“Ditadura do Proletariado”, entendida como uma opressão sobre a população, é uma das ideias mais
imbecis e estúpidas que foi difundida loucamente nos últimos tempos, quiçá a mais! Por duas razões primordiais: 1- Não condiz em absolutamente nada com a verdade;
2- As pessoas que o usam, não fazem a menor ideia do que estão falando. Por
essas e outras, podemos afirmar, sem receios: a direita nunca foi tão burra como
hoje em dia. Cada vez mais, em qualquer tema que seja, quando se diz “debate
entre a esquerda e a direita”, podemos traduzir por: “debate entre quem pensa e
quem não pensa”.
Venho escutando essa bobagem vinda da boca de figurões da
direita e semianalfabetos coxinhas há um bom tempo, mas o que me motivou a
escrever esse breve texto (não precisa gastar muitas palavras para refutar isso)
– entenda-se, o que me motivou como a “gota d’água” final que transborda o copo
– foi o programa Fla-Flu da TV FOLHA, do dia 07/07/2016, sobre o feminismo, onde as convidadas para o debate eram Sâmia Bomfim
(não escrevi errado, o nome dela é esse mesmo, m antes de f, rs), como
representante da esquerda, a favor do feminismo, e Sara Winter, como
representante da direita, contra o feminismo. Não vou aqui debater ou comentar o
conteúdo da entrevista, embora tenha sido o estopim desse texto, não é meu propósito,
até porque é apenas mais um debate que se enquadra na definição apresentada
acima para esquerda contra direita, a saber, debate entre quem tem um cérebro
dentro da cabeça contra quem não tem. [Debate realmente pouco produtivo, salvo
para escancarar ainda mais a falta de argumento e o pensamento raso dos ditos “direitistas”,
mas quem quiser ver, segue o link: “Fla-Flu:Ex-Fêmen diz que ativistas inventam casos de violência; feminista nega”].
A Sara Winter, entre muitas outras inúmeras besteiras (como
dizer que o PT é esquerda, que mesmo em caso de estupro não deve ser permitido
abortar, negar as conquistas históricas dos movimentos feministas, defender
Bolsonaro e Alexandre Frota, os partidos que impõem a ideologia cristã, e etc.) e
flagrante falta de informação, em um determinado momento soltou o parvo clichê da
direita para atacar sua debatedora: “Ditadura do Proletariado”. Vejamos então
que prova de estultice é usar essa expressão, sem conhecer uma linha do texto, de Karl Marx (1818 – 1883), em que ela aparece. Primeiramente, como todos sabem, o
termo proletariado, nesse sentido, é oriundo do filósofo,
portanto, o intuito dessa expressão é atingir a filosofia marxista (ou
comunista, como preferirem). Mas o tiro sai pela culatra, pois só mostra como
os que a usam não conhecem absolutamente nada de Marx (eles não conhecem nada
de nada, mas enfim). Muito bem, para isso ficar claro, é importante fazer a
pergunta elementar: “quem é o proletariado?”. Aula básica de sociologia: de acordo
com a visão marxiana, proletariado é a classe que só tem a força de trabalho
para vender; o termo tem origem no conceito de “prole”, filhos, quer dizer, o
proletariado é aquele que só tem a força de trabalho própria e de seus filhos. “Ditadura”
dispensa definições (espero que saibam ao menos isso, caros coxinhas).
Se se pode falar de ditatura propriamente dita no mundo, é a
ditadura do capital; onde se morre de fome com comida sobrando ao lado, onde se
mora na rua, onde a saúde e a educação são mercantilizadas, em suma, onde o ter
supera em todos os sentidos o ser. Modelo insustentável e insano que hoje é
tido como natural. Mas não vou entrar nessa seara para não me alongar muito,
basta ver os fatos, olhar o mundo e não o seu “mundinho”. Poucos ditam sobre
muitos, por assim dizer.
Tomemos apenas o caso do Brasil. Segundo o IBGE de 2010 (o
último realizado), pouco mais de 3% da população brasileira ganham acima de 10
salários mínimos (diga-se de passagem, 72% ganham menos de 2 salários mínimos,
na época R$ 1020,00 – não é necessário prolongar para dizer que se trata de salário que
não dá nem para subsistir de forma plena). Nesse sentido, poderíamos dizer que
o “proletariado” é representado por ao menos 97% da população no nosso país! (Ao
menos, pois tem os que ganham um pouco mais, porém, não são donos dos meios de
produção – fator que basicamente faz de alguém um membro da burguesia). Você pode
estar pensando que o Brasil tem mais empresários do que isso, mas o que está em
conta não é isso, mas sim quem são de fato os donos dos meios de produção, que certamente
não ganham menos do que 10 salários mínimo por mês – o chamado pequeno empresário,
que via de regra ganha menos do que isso, que trabalha o dia todo na sua loja, também
oferece é a sua força de trabalho, em última instância; quem vende as matérias
primas, as ferramentas e/ou os produtos fabricados para a pequena empresa deste é que são os
legítimos burgueses. Em uma palavra, por si só, ter um comércio pequeno não o faz ser
parte da classe burguesa. Ora, dessa forma, dizer “Ditadura do Proletariado”, achando que a população vai sofrer, é
insano, percebe? É como dizer que você é ditador de você mesmo! Afinal, estamos
falando de ao menos 97% da população! (Sejam assalariados ou pequenos
empresários). Reclamar de um (possível) Estado que apoia o proletariado é
praticamente o mesmo de reclamar de um Estado que apoia a todos. O correto seria dizer governo (do povo para o povo). Dizer o contrário é de uma ignorância galopante! "Ditadura" apenas no sentido de que a exploração do homem sobre o homem não é mais negociável. Quem usa essa expressão com o sentido negativo, inverso e lunático, está
defendendo os privilégios de uma minoria numericamente insignificante, em
detrimento de todos dos demais. Absurdo é os burgueses ditarem as regras como
reis, o que infelizmente acontece hoje. (Vale lembrar que, ainda segundo o IBGE 2010, apenas 0,9 % da população ganha mais de 20 salários mínimo, a maioria herdeiros de meios de produção – grupo esse que poderia ser enquadrado na chamada "alta burguesia", que é quem realmente comanda o país).
Meus caros, sintetizando, esse sentido do termo não passa de uma
falácia grosseira, sem pé nem cabeça, sem qualquer sentido válido. É impressionante
como um lixo assim é propagado, muitas vezes até pelos próprios proletariados
alienados que não se veem como tais, que defendem a elite dona dos meios de
produção e seu cruel sistema, sem, se quer, fazer parte dela. Francamente, a
direita já foi mais inteligente, ou melhor, menos burra. Hoje esses energúmenos
delirantes basicamente só repetem meia dúzia de conceitos deturpados e/ou furados que ouviram por
aí, e ainda com ares de erudição. Eles são a sua própria refutação.
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