade de receber propinas.

L. M. G.: Moisés, com todo respeito, eu acho que vc não entendeu que o que eu fiz ao MBL foi uma crítica...

EU, MOISÉS: A minha resposta se aplica ao que vc disse, independente de se colocar o MBL no meio.

L. M. G.: Bom, pelo que entendi, vc não vê problemas em colocar ainda mais dinheiro nas mãos de corruptos, acreditando que o problema da má distribuição de renda poderá ser resolvido dessa forma. Eu penso diferente. Na minha opinião, enquanto o problema da corrupção não for pelo menos atenuado, colocar ainda mais dinheiro nas mãos do Estado será só a confirmação da frase do Saara com ainda mais areia. É o que penso...

EU, MOISÉS: Vc viu os números que cito? Não é "o que eu penso".

L. M. G.: Tenho imensa curiosidade em saber detalhes sobre a metodologia utilizada para se estimar um número para o tamanho da corrupção já que corruptores e corrompidos não assinam recibo, não emitem nota fiscal, e fazem de tudo (ou mais) para ocultarem os seus...

M. U.: E mesmo este estimado é coisa demais, 10 anos de bolsa família, mas ela leva 200 bilhões, creio que a ineficiência deve levar mais uns 800, não tem modelo econômico que sustente, é caso de caminharmos para o RJ mesmo.

D. S.: L. M. G., na FAFICH/UFMG há grupo de estudo com mais de 10 anos com publicação de livros, artigos científicos, seminários, congressos. Tem o Instituto Ethos e análises internacionais sobre o tema. Claro que juiz receber acima do permitido pela constituição, através de artifício não entra nesta conta!

L. M. G.: Caríssimo D. S., nesse caso, sigo com o finado Enéas, médico cardiologista, físico, matemático, professor, escritor e político brasileiro: continuo achando que não falta dinheiro na política brasileira. O problema é que sobram corruptos.

EU, MOISÉS: Essa de não saber quanto se perde na corrupção é mais um discurso repetido pela direita sem a análise mínima. A maior parte do que se perde com a corrupção é muito fácil de calcular, pois há um número inicial e um número final, ora, o produto deles é o que se perdeu com a corrupção. Uma pesquisa superficial no Google já ajudaria bastante para cair esse mito, mas sim, o D. S. tem razão, para quem quiser aprofundar, temos grupos de estudos, abertos inclusive, com várias pessoas que debruçam sobre esse tema. Em momento algum eu disse que a corrupção não é um problema, pelo contrário, disse com todas as letras que é um grave problema, mas se a corrupção zerar no próximo ano, os ganhos da União subirão 15%, quem em sã consciência diria que isso mudaria a realidade do Brasil?! E não temos dinheiro sobrando, MUITO pelo contrário! O Ciro Gomes critica muito isso com números importantes, fica um monte de gente falando como se as coisas aqui fossem fácil de resolver, que é só um estalar de dedos, e não percebe a bobagem que estão falando! O que o Brasil arrecada hoje mal dá para se manter, estamos a serviço de dívidas galopantes e do capital estrangeiro. Quando eu afirmo que nosso maior problema é a abissal desigualdade socioeconômica e a concentração de renda, é uma opinião formada por anos de estudo que não dá para reduzir aqui, mas veja que isso está muito além do que o Estado arrecada, mediante tamanha disparidade entre a elite e quase a totalidade da população, não há grana Estatal que resolva se a mesma não for distribuída. Em uma palavra, se acabar a corrupção por completo nossas mazelas continuariam iguais, o rico continuaria cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre. É preciso uma mudança quase por completo no que diz respeito ao sistema político e econômico.
Já mencionei aqui sobre o tanto que se deixa de arrecadar com fluxos ilícitos e sonegação fiscal dos mais ricos, o montante é esmagadoramente mais do que na maior das hipóteses se perde com a corrupção. Desse dinheiro que deixa de entrar, estima-se que 20% é da corrupção e 80% de fluxos ilícitos e sonegação. E sobre isso ninguém protesta né; está aí a força da informação rasa e parcial.

L. M. G.: Vamos então aos números de uma "pesquisa superficial no Google". Se vc afirma que combater a corrupção é ineficiente pq traria apenas 200 bi aos cofres públicos, este artigo diz que taxar os ricos traria apenas metade disso... https://www.cartacapital.com.br/economia/imposto-sobre-grandes-fortunas-renderia-100-bilhoes-por-ano-1096.html

EU, MOISÉS: Faça uma pesquisa que não seja tão rasa. E a propósito, esse valor de 100 bilhões, que por ora não questionarei, apenas seria somado a quantidade infinitamente maior que se perde com fluxos ilícitos e sonegação fiscal, mas parece que vc não tem a menor ideia do que seja isso. Enfim, como introdução:



Só para completar, li a entrevista completa aqui (boa entrevista, por sinal), vale lembrar que esses 100 bilhões é resultado de cálculo de apenas 1% de taxação, que obviamente poderia ser muito mais.

*Reprodução de debate em rede social.