sábado, 12 de setembro de 2020

Bar e Covid-19: atestado de estupidez

     Eu venho deixando de me espantar com o que se passa na cabeça do ser humano há um bom tempo, mas o comportamento de muitos em relação a Covid-19 é surreal! Aqui no Brasil, depois da eleição do Bozo, ficou provado por A + B que não se pode esperar o mínimo de um ser dito racional de grande parte da população, mas instintivamente continua chamando a atenção ver “gente” tendo que ser segurada pelos governantes para não pular em um buraco.
     É mais crível o Papai Noel do que bar e distanciamento mínimo. Claro que não pode dar certo um monte de pessoas bêbadas afogando mágoas, se abraçando, querendo companhia e cuspindo para tudo quanto é lado em meio a uma pandemia. Mas fiquei impressionado de ver ontem, principalmente aquele bar, ali na esquina da Av. Brasil com Afonso Pena, lotado como em época normal! Vários na Savassi* também na mesma situação, e praticamente todas as pessoas sem máscaras, coladas umas nas outras, rindo em meio aos mais de 130 mil mortos. Chega a ser ofensivo ser considerado da mesma espécie que esse tipo.
     Em Minas os testes sempre ficaram para trás, de forma que nossos números de contaminados nunca foram parâmetros confiáveis para nada. Agora está se testando ainda menos. Estamos em torno de 100 mortos por dia por aqui, esse é o melhor parâmetro para se fazer um julgamento mais próximo da realidade do número de casos: tendo em vista a letalidade de aproximadamente 0,6% dos contaminados, dá por volta de 15 mil infectados por dia – isso sem levar em conta que muitos óbitos por Covid-19 são registrados apenas como síndrome respiratória aguda grave, gerando uma enorme subnotificação –, mas, por interesses capitalistas, o Governo libera as coisas, todos os comércios e serviços, com base em leve queda dos parâmetros (mal levantados, diga-se de passagem, mas pouco importa, pois a “queda” é relativamente pequena), e as pessoas lotam bares! Eu só consigo entender de uma forma essa situação dos frequentadores: são limítrofes. Estão, na verdade, abaixo da animalidade. Nem se matar sabem; ora, se é o objetivo, faça de forma mais rápida e sem prejudicar os outros. Será que pensam: “uhull, agora vou esperar menos para ter uma vaga na UTI!”? Eu conto ou vocês contam ao energúmeno que ele pode morrer na UTI? Esse tipo deve achar que essa é sigla de algum parque de diversão.
     Talvez seja ainda mais incognoscível essas pessoas que estão nesses bares sentadas com pessoas que elas veem todos os dias. Não entra na minha cabeça. Como pode isso? Bebe na porra da casa! Sobrevive! Mas não, “sextou”, né? “Vamos ficar aborrecidos, fingindo de felizes publicamente, sorrindo o tempo todo e para todos como idiotas”. Eu duvido que no íntimo alguém considera isso diversão. Eu sempre achei ridículo esses marcos semanais, tirando o fato de que mais coisas acontecem nesses dias (sexta e sábado), não tem sentido nenhum, eu prefiro fazer o que eu quero, com quem eu quero, seja em qual dia for. Mas tem gente que se passar uma sexta da vida em casa não consegue viver, mesmo eventualmente tento curtido ao máximo no dia anterior (coisa praticamente impossível para esse tipo). E é engraçado que não importa se estão se divertindo, mas se aparentam estar; depois da selfie, a cara volta a fechar. Mas não esperaram nem a pandemia passar para retomar a rotina da “diversão” alienada. Não sabem fazer nada de diferente; se não beberem, não conseguem suportar quem está ao lado. A meu ver, isso é desperdício de vida – na pandemia, a expressão é mais real do que nunca.
     Outro dia estava observando de longe uma dessas academias “moderninhas”, com poucos aparelhos e no mais das vezes inúteis, vi uma moça fazendo agachamentos sem equipamentos, correndo em uma esteira e fazendo exercícios em um colchonete. Como pode ela não perceber que dá para fazer isso tudo em casa ou mesmo numa praça? Em época normal já seria patético, pagar para fazer algo que se pode fazer de graça, imaginem agora! Esse é o cúmulo de querer aparecer a todo custo ou outra doença mental qualquer: “perco a vida, mato meus entes queridos, mas olhares estarão sobre meu corpo”. Ainda nessa linha, hoje me deparo no meu bairro com um grupo voltando de uma pelada (jogadores profissionais fazem o teste e medem a temperatura para entrar em campo, já eles mal têm grana para alugar a quadra e acham que estão iguais), tomando cerveja e aglomerando até não poder mais, não tinha se quer um de máscara. Estavam tão juntos que parecia foto de time campeão (campeões da burrice, ok, entendo a pose). Um dos incapazes cognitivos eu conheço um pouco mais (o asco não me permitiu olhar por muito tempo para eventualmente reconhecer outros), é bolsonarista até o osso, mora com a avó, que tem vários problemas de saúde, e nem isso o impede.
     Enfim, o desejo do Zema de fazer o vírus circular está sendo atendido. Como dizia o Nelson Rodrigues: “os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. Por essas e outras tem uma parcela da população que não adianta, nada resolve, temos que lavar as mãos, figurativa e literalmente. Que vá para o colo do diabo! As únicas coisas que lamento são o risco que os trabalhadores desses locais passam e a falta de um documento assinado por essa “gente” assumindo as consequências e declarando que não usará hospitais públicos. Fico triste por crianças e idosos que convivem com eles em casa, nós, felizmente, podemos e devemos passar longe, com ou sem pandemia.

*Os locais mencionados ficam em Belo Horizonte - MG.