EU, MOISÉS: Seguimos tentando desvendar o
incognoscível "pobre de direita". [Referente ao trecho da entrevista do professor Tales Ab'Sáber no programa Diálogos, Jan/2018; acima].
D. K.: Já
dizia o saudoso Tim: este país não pode dar certo, aqui prostituta se apaixona,
cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita
F. L.: Quando se libertaram os escravos, a
elite não sabia o que fazer com eles, hj a elite não sabe o que fazer com seus
descendentes. Talvez o tal Bolsonaro Boca-suja implemente campos de extermínio.
É uma cultura que não aponta pra nada e só nos deixa com essa sensação de
vergonha e impotência.
EU, MOISÉS: Quem não já teve o desprazer de
conversar com um pobre de direita fundamentalista, né? Normalmente eles ainda
se acham super inteligentes! Sério, quando os encontro vejo que o sistema
venceu. Como disse o Malcom X, "se você não for cuidadoso, os jornais
farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as pessoas que
estão oprimindo". Isso explica bem a natureza deles. Só não podemos largar
a corda pq se não voltamos para a senzala.
F. L.: Cara, estou com 50. Estou cansado. Me
afundo nos estudos para não pensar muito. Às vezes lembrar de tudo é uma
espécie de loucura. Se antes buscasse na racionalidade a solução para o
alienação, hj me alieno para escapar da realidade.
EU, MOISÉS: Não é fácil, cada vez mais está
difícil de ver a luz no fim do túnel. Mas a questão da luta acaba sendo uma
questão de sobrevivência para as classes desfavorecidas, a "escolha"
para a grande maioria está em ou ir para a luta, se matando de trabalhar
de sol a sol, não vendo o fruto do seu trabalho, apenas para sobreviver e
tentar vez ou outra gritar no deserto, ou ir para a sarjeta, morrer de algo
evitável. É muito frustrante ver um sistema blindado à voz dos oprimidos de
forma tão brutal. Mas a verdade é que a maioria não pode nem distrair, e como
eu disse, só largar a corda que se volta para a senzala; esse governo Temer é
um exemplo concreto, na primeira oportunidade (forjada por golpe) suga ainda
mais de quem nada tem.
D. S.: Que conseguiu tirar um pouco mais
a cabeça fora da água tem que lutar para não ter marola para não dificultar as
coisas. Infelizmente, o esclarecimento parecer não ser acompanhado de uma
alegria artificial. Sabemos que não há opção a luta - talvez a insanidade ou
alienação total!
M. U.: Acho toda generalização muito
complicada, independente do lado, tem discurso de uma direita e da esquerda
moderadas (se é que existe com consciência) que não luta contra os pobres, luta
contra a corrupção e sabe que está todo mundo solto e no comando. Eu sou
desse time aí que ele listou e a primeira coisa quando chego em um restaurante
ou bar é ficar "amigo" do garçom para aprender e entender como alguém
consegue trabalhar tanto e ser feliz.
D. S.: não há generalização. O começo da
fala diz de uma parte importante da elite e classe média. O resto precisamos
aprofundar e sem dúvida precisamos ver como e por que a nossa escravidão lança
raízes profundas até hoje e corrói corações e mentes e infesta nossas instituições.
Não é um ato individual, é coletivo e uma empresa de gerações que tem assento
nas instituições pátrias!
L. M. G.: O vídeo não é sobre pobres de
direita. O vídeo é sobre brasileiros. Uma raça que, dentre outros, odeia seus
políticos ao mesmo tempo que ama reelegê-los ad eternum. O vídeo é sobre uma
raça que precisa ser estudada pela NASA, conforme o dito popular. Rs
EU, MOISÉS: Nunca vi um brasileiro que se
considera de esquerda odiar os pobres e estupida e ignorantemente achar que
eles são a culpa de todos os problemas, logo, o vídeo é indiscutivelmente sobre
a direita. Consequentemente, sobre o "pobre de direita", pois a
crítica do vídeo não foca nos ricos de direita. Sobre a questão política, a
coisa não é tão simples assim, pois estamos falando de um sistema de eleição
proporcional, não esqueçamos; além disso, sabemos a disparidade que existe
entre quem tem grana e quem não tem para até mesmo mostrar a cara como
candidato. Por fim, o problema maior do Brasil não é a corrupção, mas sim a
abissal desigualdade socioeconômica e a concentração de renda nas mãos de
pouquíssimos indivíduos, quase sempre herdeiros de verdadeiros impérios.
M. U.: Essa desigualdade, mesmo acentuada por
aqui, é no mundo todo, muito difícil melhorar isto, taxar as grandes fortunas?
Poderia ser um dos caminhos que nenhum governo teve coragem, bem FHC, nem o PT
nos 13 anos e o Temer nem comentemos.
D. S.: M. U. os dados disponíveis e confiáveis
dentro do possível mostra que as estatísticas sociais e culturais melhoraram
nos governos do PT. Claro que a explicação pode variar (até atribuir a FHC e ao
preço mundial das commodities, que é fraca mais é uma tentativa racional que
não briga com os números)!
L. M. G.: O MBL faz, é criticado por isso, e
eu concordo com a crítica: pega a pior parte de um lado (no caso do MBL, a
esquerda) e diz que o todo é aquele extrato. Não concordo muito com isso...
EU, MOISÉS: Taxar as grandes fortunas é um
caminho, mas existem vários outros, a começar por cobrar os mais de 500 bilhões
anuais que os grandes ricos do Brasil deixam de pagar por fluxos ilícitos e
evasão fiscal. Mas as soluções possíveis vão desde taxar pesadamente heranças
até a implantação do socialismo/comunismo. Há uma gama enorme de tentativas
viáveis nesse meio, o discurso conservador de "ser a única forma
possível" a que estamos, a meu ver, é dos mais falaciosos possíveis, pois
é difícil imaginar algo pior, nos tempos modernos, do que um planeta onde 8 indivíduos
tem mais que metade da população mundial mais pobre, onde praticamente 1% da
população tem mais que os outros 99% (fonte: Oxfan); onde se morre de fome com
comida sobrando ao lado; onde os que mais trabalham, como um cortador de cana
da vida, são os que menos ganham; onde a saúde é mercantilizada e assim por
diante. Esse mesmo discurso de ser no mundo todo e de ser difícil poderia ser
usado por escravistas, sexistas, racistas, mas mudamos e temos mudado esses
absurdos. Definitivamente não é um bom argumento. Toda mudança é árdua, sim,
pois os desfavorecidos são também aqueles oprimidos pela força policial e pela
justiça. Mas se ficarmos nessa não apenas não mudaremos nada, mas voltaremos
para trás, como inclusive temos visto por aqui. ["MBL faz"?! Eu li
isso?!].
M. U. Não duvido dos dados, mas a taxação não
foi feita.
L. M. G.: E de que adianta taxar grandes
fortunas e heranças, aumentando a arrecadação, se é exatamente isso que a
corrupção está louca pra fazer? "Se colocarem o governo para administrar o
deserto do Saara, em cinco anos faltará areia." é uma das frases mais
sábias que já ouvi...
M. U.:Os bancos continuam faturando bilhões
anualmente por taxas absurdas de juros, e o BB e a CEF estão (e sempre
estiveram) longe de comprar essa briga e colocar taxas condizentes, afinal,
estatal não serve para servir? Hoje (consultei) o BB é décimo quarto e a CEF
vigésima. E não é culpa do vampirão, desde sempre foi assim é ninguém faz nada.
L. M. G.: Se há um problema que NÃO existe no
Brasil é a falta de dinheiro público, como já bem diria o Enéias em uma famosa
entrevista no falecido Programa Livre do Serginho Groisman.
EU, MOISÉS: Cara, eu acho que vc precisa ler
mais e pegar os números oficiais ao invés de jargões baratos e MBLs da vida,
caso contrário vc ficará gritando discursos apelativos e sensacionalistas a lá
Bolsonaros que não condizem com a realidade. A União arrecada quase 1,4 TRILHÃO
por ano, estimasse que a corrupção pega 200 bilhões, ou seja, não chega a 15%.
Como eu disse acima, nosso maior problema está longe de ser a corrupção, mas
sim a abissal desigualdade socioeconômica e a concentração de renda.
Evidentemente a corrupção é um problema grave, mas que se resolve com
TRANSPARÊNCIA, e não com o fim do Estado. O Estado mínimo só interessa de fato
a quem não precisa dele, ou seja, os 3% (IBGE) mais ricos da nação (o pobre de
direita que clama a implementação de tal se lascaria, claro). Sinceramente, a
crença que essa turminha de verde e amarelo pseudo neoliberal (pois na verdade
são conservadores até nos costumes!) tem no "poder regulador do
mercado" é assustador de tão ingênua! Todas as quebras, crises e colapsos
do capitalismo, além do clima real de todos contra todos, do desperdício, do
consumismo inútil, da destruição da natureza, da mercantilização da educação,
do quase estado de natureza hobbesiano, não os convence do contrário. Hoje no
mundo muitos neoliberais já estão revendo seus conceitos de maneira drástica
mediante esses fatos, aqui o pseudo neoliberal (nem errado como o neoliberal
legítimo ele é) está no nível de um religioso fundamentalista lunático,
francamente.
M. U.: Corrupção
aliada a ineficiência dos órgãos públicos, como exemplo, as agências de
regulação. São geralmente ocupadas por apadrinhados (como o genro do Eunício)
sem capacidade de fazer transformações necessárias, em termos práticos, a CEF
lotadas dos Gedeis da vida que escolhem o empréstimo não por termos técnicos e
sim pela capacidade de receber propinas.
L. M. G.: Moisés, com todo respeito, eu acho
que vc não entendeu que o que eu fiz ao MBL foi uma crítica...
EU, MOISÉS: A minha resposta se aplica ao que
vc disse, independente de se colocar o MBL no meio.
L. M. G.: Bom, pelo que entendi, vc não vê
problemas em colocar ainda mais dinheiro nas mãos de corruptos, acreditando que
o problema da má distribuição de renda poderá ser resolvido dessa forma. Eu
penso diferente. Na minha opinião, enquanto o problema da corrupção não for
pelo menos atenuado, colocar ainda mais dinheiro nas mãos do Estado será só a
confirmação da frase do Saara com ainda mais areia. É o que penso...
EU, MOISÉS: Vc viu os números que cito? Não é
"o que eu penso".
L. M. G.: Tenho imensa curiosidade em saber
detalhes sobre a metodologia utilizada para se estimar um número para o tamanho
da corrupção já que corruptores e corrompidos não assinam recibo, não emitem
nota fiscal, e fazem de tudo (ou mais) para ocultarem os seus...
M. U.: E mesmo este estimado é coisa demais,
10 anos de bolsa família, mas ela leva 200 bilhões, creio que a ineficiência
deve levar mais uns 800, não tem modelo econômico que sustente, é caso de
caminharmos para o RJ mesmo.
D. S.: L. M. G., na FAFICH/UFMG há grupo
de estudo com mais de 10 anos com publicação de livros, artigos científicos,
seminários, congressos. Tem o Instituto Ethos e análises internacionais sobre o
tema. Claro que juiz receber acima do permitido pela constituição, através de
artifício não entra nesta conta!
L. M. G.: Caríssimo D. S., nesse caso,
sigo com o finado Enéas, médico cardiologista, físico, matemático, professor,
escritor e político brasileiro: continuo achando que não falta dinheiro na
política brasileira. O problema é que sobram corruptos.
EU, MOISÉS: Essa de não saber quanto se perde na
corrupção é mais um discurso repetido pela direita sem a análise mínima. A
maior parte do que se perde com a corrupção é muito fácil de calcular, pois há
um número inicial e um número final, ora, o produto deles é o que se
perdeu com a corrupção. Uma pesquisa superficial no Google já ajudaria bastante
para cair esse mito, mas sim, o D. S. tem razão, para quem quiser
aprofundar, temos grupos de estudos, abertos inclusive, com várias pessoas que
debruçam sobre esse tema. Em momento algum eu disse que a corrupção não é um
problema, pelo contrário, disse com todas as letras que é um grave problema,
mas se a corrupção zerar no próximo ano, os ganhos da União subirão 15%, quem
em sã consciência diria que isso mudaria a realidade do Brasil?! E não temos
dinheiro sobrando, MUITO pelo contrário! O Ciro Gomes critica muito isso com
números importantes, fica um monte de gente falando como se as coisas aqui
fossem fácil de resolver, que é só um estalar de dedos, e não percebe a bobagem
que estão falando! O que o Brasil arrecada hoje mal dá para se manter, estamos
a serviço de dívidas galopantes e do capital estrangeiro. Quando eu afirmo que
nosso maior problema é a abissal desigualdade socioeconômica e a concentração
de renda, é uma opinião formada por anos de estudo que não dá para reduzir
aqui, mas veja que isso está muito além do que o Estado arrecada, mediante
tamanha disparidade entre a elite e quase a totalidade da população, não há
grana Estatal que resolva se a mesma não for distribuída. Em uma palavra, se
acabar a corrupção por completo nossas mazelas continuariam iguais, o rico
continuaria cada vez mais rico e o pobre cada vez mais pobre. É preciso uma
mudança quase por completo no que diz respeito ao sistema político e econômico.
Já mencionei aqui sobre o tanto que se
deixa de arrecadar com fluxos ilícitos e sonegação fiscal dos mais ricos, o
montante é esmagadoramente mais do que na maior das hipóteses se perde com a
corrupção. Desse dinheiro que deixa de entrar, estima-se que 20% é da corrupção
e 80% de fluxos ilícitos e sonegação. E sobre isso ninguém protesta né; está aí
a força da informação rasa e parcial.
L. M. G.: Vamos então aos números de uma
"pesquisa superficial no Google". Se vc afirma que combater a
corrupção é ineficiente pq traria apenas 200 bi aos cofres públicos, este artigo
diz que taxar os ricos traria apenas metade disso... https://www.cartacapital.com.br/economia/imposto-sobre-grandes-fortunas-renderia-100-bilhoes-por-ano-1096.html
EU, MOISÉS: Faça uma pesquisa que não seja tão
rasa. E a propósito, esse valor de 100 bilhões, que por ora não questionarei,
apenas seria somado a quantidade infinitamente maior que se perde com fluxos
ilícitos e sonegação fiscal, mas parece que vc não tem a menor ideia do que
seja isso. Enfim, como introdução:
Só para completar, li a entrevista completa
aqui (boa entrevista, por sinal), vale lembrar que esses 100 bilhões é
resultado de cálculo de apenas 1% de taxação, que obviamente poderia ser muito
mais.
*Reprodução de debate em rede social.
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