Olimpíadas para inglês ver, todo mudo sabe. Olimpíadas
programa para rico, todo mundo sabe. Olimpíadas para promover políticos, todo
mundo sabe. Infelizmente, como todo mundo também sabe, a educação vale menos
que o esporte no Brasil (e coloca MENOS nisso!). Mas vale narrar um breve fato
exemplar do último em relação aos jogos que aconteceu comigo para ilustrar como
até no micro – como diria Foucault, na “microfísica do poder” – isso é
evidente: eu, a pé, em cima da hora para chegar à escola que dou aula, encontro
um monte de PMerda nas redondezas do Minas Tênis Clube (o que já é questionável,
mas não vou entrar nessa seara agora); vejo eles fechando o trânsito alguns
quarteirões acima com suas motos; quando fui tentar atravessar a Av. do
Contorno, mesmo sem carros por perto, um deles com toda “cordialidade” de
costume veio gritando na minha direção, no intuito de me barrar. Eu perguntei: “aconteceu
alguma coisa?”. Ele respondeu, se colocando quase à minha frente: “não, estamos
abrindo caminho para o pessoal da Olimpíadas”. Eu replique: “cara, eu tenho que
dar aula e estou atrasado”. Ele deu de ombros, expressando um “e eu com isso”,
como se eu nada tivesse dito. A rua quase vazia, sem sinal de qualquer carro
oficial, ônibus de atleta ou afins, e eles segurando o trânsito (tanto de
veículos como de pedestres) – esperei uns dois minutos e falei: “tenho que ir”
e fui andando; pelo visto, ele não podia sair do posto dele, então meio que
fingiu de bobo e continuou se preocupando mais com os carros (caso contrário, como
eles são, era possível eu ter levado um mata-leão da vida de graça). Enfim, esse
é o nosso país: segure os professores para os atletas da casa do caralho
passarem! E danem-se os alunos, né, pra variar.
Ps: por coincidência, quando saí passei em uma lanchonete e vejo a seguinte cena,
lamentavelmente corriqueira: entra um PMerda, chega perguntando pelo suco de
laranja. Um funcionário corre todo apressado, como uma mucama ao comando da
sinhazinha, e traz uma jarra de 5 litros e quase um saco de copos descartáveis
fechado. Ao pegar o suco, ele pergunta: “quanto é?”. O dono do estabelecimento responde
o clássico: “que isso, não é nada!”. (Será que ele daria um copo de água para
mim e para você?). Sem comentários.
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