sexta-feira, 20 de maio de 2022

Homeschooling, breve comentário

  Além do homeschooling contribuir ativamente para a destruição da Educação e os ataques covardes e infundados aos educadores, vindos dos seus insanos seguidores, que é o mesmo que querer aniquilar o que é o mais importante para uma sociedade humana e plural, que mereça o nome. Além do falso aprendizado e da falta de consciência de si perante os outros. Além dos abusos e das violências domésticas que poderão ser escondidos e outros absurdos mais. Fico pensando quão patético são os pais que querem isso. A visão de mundo deles é tão insustentável que não podem deixar que seus filhos ouçam algo diferente, que os últimos já vão pensar e agir diferente deles? Seria cômico, se não fosse trágico!
     E a mamãe e/ou o papai desses pobres "alunos do lar" dominarão todas as disciplinas? (Nesse sentido, é ainda mais cômico a exigência de nível superior ou técnico de um dos pais, como se isso resolvesse esse problema!). A precária educação remota, no período auge da Pandemia de Covid-19, não ensinou nada para esses energúmenos?! Seu filho vai estar é colando tudo da internet e vendo filme pornô, mamãe e papai homeschooling! E falando sozinho, fazendo amizade com o material escolar! Dizer que ele é o Messi na "educação física" também não vai adiantar nada para o perna-de-pau, que chuta a bola (Wilson, rs) na parede e tem o cachorro como goleiro!
     Imagina só uma criança ou adolescente sem o ambiente escolar, sem todo o aprendizado de troca mútua entre diferentes, sem a socialização, que a escola, por natureza, dá! Ensino se faz no quadro, nos livros e, não menos importante, na vivência com o outro. Escola é também experiência de vida! É compartilhar saber e dúvidas, é crescer junto!
     Outro ponto, muito importante, a se atentar: os pobres serão os mais prejudicados com essa loucura; para variar, né? As classes médias baixas, principalmente, farão o homeschooling por motivos religiosos fundamentalistas e políticos (alienados), sem quaisquer condições de fornecer o mínimo de ensino para seus filhos. Mais do que nunca, os pobres terão apenas um pedaço de papel (diploma) como "aprendizado", salvo basicamente aqueles que vão à escola para se alimentar e/ou ter um espaço de lazer, ou ainda, aqueles, em minoria, que gostam muito de estudar e percebem o valor do professor. Até porque, consciência mesmo do valor da escola e do aprendizado requer experiência, através do recebimento de informações e ensino qualificados, que se pode ter, com a vivência, no ambiente escolar, mesmo com todas as adversidades e precariedades de infraestrutura atuais. E outro problema: esses que continuarão frequentando, encontrarão lá, uma escola cada vez mais sucateada e negligenciada pelo poder público, tendo em vista a eminente diminuição de verbas, consequência da diminuição de alunos. Muitos alunos, sobretudo do turno da noite, já praticamente tentam fazer isso, pegar o diploma apenas como exigência dos seus trabalhos chão-de-fábrica – não estou aqui tirando a importância desses trabalhos, mas mostrando que o ensino é muito mais do que uma "carta de liberação" para realizá-los; na EJA (Educação de Jovens e Adultos), então, faltam mais do que vão. Se deixar, a maioria não pisa na escola depois de um dia pesado de trabalho.
     Estamos ainda diante de mais uma forma de excluir o pobre da universidade, como uma das nefastas consequências, afinal, que chances terão de competir, fingindo que estudam sozinhos, em um vestibular? (Grande parte nunca leu um livro na vida!). Alguém pode querer alegar que tem as "avaliações"; elas já não funcionam hoje, imagina sem a escola! Na escola, ao menos, aprendem algo por estarem na sala de aula. Como isso tudo é lamentável! É o tipo de coisa feita, de cima para baixo, por quem nunca pisa em uma escola (ainda mais pública!). Aquele típico ressentido, que odeia professor, que tomou birra, quando foi contrariado, ao afirmar que 2 + 2 era igual a 5. Não dá mesmo!
     Em suma: homeschooling = aumento da desigualdade social, exclusão de trabalhadores e berço de potenciais psicopatas limítrofes, semianalfabetos e com o rei na barriga.

15 comentários:

  1. Eu e um dos melhores alunos que tive, Victor, da memorável E. E. Villa Lobos (2019), comentou o meu texto, contra-argumentando. Reproduzo, abaixo, na íntegra, o comentário dele e, na sequência, a minha resposta:

    VICTOR (1/3): Boa noite, mestre. Li o depoimento e avistei algumas discordâncias, de minha parte, referentes ao texto do sr.

    De início, tenho como nota que alguns argumentos utilizados pelos detratatores da educação domiciliar, grupo no qual vossa caridade se insere, sempre partem de premissas ontológicas acerca do papel do ensino e do aprendizado intelectual, explico, a educação quase nunca é vista como um desdobramento orgânico da vivência cultural e afetiva do sujeito e sim, na melhor das hipóteses, um "despertar místico", semi-esotérico, de uma suposta chave de interpretação do mundo que conferiria ao aprendiz sua adesão ao mundo material através de ideologias sociais e tecnicismos produtivistas.

    Conduzirei o meu raciocínio abaixo baseado em meu ponto de vista, mediante a problemática apresentada pelo seu breve artigo:

    Pergunto, o que seria uma "sociedade humana e plural", de acordo com o sr? E que tipo de ataque realizaria uma concessão desta para a tal? Noto um dos sintomas iniciais da deformação argumentativa da qual eu mencionei, pois parece que vossa senhoria insinua uma crença na qual todos os jovens nasceriam munidos de um perspectiva totalitária, influenciada pela vivência religiosa e cultural de seu ambiente doméstico, que necessitaria de ser extirpada pelos educadores "transgressores" desta vil ordem imaginária, ou me engano? Fato é que esta caricatura sociológica nada mais indica que uma bela anedota, a realidade e a organização social não dependem de um cosmopolitismo educacional bisonho para progredirem materialmente. Vejamos a Idade Média, temos por tal um exemplo civilizatório de tamanhos avanços sem que houvesse uma adequação universal do sistema educacional na população; os lenhadores aprendiam o ofício com os seus pais, que por sua vez poderiam descobrir novas áreas de atuação pelo meio social que viviam, os camponeses acumulavam seus saberes através da oralidade e "ciências-primeiras", elaboradas pela sua casta, que poderiam ser repassadas para a prole e vice-versa, o mesmo ocorria entre os nobres e o clero, e é neste balé civilizacional que tínhamos uma tremenda perfeição; é claro que não te recobro a concordar inteiramente com minha descrição, até porque é "dogma liberal" de nosso tempo o desprezo pela Era Medieval e suas grandezas, entretanto, volto ao ponto que decorria, do que tratamos ao dizer que haveria a necessidade material de um sistema de ensino centralizador e universal para que houvesse vida em uma "sociedade plenamente humana e plural"? Não é por sua vez este regime educacional que de fato põe em risco a pluralidade religiosa e política das famílias a fim de que todos e todas venham a ser partícipes de um mesmo projeto ideológico?...

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  2. VICTOR (2/3):
    ...Passemos ao próximo tópico.

    Em segunda via, o que garante que uma concessão como esta causará o efeito que o sr menciona em relação ao descaso educacional por parte do aluno brasileiro? Vossa caridade fora professor escolar, e bem sabe, que esta degradante realidade existe com ou sem educação domiciliar, alunos que colam em trabalhos acadêmicos através de websites e alunos ausentes de domínio disciplinar são majoritários em toda rede pública de ensino, e nas redes pequeno-burguesas também, pois as conheci. Reitero o ponto, qual seria, então, a solução para isto? Cercear ainda mais o direito dos pais de terem autoridade sobre os próprios filhos? Tomar a educação doméstica para os ofícios do Estado? Não seria a hora de repensarmos o modelo produtivo/pedagógico que estamos montando a fim de rompermos com a liberalização juvenil e retomarmos o fascínio por uma sociedade orgânica e tradicional, tal qual o homem fora feito pelo próprio Deus a constituir?

    Terceiro ponto, há aqui um desconhecimento, por parte de vossa senhoria, acerca do Homeschooling quando este é levado a sério. Digo isto, pois mesmo nos modelos mais radicais a criança é ambientada com meios de socialização próprios de sua idade com a finalidade de aprendizado mútuo e desenvolvimento pessoal na juventude. O sr poderá me questionar:

    - Mas será que nesta terra Tupiniquim isto ocorrerá?

    Através de boas medidas legislativas e consciência social, creio que sim. De qualquer modo, nunca deixemos de recordar a máxima do Direito Ocidental, "O abuso não tolhe o uso", caso hajam defeitos acidentais eles deverão ser nomeados como tais, e nunca como uma deficiência do objeto em si...

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  3. VICTOR (3/3):
    ...Quarto ponto, há aqui uma série de preconceitos típicos da mentalidade progressista. Veja, o que supõe que um pobre necessita de um curso superior, ou avanço acadêmico, para alcançar realização individual em seu ser? Todos então devem ser vocacionados ao estudo e à leitura? Que absurdidade, meus avós foram tremendamente felizes em realizarem suas práticas laborais operárias, mesmo em contexto especialmente humilde pela crise migratória de europeus que vieram ao Brasil no início do Séc. XX, e poderem, ainda assim, organizarem suas metas pessoais e iniciarem o soerguimento de seus projetos familiares na realidade material, coisa que o Dr Fedeli, um historiador catedrático já falecido, bem trata quando escreve sobre a dimensão imaterial da educação, da família e do funcionamento civilizacional.

    Temos aqui, por fim, o exame inteiro de seu ponto de vista, o descarte completo da realidade espiritual e metafísica da vida familiar em prol do "ídolo voltaireano" de uma utopia "plural e livre" na qual todos deverão ser obrigados a se tornarem intelectuais sob pena de rechaço público e punição policial aos pais que quiserem que os filhos não se tornem produtos da Nova Ordem Mundial.

    No mais, é isto. Agradeço pelo artigo e lhe desejo sucesso nesta etapa profissional que o sr está iniciando. Vossa caridade sabe que tenho tremenda admiração pelos seus escritos e papel em minha formação.

    Novamente retribuo, muito obrigado pelo seu ensino, se não fossem as suas aulas jamais teria me aberto ao mundo filosófico e a uma contemplação realmente sincera da realidade, coisa que tem tido boa aplicalidade em minha vida como um todo. Jesus Cristo te abençoe e a Virgem Mãe Santíssima te proteja em todos os dias de sua vida.

    Peço perdão se meu vocabulário incisivo demonstrou desrespeito por seu excelentíssimo saber, apenas quis "apimentar" a discussão.
    Ao melhor professor de Humanas que eu já tive em todo o meu tempo colegial."

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  4. - MINHA RESPOSTA AO VICTOR-

    EU, MOISÉS (1/4): Boa noite, meu caro! Correria danada aqui. Foi mal a demora. Vamos lá: Entendo o que vc diz, mas eu estou partindo da praxe mesmo, não de conceitos puramente ontológicos. A escola tem que ser repensada, falo isso, inclusive, nas minhas aulas: Foucault era um grande crítico de como funciona o ambiente escolar, vê como mais um dos locais que “formam” corpos dóceis, tolhendo, em grande medida, a individualidade e criatividade das pessoas. Tendo a pensar como ele, em muitos sentidos. Bourdieu fala sobre esse tópico que vc coloca para abrir a discussão, o “capital cultural” sempre está presente, influenciando no aprendizado – outro autor que vale muito a pena correr atrás.

    Então, uma sociedade humana e plural é aquela em que todos os indivíduos têm condições de sobrevivência, que convive com a diversidade, que respeita o outro em todas as áreas de sua humanidade. Evidentemente o homeschooling não é o único problema. No meu (curto e panfletário) texto, escrito devido à recente aprovação na Câmara, apenas dou o enfoque nele, que certamente é um dos problemas. [Vale mencionar que mais de 50 sociedades científicas subscreveram a carta da SBPC, contra o homeschooling]. Respondendo precisamente a sua segunda questão: ao se permitir homeschooling, vários estudantes não terão a formação na infância e na adolescência convivendo com aqueles que são diferentes deles, não estudará e não participará, em grupo, de questões tragas pelo outro, que só podem surgir nessa troca. Se não me engano, não cheguei a passar Hegel para vcs. Ele fala muito disso. Mostra como o conhecimento e o desenvolvimento da consciência precisa inexoravelmente da Dialética, entenda-se: de uma tese, de uma antítese e de uma síntese. A escola, com todos os seus defeitos, é o ambiente nato que permite esse tipo de formação. E quanto a contribuir para com a desumanidade social: a empatia não é plenamente desenvolvida sem a convivência próxima com o diferente.

    Sim, se engana. Não é esse o meu ponto. A questão não é desconstruir, necessariamente, o que se aprende em casa, seja de cunho religioso ou não. Os professores apresentam “pontes”, quem passa por elas, ou não, são os alunos. A escola é ambiente para conviver e pensar junto. Minha crítica está direcionada (utilizando a retórica necessária para enfatizar, inclusive) àqueles que querem blindar seus filhos do conhecimento, do contraditório, que perseguem professores quando apresentam formas diferente de ver o mundo. Acusar um professor de “ateu”, “comunista”, “gayzista” e etc., é a coisa mais baixa que pode ser feita! Em quase a totalidade das vezes, essa caricatura é o que pais homeschooling querem evitar, concorda comigo? Reduzem o pensamento e tudo o que foi produzido pelas maiores mentes da humanidade à tamanha baboseira! Criticam grandes nomes, dos quais, eles só conhecem o nome (e, se pedir para escrever, não sabem). Em outras palavras, é tentar esconder o que não se pode, argumentativamente, vencer. Já viu o filme A Vila, do M. Night Shyamalan? Tipo aquilo. Ademais, nenhum pai ou mãe, ou qualquer ser humano, têm capacidade de dar a diversidade de conhecimento e diálogos, com a devida expertise, que a escola dá...

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  5. EU, MOISÉS (2/4):
    ...Não penso que esses tenham sido os ganhos da Idade Medieval, embora eu não coadune com a visão que descarta tudo desse período como “Idade das Trevas”, como vc sabe. Longe, infinitamente longe, de ser “tremenda perfeição”. Leia “Cândido, ou do Otimismo” de Voltaire. Como a vivência dos períodos antigos é ilustrada perfeitamente lá! A incerteza predominava, a maioria das pessoas viviam escravizadas, com medo, fome e em extrema miséria. Quem falava por todos era um ou dois, e ainda com poder de calar à força os discordantes. Respondendo diretamente a sua indagação sobre esse ponto: Não. A escola agrega os diferentes, para pensarem e conviverem juntos. Há certas coisas que não se pode deixar de passar em uma sala de aula. Mas mesmo estritamente dentro do currículo, pessoas aprendem e apreendem de forma diferente. A escola propaga o acúmulo do conhecimento científico/humano. Mesmo dentro da lógica que podemos constatar, que Foucault traz e eu já mencionei aqui, que coaduno com o grosso da crítica dele e tal, a escola não está obrigando ninguém a seguir o que ela apresenta, a escola pede que vc saiba. E, novamente, repensar a escola é necessário, mas para se fazer mais justiça às especificidades e tempo de cada um, aos diversos saberes. Não há projeto ideológico por parte dos educadores, no sentido de aplicar uma única e mesma visão. Educadores são diversos e, mesmo as instituições escolares, que são regradas por currículos educacionais, estão reconhecendo e aceitando essa condição, ampliando cada vez mais seus leques. A minha disciplina mesmo, tem espaço curricular para eu trabalhar todas as áreas da Filosofia e liberdade de cátedra para eu dar a ênfase em que eu quiser (e puder, pois, obviamente, ninguém domina igualmente tudo).

    Certamente cola é um problema. Até porque cola quem ainda não entendeu o sentido de estar aprendendo algo. Mas, em sala de aula, a troca vai acontecer de uma forma ou de outra. Vai muito além do que se coloca em um papel ou no quadro ou, ainda, na tela. Ouvir uma questão, conversar com um colega depois, sobre um tema levantado, por um terceiro que nem tinha a ver com eles, que estava ali presente, é a educação vida, é o que realmente tem significado. Ainda mais em fase de desenvolvimento. Isso não acontece em homeschooling, definitivamente... A solução é dar o máximo de liberdade possível e construir o aprendizado juntos. [Depois pesquise um pouco sobre escolas com educação humanitárias, elas só não funcionam para a maioria porque são caras e a gente sabe que esse sistema capitalista insano precisa manter a maioria na ignorância, para perpetuar o status quo]...

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  6. EU, MOISÉS (3/4):
    ...A liberdade dos pais não pode consistir em inibir a liberdade dos filhos. Não se esconde saberes. Ponto. Como pais estão sendo cerceados em relação à autoridade sobre os filhos? Penso que vc não discorda do que está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, entre outras cartas que pregam a mesma condição de liberdade. A obrigação escolar foi criada para combater o analfabetismo e a baixa escolaridade, inegavelmente vem funcionando. Não existe isso de “tomar a educação doméstica para os ofícios do Estado”. Tenho certeza que vc não se sentiu assim. Os saberes escolares são para colocar as pessoas a par da produção intelectual e ter ferramentas para lidar com elas. Evidentemente, isso passa por discutir questões sociais e filosóficas. Pensar a ética, o outro, é tão complexo quanto pensar a física ou a química. E assim por diante, é uma preparação para lidar com o mundo do conhecimento coletivo. As disciplinas da escola são a base. Não é algo que se faz em casa e sem qualquer critério. Aprendemos muito com tudo o que foi tecnicamente produzido. Vc é um leitor de filosofia, sabe bem disso.

    Uma sociedade “orgânica e tradicional” é, em outras palavras, uma sociedade de privilégios de poucos. Fomos moldados em uma tradição de castas. Onde a maioria está a serviço de uma minoria, simplesmente devido ao lugar e condição socioeconômica em que nasceu. Isso não faz qualquer sentido. Estamos evoluindo contra essa criação cultural arbitrária. Por exemplo, a tradição coloca mulheres como inferiores, isso é ridículo, nenhuma sociedade civilizada aceitará viver novamente assim. Meu caro, vc sabe que usar uma questão de fé não é um argumento legítimo nesse campo. Como saber os propósitos de “Deus” para com o homem? Não sabemos nem se “ele” existe.

    A socialização que está em questão não acontece fora da escola. É o que eu já disse ao falar sobre Hegel. Cada experiência produz o seu saber correlativo. Os enxertos produzem resultados parcos. Em todo caso, a maioria das crianças pobres só tem acesso a esses locais de lazer e convivência, que é dentro da escola. É a única forma que normalmente veem uma quadra. E muitos ainda só se alimentam bem, ali. E o fato de que a maioria dos abusos acontecem em casa e é na escola que são descobertos, é fator colateral que não pode ser ignorado. Pegando a sua própria citação, “o abuso não tolhe o uso”; por isso nenhum defeito que vemos na escola terá como solução a sua extirpação. E com todos os defeitos possíveis, por isso tudo que estou a falar e o que já provoquei no texto em si, a escola é muito melhor do que a não-escola...

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  7. EU, MOISÉS (4/4):
    ...Sobre o seu quarto ponto: os tempos são outros. Cada vez mais, a falta de conhecimento faz que as pessoas desescolarizadas sejam presas fáceis. Foucault, novamente o citando, já dizia como poder e saber andam juntos, sendo praticamente uma coisas só (se ainda não leu, leia Vigiar e Punir, é muito bom!). “Realização individual” é algo muito subjetivo, certamente. Contudo, a pessoa com mais escolaridade tende a ter melhores salários, assistência médica e qualidade de vida e lazer. São os dados do IBGE. Esse papo que vemos do bolsonarismo, alegando ter muita gente com nível superior, é uma falácia grosseira! O Brasil está muito atrás de todos os países de primeiro mundo no quesito escolaridade populacional.

    Meu caro, não existe “Nova Ordem Mundial”. As mudanças são constantes. O mundo muda, as coisas mudam. Esse é um nome que nada diz. Vc é cristão, e por ser movido pela curiosidade, tenho certeza que já leu que os primeiros cristãos achavam estar vivendo o Apocalipse. A suposta realidade “espiritual e metafísica” é indemonstrável. O que temos é sempre o devir (Heráclito tem razão, rs)... Heidegger buscou por um bom tempo retomar a questão do que é o Ser-em-geral, a abandonou por estar além da capacidade humana (“Ser e Tempo” é um livro muito denso e difícil, mas vale a pena ler, ao menos, o início dele, onde o filósofo apresenta o seu projeto). “A existência precede a essência”, como sabiamente Sartre coloca. Portanto, ser “plural e livre” é o mesmo que respeitar a todos, a liberdade de pensamento, criação, expressão e crença (e descrença), em uma palavra, a dignidade humana! É, no mais das vezes, é com alvos “utópicos” que conquistamos o razoável. O fim da escravidão já foi “utopia”. Mas não estamos falando de utopia ao lutar por uma sociedade guiada por esses nortes. Vc é contra os Direitos Humanos? Certamente não. Então, eles têm esse norte, essa base. Guias que vêm desde a Revolução Francesa, a saber, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

    Obrigado. A troca com vc sempre foi positiva! Foi um prazer ser seu professor! Esse é o ganho que só o ambiente escolar pode proporcionar à nossa formação, inclusive. Somos todos provas vivas disso. A provocação é boa, a filosofia viva é isso! Vou até colocar essa nossa conversa como comentário no blog. A dialética produtiva se dá nesses termos. Meu texto em si foi curto, mostra da indignação, sobretudo; creio que agora os meus pontos se fazem mais claros. Vc é um grande pensador, tem a curiosidade e a instigação necessárias, pense nisso tudo o que coloquei, leia minhas indicações e tire as suas próprias conclusões. Vamos marcar qualquer hora de trocar uma ideia sobre isso tudo e muitas coisas mais. É assunto que rende. Se continuar por aqui, dá um livro, rs. Mas valeu a pena! É esse ganho que a sala de aula nos dá. Muito obrigado mesmo! Muito bom saber que contribui para a sua formação. Segue nesse caminho que nos ensina a filosofia, isto é, ser um “amigo do saber”. Forte abraço! Tudo de bom!

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  8. NOVA RESPOSTA DO VICTOR (1/3):
    "Boa noite, professor.
    Bem o senhor sabe que não há praxe sem teorização prévia rs... toda articulação política, seja reacionária ou revolucionária, tem por detrás de si uma orientação objetiva para a construção do real, ainda que o "grupelho" que a defenda não conheça o fim ideológico de tal proposição, nisto acerta Feuerbach, um sujeitinho alemão que seria assimilado por Marx um tempo depois.
    A respeito de Bordieu, não o conhecia, correrei atrás. Agredeço muitíssimo pela referência, mestre.
    Minha crítica a Focault e seu prospecto de que as instituições tradicionais; nisto inclui-se o molde escolar, os manicômios, presídios etc; seriam locomotivas de adestramento social e vigilância física se baseia em algumas deficiências epistemológicas de sua própria análise, as quais encontrei e sistematizei em um ensaio após a minha breve leitura de "Vigiar e Punir". Ademais, no ensaio mencionado me pronho a demonstrar que as "chaves nietzscheneanas" utilizadas pelo pensador francês são na verdade antifilosóficas e pouco contribuiriam para qualquer sistematização séria, problema ainda acentuado pelo idealismo kantiano que ele subjetivamente mantém. Sobre isto, irei ver se encontro e lhe mando para que o sr avalie, pois tenho escrito menos a respeito destes assuntos e me dedicado mais às escritas teológicas , consequência direta do fim de meu ateísmo.

    Quanto ao texto, prossigamos.

    Não creio que seja salutar para uma criança o convívio constante com elementos degenerativos e correntes pedagógicas iníquas, como é o caso da maior parte das redes de ensino no Brasil, porquanto digo que se esta referida "diversidade" fosse assim tão importante para vossa senhoria, e ao grupo político do qual o sr faz parte, a educação domiciliar não seria "socialmente excomungada", haja vista o fato de que em qualquer sociedade minimamente decente o Estado não interviria a fim de dar cabo às tradições culturais e religiosas que tantos pais insistem em repassar aos seus filhos pela via educacional.
    + Uma observação, saiba que a minha argumentação possui apelo pessoal, pois pretendo em breve ter filhos e não cogito de forma alguma colocá-los em um contexto pedagógicamente secularista antes do Colegial. +
    A respeito de sua concepção acerca da apreensão da realidade por parte do educando, discordo veementemente, porque a Educação, utilizo a inicial maiúscula para não confundirmos os bois com a carroça, penso eu, serve à busca da verdade e à sistematização de verdades já conhecidas, o que nos faz saber, por decorrência, que quaisquer medidas que se sobreponham a forma, ou natureza, do objeto, o aprendizado técnico e teórico, serão características acidentais do mesmo por não tocarem em sua essência. Disto, então, que vem o erro de Hegel e seus contemporâneos, pois ao rejeitarem a possibilidade de conhecimento do real pela própria adequação do intelecto ao ente entram em uma tremenda confusão metafísica, o que acaba exigindo, como vossa caridade bem mencionara, a necessidade de raciocínios deficientes, se é que poderemos chamá-los de "raciocínios", com a finalidade de não mais conhecer a verdade como objeto próprio e sim como um conjunto de fenômenos interindependentes que só poderiam ser correlacionados, ou unidos, por meio de sínteses intermináveis ao absoluto...

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  9. NOVA RESPOSTA DO VICTOR (2/3):
    ...Neste sentido, há de se concordar sobre o desserviço das novas filosofias às verdades aristotélicas.
    Em suma, chutemos Hegel ao escanteio e tomemos Santo Tomás como patrono de nossa episteme pedagógica.

    Sua crítica aos pais que convencionam de "discursos conservalóides" e políticos estúpidos desta Direita Liberal, que na prática sabemos que utilizam estas pautas com a finalidade de cortar as verbas públicas de nossa nação, é acertadíssima. Partilho inteiramente. Entretanto, algo é factual, conviver com o diferente não rompe uma tendência intelectual, afinal toda pedagogia possui orientação ideológica, nisto acerta Paulo Freire em sua "Pedagogia da Tolerância", e qual seria a problemática de uma criança ser orientada segundo uma perspectiva perene e cristã, utilizo "cristã" como sinônimo de católica, em contrapartida das demais correntes hoje majoritárias no meio educacional?

    Quanto ao seu comentário da Idade Média, é difícil não cometer um "ad hominem" acerca de Voltaire e suas difamações, contudo, perpassar por isto não seria proveitoso na discussão, pois pelo visto nós dois partilhamos de visões históricas diferentes a respeito do fenômeno. Cabe aqui uma gelada e um tempo maior, caso o sr queira hahaha.

    Tanto no Homeschooling quanto no Colégio o garoto terá acesso, ao menos na área de Humanas, aos diversos saberes de cada apêndice do conhecimento, a única diferença será, em alguns casos, que ele terá um fio condutor diferente do stablishment educacional que nós temos atualmente. Eu, por exemplo, me vejo como um "case de sucesso" no Vestibular, tive mais de 40 acertos em Humanas com + de 960 na Redação, e nunca tive uma aula somente sobre Filosofia Medieval, até porque quando o senhor chegou já "estávamos" em Kant, pois outro professor que tive dizia apenas asneiras e nunca sequer ensinou qualquer cultura filosófica de fato, este é o estado da Educação que vossa senhoria tanto defende.

    Mestre, a sua visão de ensino é um tanto idealista, e acho esta deverasmente nobre, mas não é verdadeira. O senhor sabe que não é. As médias institucionais da Educação Plural que o sr defende estão aí, alunos de 17 anos que desconhecem Matemática Básica e não sabem escrever um texto, enquanto o ensino hierárquico dos cursinhos, que "não ensinam os alunos a pensarem", forma cientistas, profissionais e professores, veja, não quero soar tecnicista ou utilitarista, mas que saber filosófico tem um aluno, por exemplo, que desconhece todas as escolas filosóficas desde Demócrito até Habermas? Creio que este só sirva de "escravinho" aos Partidos Populistas para gritarem frases pseudointelectuais em megafones de passeatas urbanas, ipsis litteris, "Ninguém solta a mão de ninguém"...

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  10. NOVA RESPOSTA DO VICTOR (3/3):
    ...Sobre a questão da "Sociedade Orgânica e Tradicional" e o analfabetismo, as hierarquias são positivas e importantes na sociedade, assim como nem todos devem ser ricos, nem todos devem ser intelectualizados, por isto repito, penso a *e*ducação como um desdobramento orgânico da vivência cultural do sujeito mediante a realidade. Digo, a alfabetização universal é salutar e deve ser buscada, porém a alfabetização em si não constitui um direito próprio, é injusto alfabetizar, à força, um grupo incauto às custas da aristocracia local, a Rede Pública de Ensino prova isto, pensemos, quantos gênios os professores não perdem, por este igualitarismo covarde, ao igualá-los a pessoas que não são vocacionadas para aquilo? É desanimador, falo por experiência própria.

    Em vista da relação da falta de conhecimento e a sua profunda relação com a subserviência, eu não neguei a necessidade de se alfabetizar e de se buscar um progresso nacional em nível acadêmico, apenas peço que tal feito seja realizado com prudência, respeitando o desenvolvimento orgânico e hierárquico da sociedade.

    Sim, existe a "Nova Ordem Mundial", e não a cito no sentido "milenarista", como o senhor citara acerca da patrística, e sim no sentido de um ente político universal que está em vigor desde a Revolução Protestante. Depois me lembre de lhe recomendar uma obra do Henri Delassus sobre isto.
    No mais, Sartre e seu Existencialismo são sintomas post mortem da degredação filosófica ocorrida na modernidade, nisto suponho não haver nem sequer mais Filosofia de fato, pretendo logo logo escrever um artigo acerca de tal.

    Por fim, agradeço muitíssimo a sua caridade e elogios para comigo, não tenho dúvida que fora o sr um dos grandes responsáveis por colocar lenha em meu intelecto. Novamente reitero, a sua contribuição para a educação de todos aqueles que tiveram a honra de serem seus alunos é magnânima, rezo para que outros como eu se levantem para perpetuar alguma parte de seu legado. Estou escrevendo uma obra de apologética católica, colocarei o sr nas dedicatórias, sinta-se honrado por tal.
    Jesus Cristo te abençoe, Mestre Moisés.
    P.s: Com a finalidade de polêmica, afirmo, a ideia da inexistencia de Deus fraqueja perante uma reta interpretação das 5 vias. Hahaha.
    "Veritas est adæquatio intellectus et rei"."

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  11. EU, MOISÉS - MINHA NOVA RESPOSTA (1/5):
    Boa noite, Victor!
    Serei mais sucinto dessa vez, mas responderei o que vc levanta, sim. Como eu disse, entraremos em detalhes numa prosa, qualquer dia desses. Aceito o convite, em breve marcaremos.
    Não necessariamente toda praxe tem uma teorização prévia. Montaigne mostra muito bem isso, leia os Ensaios dele, nos ensina muito! Mas deixemos esse ponto para o encontro presencial. O que eu disse é bem objetivo, falo que não parto de “conceitos puramente ontológicos”. Não estou negando a ontologia envolvida, mas estou dizendo que não é só isso, mas constatação empírica.
    Meu caro, Feuerbach é um puta pensador! Não diga isso. Vc pode aprender muito com um filósofo desse quilate, mesmo discordando dele. Tente o ler sem prejulgamentos, mesmo ele sendo contra a sua religião; garanto que vc ganhará muito!
    Foucault tem várias fases em seu pensamento. Costumamos dizer que há, ao menos, três fases em Foucault: a arqueológica, a genealógica e a ética/estética da existência. Essa redução que vc fez não é correta. De forma geral, podemos afirmar que Foucault não buscava uma sistematização, portanto, nada mais natural do que vc não ter encontrado isso nele. O que vc está entendendo por “chaves nietzscheanas”? O que podemos constatar de Nietzsche em Foucault é a mais pura atividade filosófica. A crítica ao que entendemos por homem, por poder, por moral, as aplicações do niilismo, da construção conceitual, enfim, é muita coisa relevante para reduzir assim – essas são só as primeiras. É definitivamente um erro esse tratamento. Já ia me esquecendo, sobre a influência de Kant sobre ele, que vc aduz. Ela é pouca, basicamente a parte inicial da epistemologia, da Crítica da Razão Pura, que mostra o limite do conhecimento. Foucault está longe de ser um paralelo do idealismo kantiano. Foucault chega a criticar Kant em Ditos e Escritos, inclusive. Não obstante, cabe ressaltar que há muita coisa relevante no idealismo kantiano para qualquer pensador que mereça o nome, que trate filosofia de forma séria, após os escritos desse filósofo, que é um dos maiores e mais completos que já existiu.
    Sinceramente, não sei o que vc chama de “elementos degenerativos e correntes pedagógicas iníquas”. O Estado é laico. Consequentemente, o deve ser a escola pública. A “diversidade”, por buscar a diversidade, não pode aceitar o que a quer anular à força. É o que John Rawls fala do “paradoxo da tolerância” – é outra coisa que vale muito a pena ler, o clássico “A sociedade aberta e seus inimigos”. Onde o Estado, via educação escolar, quer “dar cabo às tradições culturais e religiosas”? Não professá-las é o mínimo que se espera de um Estado laico. Mas a escola não busca impedir que a pessoa tenha qualquer religião e/ou cultura. Quanto à educação de filhos, esconder o mundo delas sempre será prejudicial. Penso que religião não deveria ser algo doutrinado para crianças. Jamais! Mas o Estado laico não interfere nisso.
    Ora, estamos, nesse exato momento, participando das várias sínteses do Espírito hegeliano! Para começar, não criamos a linguagem que estamos usando, trata-se de um saber coletivo desenvolvidos através de várias teses, antíteses e sínteses. O que podemos conhecer não é algo pronto. Não está em cada uma consciência como algo vindo de forma miraculosa. O aprendizado é feito com essa troca, com estágios. A escola ensina, como eu disse, pelo quadro, pelo livro e pela vivência, pelo pensar junto. Citei exemplos disso. E vc sabe cabalmente que eles são reais, afinal, posso dizer isso com total segurança, pois compartilhamos a sala de aula. Quantas coisas e temas para pesquisar não foram despertadas em vc ali, não é mesmo? Até eu, como professor, sempre aprendo com essa troca, mesmo sobre algo que estou sempre retomando. A vasta leitura que fiz e discussões que tive sempre serão, ao menos em parte, renovadas de maneiras singulares, tendo novos ouvintes e debatedores, com novas experiências. A própria narrativa é filtrar o aprendizado. E se narra para o outro...

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  12. EU, MOISÉS - MINHA NOVA RESPOSTA (2/5):
    ...Novamente, meu caro. Cuidado ao “chutar” assim pensadores desse quilate! Uma vida é pouco para compreendê-los e tudo o que influenciaram em sua plenitude. Para vc ter uma ideia, eu fiz uma disciplina com o professor Leonardo Vieira, Doutor em Filosofia pela Universität Gesamthochschule Kassel, um dos maiores especialistas da área, onde lemos por volta de 20 páginas apenas da Fenomenologia do Espírito, passamos um semestre inteiro, quatro horas por semana, debruçados sobre o livro e os comentadores; não raramente ficávamos um aula inteira em apenas um parágrafo! Claro que isso não significa não poder discordar deles, mas é preciso ir com calma. Como eu disse, mesmo discordando, sempre podemos aprender com eles. [Meu caro, se o grande Padre Vaz estivesse vivo, suas orelhas seriam fortemente puxadas! rs].
    Como eu disse acima, não penso que religião seja coisa de criança, mas sim, os pais podem dar uma formação católica (ou de outra religião que sigam), pode matricular seus filhos em uma escola professional. O problema está em querer censurar saberes que não os repercutidos pela respectiva religião, entende? Não se deve esconder a realidade. (Reitero a indicação de filme: A Vila).
    Sim, mas vale a pena fazer esse esforço. “Cândido, ou do otimismo” é um bom livro de literatura. Vale já dar um spoiler do bem: Voltaire não defende o otimismo nele, como o título pode sugerir, pelo contrário, ele está sendo irônico, mostra a fragilidade de tal.
    Esse “stablishment educacional” não é hegemônico como vc está pensando. Cada sala de aula é única, inclusive dentro da mesma escola. Ouça a voz da experiência. Homeschooling é negar o principal desenvolvimento da criança e do adolescente, que se dá em conjunto, com o outro, dentro do currículo e fora dele. Como já ilustrei enfaticamente na primeira resposta.
    Parabéns pelos acertos e pela redação! Qual curso vc está fazendo? Mas não diga isso, meu caro! Eu sempre dou a minha aula sobre Tomás de Aquino e a Filosofia Medieval. Lembro que vc faltou nelas! Até comentei contigo na época, rs.
    Seu outro professor tem uma pegada diferente, busca passar uma filosofia de cunho mais social e política, que seja prática, direta e imediata para a maioria. Tem também valor, é facilmente assimilada, instiga a pensar, mesmo não focando detidamente nos grandes autores da Filosofia. Não é a que eu julgue ser a melhor, mas vejo sim relevância nela. Por exemplo, o espaço que o seu outro professor, conhecido por mim, dava para o debate com os alunos é muito bacana, incorporei inclusive algumas atitudes dele na minha pedagogia. Como eu disse, sempre podemos aprender. Sempre a escola é melhor que a não-escola. Ir à escola não impede que se estude sozinho, que critique e que pense diferente do que o professor diz. A escola, em qualquer ocasião, é sempre um acréscimo. O compartilhamento de saberes com o outro é vital. E quantas coisas além da matéria não indico para meus alunos, em suas especificidades. Eu e vc mesmo, tivemos trocas de ideias singulares, vc leu e pesquisou coisas, indicadas por mim, que os outros não estavam lendo, em diversos momentos. Eu mesmo eu, fui dar mais atenção a Alvin Plantinga após nossas conversas. Aprendi. Sempre aprendemos. Olha que legal isso, vc se direcionou para um caminho de estudos singular, mas a fagulha surgiu na escola, na troca com o outro. Ela não surgiria sem. Estudando sozinho e apenas o que os pais querem, terá mais do mesmo. E, convenhamos, criança e adolescente não estuda sozinho, salvo raríssimas exceções e, mesmo essas ultimas, serão prejudicas, pelas várias razões que venho elencando. Não as repetirei para não estender ainda mais, mas basta reler tudo o que eu disse...

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  13. EU, MOISÉS - MINHA NOVA RESPOSTA (3/5):
    ...Eu poderia escrever bastante dos problemas também, pois eles são muitos. Poderia falar do que vi na prática e do que estudei à exaustão na Faculdade de Educação da UFMG, um grande berço que tive lá, que sou eternamente grato, antes de pisar em qualquer escola como docente. Nessa curta troca de mensagens, pode soar idealista, mas não é isso. O que defendo é que a escola é essencial para o desenvolvimento do ser humano e, mesmo com falhas, ela sempre é um ganho. Frise nessa minha frase: a escola é sempre melhor que a não-escola, apesar do problemas. E, novamente, como eu já disse, partindo inclusive daquela sua máxima: “O abuso não tolhe o uso”. Como diz o ditado, que Habermas inclusive ecoa: “não jogue o bebê fora com a água do banho”. É preciso melhorar a escola, JAMAIS acabar com ela!
    “Vocação educacional” é algo muito complicado de dizer. Um criança que estuda em uma escola da periferia tenderá a ser menos “vocacionada” que uma que estuda, por exemplo, na Fundação Torino, filho de professores universitários, percebe? Antes de qualquer coisa, é preciso buscar uma educação básica de qualidade. Ela perpassa por boas escolas, não pelo fim delas, reitero. Claro que nem todos serão intelectuais, mas não é isso que se está buscando! Curso superior hoje está sendo pedido em diversas áreas, pois, cada vez mais, as tarefas estão se complexando. E, repito, estamos bem abaixo da média dos países desenvolvidos, no quesito educação superior para a população.
    Pessoas aprendem em tempos diferentes, às vezes a aula será fraca e desanimadora para quem já sabe ou está mais à frente (vc não imagina como passei o cúmulo disso nos meus tempos de escola, na matéria de língua inglesa, rs). Mas faz parte, reforçar conhecimentos também tem valor. Isso se resolve com menos alunos na classe, com atenção individualizada, com currículos mais abertos, não com o ficcional autodidatismo de todas as matérias. E vc ter um experte ali, para poder tirar eventuais dúvidas, inclusive além do que os outros estão aprendendo, é muito bom! Não existe aprendizado pleno sem professor. Mesmo à nível superior. Se hoje eu posso ler e compreender tecnicamente qualquer livro de filosofia, foi porque eu tive professores que me ensinaram os caminhos hermenêuticos, por onde começar e o que eles aprenderam com a vasta leitura de comentadores. O ganho de poder dialogar com quem debruçou tantos e tantos anos sobre algo, que vc começou a ver agora, não tem preço! Além de que, pensar junto com o outro, tem todos os ganhos que eu já mencionei.
    A hierarquia social tem que ser repensada, meu caro. As bases delas são injustas e o tamanho das consequências das desigualdades é absurdo...

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  14. EU, MOISÉS - MINHA NOVA RESPOSTA (4/5):
    ...O termo “Nova Ordem Mundial” se concretizou como uma teoria conspiratória, totalitária, a partir do século XX. Isso é patético! O protestantismo americano fortalece isso como uma preparação da vinda do Anticristo, por isso a minha comparação com os primeiros Cristãos, que acreditavam estar vivendo o fim dos tempos. Não entrou em vigor “Nova Ordem Mundial” com a Reforma Protestante. Inclusive os protestantes acusam os maçons disso! rs. Não existe esse articulador (se discorda, quem ou o que seria?) e, diga-se de passagem, o mundo oriental nunca deu a mínima para isso. O que temos são mudanças sociais constantes. Toda concepção de mundo que se coloca como imutável foi, é e será ultrapassada, o organismo humanidade é vivo.
    Meu caro, a filosofia de Sartre mostrando a “existência precedendo a essência” é um dos maiores achados da Filosofia contemporânea. Uma das coisas mais notáveis e aplicáveis, ao se olhar as diversas culturas e práticas humanas. As metafísicas que colocam essências a priori estão todas superadas. Como Hume bem coloca, são como vindas de algum mundo igualmente miraculoso a elas, que nada tem de demonstrável. Mesmo a ciência genética dos dias atuais não coloca comportamentos como algo determinado, fala, no máximo, de possíveis influências. [Fiz a disciplina Genética no Departamento de Ciências Biológicas exatamente para me nutrir do que a ciência atual tem a dizer sobre isso; ela não é contra-argumento para a filosofia sartreana.]. Eu não acredito que vc tenha lido “O Ser e o Nada”, fazendo esse tipo de redução. Mas olha que curioso, isso já foi ironicamente feito, por Whitehead, que disse que “toda a filosofia europeia é nota de rodapé de Platão” – embora ele esteja, antes querendo enfatizar a importância do filósofo grego do que desqualificar os demais, é o que vemos ao ler a citação em contexto. Isso me lembra do saudoso professor Marcelo Marques, especialista em Platão, um dos melhores que a UFMG teve em seus quadros, que dizia: “em filosofia é importante tomar cuidado para não sair arrombando porta aberta”.
    Meu caro, que loucura dizer que não houve Filosofia na modernidade e após! Veja, são tantos nomes, tantas obras, tantas correntes cruciais que nem sei por onde começar, rs. Vc não teve nem mesmo tempo para ter lido essa a vasta produção. Comecei a escrever os nomes na resposta, mas percebi que eu iria escrever uma página inteira e apaguei. Enfim, não dá para fazer esse julgamento (e julgamento muito errado!) sem ler esses caras. Só de correntes, vc tem a iluminista, a idealista, a empirista, a cética naturalista, a crítica racionalista, a fenomenológica, a do absurdismo, a existencialista, a materialista, a estruturalista, a liberal, a liberal igualitária, a comunitária, a neo-marxista, a teoria crítica, a niilista, a solipsista, a pessimista (corrente pouco conhecida, como a de Philipp Mainländer), a filosofia continental como um todo, a linguística, a analítica, a filosofia da mente, da ciência e por aí vai. São centenas de grandes autores expoentes, isso só de bibliografia primária. Realmente, não caia nesse erro “olavista”...

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  15. EU, MOISÉS - MINHA NOVA RESPOSTA (5/5):
    ...Existe um UNIVERSO de saber, dos mais relevantes imagináveis, produzido na Filosofia Moderna e Contemporânea. Que é preciso algumas boas décadas de estudo aprofundado só para poder afirmar compreendê-lo bem. Isso sem contar a retomada das filosofias asiáticas, africanas, persas e arábicas e o que se está produzindo nesses lugares hoje e no mundo inteiro, inclusive aqui, no Brasil (depois procure ler o trabalho dos professores Paulo Margutti e Ivan Domingues; do último, tive o privilégio e o prazer de ser aluno). A calma nesses assuntos é um bom guia. Cuidado com o seu artigo. É bom a gente exercer a escrita e o que estamos assimilando, vc deve fazer, mas essa sua pretensão, nesses moldes, é insustentável. Escreva, mas leia muito, muito mesmo, do que já foi produzido, antes de fazer qualquer crítica. É preciso bases sólidas. É preciso conhecer para julgar. Fica a dica.
    Muito obrigado pelos elogios também e pelo reconhecimento do que pude contribuir, nessa profissão tão importante e ao mesmo tempo tão atacada, que é ser professor. Vê? Vc é prova dos bons frutos dessa troca única que acontece no ambiente escolar, apesar de todos os problemas existentes. Enfim, retomando o que desencadeou esse diálogo, para finalizar, em uma palavra: a escola é essencial. Continue nessa linha, como eu disse, com mais calma e tempo de leitura, vc certamente tem potencial para contribuir muito com a reflexão dos dias atuais, meu caro. Sem dúvidas, um dos melhores alunos que tive nessa caminhada. Quem sabe, vc não venha a cursar Filosofia no futuro?
    Fico muito grato e honrado em ter o meu nome na dedicatória da sua obra. Boa sorte na escrita. Terei o prazer de ler! Tudo de bom. Até mais.

    Ps: na aula que vc faltou, eu mostrei como os céticos rebatem as 5 vias de Tomás, rs. Foi preciso vir Descartes para “provar” deus, contra os argumentos céticos. Mas depois veio Hume e Kant, para mostrar os passos insustentáveis de Descartes, restando apenas o ceticismo levantado pelo último. Repito, não temos condições de saber se “deus” existe (ou não). [Entenda-se "saber" como conhecimento racional e/ou crença justificada e demonstrável]. Forte abraço! E siga nesse caminho de busca pelo conhecimento!

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