A PMerda (qualifico assim a partir da incabível lógica militar e dos que tive contato, sei que não são todos) e os fiscais da Prefeitura de Belo Horizonte - MG, do
prefeito Alexandre Kalil, estavam fazendo uma operação de “limpeza” na passarela
da estação do metrô da Rodoviária, onde normalmente ficam ambulantes vendendo
produtos como balas, meias, cigarros e outras coisas simples.
Chegaram com a truculência e arbitrariedade costumeiras, como
animais correndo atrás de trabalhadores, que fugiam aos gritos, desesperados. Ao
aproximar, os vejo cercando um homem negro, que estava quase passando mal de
nervoso. Fico acompanhando e vejo-os pegar a pochete dele e levar junto com a escassa
mercadoria. Ele começa a dizer que a pochete não estava à venda; aí eu não
aguento e interfiro:
[As cores são apenas
para identificar mais facilmente quem fala].
Falo para o ambulante, de maneira que os trogloditas fardados
pudessem ouvir também, “eles não podem apreender os pertences pessoais do senhor”.
Aí um policial com cara de adolescente chega aos gritos, perguntando: “quem é você?”;
no que eu respondo: “sou um cidadão”, e ele: “você sabe alguma coisa de lei, sabe o que
é ter uma formação?” [mesmo papo de outra abordagem que os questionei < link];
respondo: “sei
cara, sou formado e tudo mais”. Ele puto me pede o documento, no
mesmo tom esbravejante. Prontamente entrego e continuo acompanhando o ambulante.
Aí o outro policial que estava com ele, literalmente bufando, berra: “vai para
parede!” – numa tentativa patética de vingar a minha “afronta”
(entre aspas, pois isso é afronta só para esses fascistas que se acham deus, já
que apenas orientei um cidadão sobre seus direitos). Vou. Aí o primeiro pega
minha carteira, e eu viro para ele, ainda com as mãos na cabeça, sendo
revistado pelo segundo, falo: “você tem que olhar ela na minha frente”, ele faz
menção de abrir, eu repito alto, “a revista dela só é permitida na minha frente”;
ele, surpreso com alguém não abaixando a cabeça na sua presença, visivelmente
sem saber exatamente o que fazer, responde, enquanto o outro ainda me revistava:
“olha para
cá então”; eu digo: “seu colega está me revistando”, viro para o
revistador e digo, “eu tenho que olhar minha carteira”. Ele me solta e
diz, “olha,
mas você vai com a gente”. O soldado, olhando minha carteira, vê meu
antigo cartão do Hospital Militar (meu pai foi militar), aí já vem querendo se
explicar – um parêntese: esses soldados novos tremem para hierarquia, só de
pensar que meu pai poderia ser alguém de patente superior, ficam assim, por essas e
outras saem descontando na população o que passam lá dentro –, dizendo que o
cara era bandido, que era conhecido por eles. Eu falo: “o passado dele não vem ao caso, sobre isso eu
nada posso dizer, posso sim dizer o que presenciei, vocês e os fiscais levando pertence
pessoal dele”. Nisso, ele já perdendo o controle, fala: “quero conversa
não, se é assim, você vai com a gente, vai testemunhar então”; eu
respondo: “ir aonde?
Não sou obrigado a testemunhar, estou aqui orientando um cidadão”;
ele: “se eu
colocar aqui, você vai agora”; eu replico: “você está enganado, vamos ver com seu superior, então”. Ele responde: “vem com a gente até aquela viatura” [apontando
tal a uns 30 metros à frente]. Vejo vários outros policiais lá, junto de diversas
pessoas; vou.
Desço a passarela, acompanhado do ambulante e dos dois
policiais, e encontro um sargento. O policial que pegou minha carteira vai até
ele, fala algo ao ouvido, ele me chama e começa a querer justificar, dizendo os
maiores absurdos, sem pé nem cabeça: que eu deveria conhecer a polícia, que eu fui criado pelo dinheiro
da PM – no que eu cortei ele e já disse: “não, eu fui criado pelo trabalho do
meu pai” –, que eu estava defendendo bandido e, acreditem, que a bolsa [pochete]
era usada para guardar o estoque! O próprio ambulante interveio dizendo: “vou guardar
estoque de quê nessa bolsinha, gente?”. E mesmo quando se trata de algo
usado para guardar mercadoria, tal não pode ser apreendido. Comecei a responder
e ele logo me interrompeu, dizendo que não estava no comando da operação, que
era para eu ir falar com o tenente mais à frente. Quando começo a me dirigir
até o indicado, o soldado que havia pegado minha carteira veio conversar, já com o tom
bem mudado, mas o deixei falando sozinho e fui até o tenente. O tenente começa
a me escutar, quando viro para mostrar o ambulante, ele não havia me seguido, e
os três policiais também não, o ambulante não está mais na minha vista – o que
certamente aconteceu é que eles o ameaçaram e mandaram dar o fora. Mesmo assim,
percebendo o que tinha acontecido, continuo a contar a história para o tenente,
colocando claramente os dois pontos de abuso: seus militares levando pertences
pessoais dos ambulantes e a revista injustificada, portanto abusiva, que recebi,
indiscutivelmente como forma de represália. O tenente disse que os fiscais já
haviam levado o material e que, dessa forma, não daria para verificar, ainda mais
sem a vítima. Quanto à revista, disse o padrão, que ali “é uma área perigosa e não dá para
confirmar se a revista foi uma forma de represália”. Eu apontei o
soldado que havia feito a revista para me intimidar e falei: “o senhor poderia o chamar aqui”,
ele fingiu de bobo, desconversou e disse que via que eu “era um cidadão de bem” – o clássico e idiota jargão usado por eles como mantra, "cidadão de bem"; é muito fácil ser "cidadão de bem" não estando em uma posição de exclusão e miséria, cara pálida! Ser "cidadão de bem" para o pobre é o que? Aceitar a escravidão e a fome calado?! E ainda ele julga "cidadão de bem" pela cara, fala sério, viu! – e foi
saindo dizendo que estava agarrado. Esse é o tratamento que a PMerda dá! [Não obstante, não
nego que o tenente me ouviu relativamente numa boa e, em certa medida, ele tinha razão, afinal,
o ambulante que presenciou e vivenciou tudo não estava lá para confirmar os
fatos, mas, ao fim, ele não fez nada, nem mesmo a menor apuração que cabia, a saber, um
questionamento direto aos militares envolvidos].
Voltei para a passarela, não vi mais os policiais que me
abordaram. Encontro o ambulante e alguns amigos dele mais à frente da mesma. Perguntei porque ele não foi lá, ele disse, com visível medo até de explicar: “não dá em nada
e eles marcam a gente”. Eu falei: “eles têm que te devolver a pochete, tente ir à
Prefeitura, ao menos”; ele respondeu: “a gente é humilde moço, se chegar lá, eles
jogam é uma multa de mil conto na gente”. Nisso um dos amigos dele, um
senhor magrinho, negro, me disse que haviam levado dele, além da mercadoria, o seu
carrinho; eu fiquei puto! Cara, que revolta, ele dizendo: “são 90 pila agora, eu não sei como vou
fazer”. Não seria efetivo, mas, segurando na única coisa ao alcance ali, eu falei com ele: “você tem que abrir um B.O., a Prefeitura não pode ficar com
ele, tem uma van da PM que registra, logo ali na frente, e o tenente responsável
está aqui”; ele respondeu: “não dá em nada, um conhecido meu correu atrás disso e
perdeu tempo”. Ele estava com muita raiva, e eu também, por não
poder fazer mais nada... Eles estavam certos, reclamar para a própria
instituição que abusou deles, e corporativista até não poder mais, não seria
grande coisa.
Governantes a serviço
dos ricos e dos grandes empresários. Esta é a nossa sociedade: não deixa aqueles
que vêm da miséria se quer trabalhar! E, além disso, literalmente os rouba,
para que eles não insistam em conseguir o pão, onde os favorecidos dizem que não
pode.
Parabéns amigão! Colocou o soldado no lugar dele👏👏👏
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